O Ó do Borogodó é um bar que existe desde 2001 no Bairro Pinheiros em São Paulo, em uma pequena rua atrás de um cemitério, local já quase todo tomado por prédios. Conhecido pela efervescência cultural e pela apresentação de música ao vivo diariamente, o espaço vem resistindo aos empreendimentos imobiliários que tomaram conta dos arredores. O bar divulgou o trabalho de artistas como Fabiana Cozza, Dona Inah, João Borba (em memória) e Adriana Moreira, que estão entre os mais relevantes do samba de São Paulo, tornando-se uma referência em rodas de choro e samba. Além disso, é um bar que emprega músicos permanentes da casa e costuma receber visitas ilustres, como o violonista Yamandu Costa, que faz questão de visitar o Ó sempre que vai a São Paulo. As paredes de tijolo e a ausência de palco tornam o local agradável e favorável à descontração, fazendo de lá um dos pontos de encontro mais autênticos da música popular na maior cidade do País.
Há um ano, desde o início da pandemia, o Ó do Borogodó permaneceu fechado e foi acumulando dívidas. Os proprietários do imóvel moveram uma ação de despejo cobrando o pagamento de 120 mil reais de aluguel atrasado. No Domingo retrasado, Stefania Gola, sócia do bar, anunciou nas redes sociais que foi citada e deve deixar o imóvel em um prazo de 15 dias, caso não consiga pagar a dívida. A repercussão foi enorme. Diversos artistas e frequentadores do espaço se mobilizaram e criaram uma campanha para arrecadar fundos que garantam o pagamento das dívidas e manutenção do local fechado por mais um ano, até que não seja mais necessário o isolamento. Para saber mais e contribuir acesse a página da campanha através do link: https://linklist.bio/borogodo
O caso do Ó do Borogodó não é um caso isolado. A área da cultura, que sempre foi desfavorecida com a ausência ou insuficiência políticas públicas é especialmente atacada pelo governo golpista de Bolsonaro, que acabou com o Ministério da Cultura. Este foi um dos setores mais afetados pela pandemia. Sem poder encontrar seu público, sem apresentações, os artistas se viram de uma hora para a outra impossibilitados de trabalhar.
Uma das medidas fundamentais para garantir a sobrevivência da população durante a quarentena e possibilitar que as pessoas ficassem sem sair de casa, sem se expor ao risco de contaminação, era garantir um auxílio emergencial suficiente para a população se manter em casa e proibir demissões pelo período que fosse necessário. Governos estaduais e prefeituras dizem para as pessoas ficarem em casa, mas nunca garantiram que isto fosse efetivamente possível.
Para os pequenos comerciantes este Diário sempre alertou também para a necessidade da suspensão de cobrança de aluguéis. De portas fechadas, o comércio não gera receitas. Diante de restrições cada vez maiores e mais repressivas, a manutenção do comércio se tornou impossível. São milhares de estabelecimentos pelo país que fecharam as portas no último ano, contribuindo para o aumento ainda pouco falado do desemprego no país.
O aluguel de imóveis é uma “atividade” que não contribui em nada para o desenvolvimento do país, alimentando a especulação financeira no setor imobiliário e a concentração de capital. Trata-se de um dos setores mais parasitários da economia. Em geral, quem conseguiu acumular imóveis garante uma renda extra, massacrando os inquilinos e surrupiando uma parte significativa de seu salário. Muitas vezes é ainda pior. Bancos que gerenciam fundos de investimento podem possuir vários imóveis e atuar diretamente na Bolsa de Valores. É assim que atuam de forma insana o mercado financeiro, através dos bancos. Estes são os capitalistas.
Os governos tiveram mais de um ano para dar esse suporte aos pequenos comerciantes. O Ó do Borogodó conseguiu sobreviver esse tempo todo. Caso houvesse uma política séria dos governos, o bar, como todos os demais estabelecimentos, não estaria passando por dificuldade agora. Os governos tiveram tempo para agir e nada fizeram.