A superlotação dos hospitais por conta do agravamento da pandemia no Brasil tem produzido uma situação de colapso do sistema de saúde. A falta de leitos não afeta apenas os infectados por covid-19, mas impede internações por outros motivos, como as lesões decorrentes da prática esportiva.
O meia Geovani, da Portuguesa, sofreu uma ruptura no ligamento cruzado anterior em partida contra o Água Santa em 10 de março. Diante da necessidade de realização de procedimento cirúrgico e da superlotação dos leitos hospitalares, o clube teve que improvisar. Ao invés de encaminhar o atleta para um hospital mais preparado para as intervenções necessárias, a Lusa agendou a cirurgia no Hospital Ruben Berta, que é especializado em otorrinolaringologia e cirurgias plásticas.
Outro caso recente foi uma contusão sofrida pelo goleiro Carlos Eduardo, do Sport Recife. Um choque contra o zagueiro do próprio time produziu um trauma no rosto com concussão cerebral. Exames realizados, foi constatada a necessidade de realizar intervenção cirúrgica. Com uma taxa de ocupação de leitos superior aos 80% em Pernambuco, o clube se limitou a divulgar que o procedimento seria realizado em hospital especializado, porém sem divulgar o local.
Além da falta de disponibilidade de leitos, os clubes temem internar seus jogadores em hospitais que atendem casos de covid-19. O distanciamento social é simplesmente impossível no futebol e diversos surtos de infecção têm ocorrido nos clubes ao redor do planeta. O total descaso das entidades esportivas no Brasil torna a situação especialmente dramática.
Um estudo realizado na USP analisou quase 30 mil testes aplicados em atletas e outros profissionais ligados ao futebol durante o ano de 2020 no estado de São Paulo. O índice de infecções observado foi de 11,7%, equivalente ao encontrado nos profissionais de saúde que atuam diretamente com pacientes infectados por covid-19. Os próprios autores ainda indicam que o quadro deve ser até pior, pois não tiveram acesso ao conjunto total dos testes realizados no estado.
Em comparação com números registrados em outros países, como Alemanha, Dinamarca e Catar, foi identificado aqui um índice de infecção entre 3 e 24 vezes maior. Outro fato evidenciado pelo estudo é que a falta de uma política de rastreamento da transmissão do vírus impede medir o impacto social das infecções ocorridas no futebol. Ou seja, é impossível calcular como as infecções por covid-19 atingiram o público externo aos profissionais do futebol, incluindo as famílias dos profissionais e seus círculos sociais.





