Cinquenta e dois candidatos podem ser deixados para trás quando João Doria furar a fila e tiver seus milagres atestados pelo Vaticano antes dos demais governantes brasileiros. Esses 52 bem-aventurados que estão esperando o aval de sua santidade podem ter que esperar mais um pouco para apensarem a seus nomes o prefixo “santo” ou “são”. Os milagres de São João Doria (que me perdoem a heresia por conferir-lhe o título antes que o santo padre o faça), bem como sua sabedoria e benevolência, são comprovados diariamente pela imprensa burguesa que se converteu em “dorista” já há muito tempo.
O feito mais recente de São Doria, a vacina, se desdobrou em uma onda de milagres nunca vistos. Desafiando façanhas com pães e peixes, Doria, ouso dizer, fez mais: multiplicou e dividiu uma vacina que não existe. Transformou uma amostra grátis importada em produto nacional de larga escala. Salvou todo o povo brasileiro com uma câmera fotográfica e uma simples ampola concedida a ele a título de degustação. Fê-la circular o país inteiro e, mesmo que não chegassem mais de 10 unidades em alguns recantos escondidos de nossa terra, sua palavra garantiu paz e tranquilidade: fará mais pelo Brasil do que já está fazendo pelo povo paulista quando o elegerem presidente. Esta promessa vem a nós pela palavra dos profetas impressos e elétricos, que anunciam que Doria está prestes a livrar o Brasil de todo o mal.
Mas seus milagres não se reduzem apenas a proezas matemáticas. No limiar entre ciência e fé, São Dória garantiu ao povo de seu Estado que trabalhar os livraria da doença e, ao mesmo tempo, combateu a preguiça e a ociosidade mostrando o caminho do inferno aos infiéis que ousassem festejar o fim do ano. Fez o vírus desaparecer sem álcool gel e testes e a doença deixar de se propagar e clamar vidas durante a campanha eleitoral.
São Doria protagonizou ainda uma passagem importante da teologia. Dizem alguns apócrifos que Doria nem sempre foi benévolo e providente. Teria chegado às alturas de onde fala hoje a todo o Brasil trilhando o mesmo caminho que levou seu antagonista ao Planalto. Dizem alguns que Doria foi uma vez um demônio e que juntou-se a “você sabe quem”, mas, diferentemente de Lúcifer, ascendeu do inferno à terra para reinar em paz os paulistas com asas e auréola.
É assunto controverso entre jornalistas, colunistas e editorialistas – esses profetas e teólogos do presente. Sabem, no entanto, perfeitamente conviver com a santa contradição. Não há mal que intimide Doria, pois do mal conhece profundamente. Doria é bem e mal. É Bolso e… Doria.