Em reportagens publicadas no último domingo (10), o Guia do Estudante (editora Abril) e o G1 (Globo) relatam a primeira fase da Fuvest, prova de concurso vestibular de seleção para a universidade de maior prestígio no País, a Universidade de São Paulo (USP).
Dois dos principais núcleos da imprensa golpista nacional, os veículos, de forma coerente entre si, expressam a agressividade da campanha pela retomada de toda a atividade econômica que ecoa da burguesia e fazem verdadeiras apologias à realização das provas em plena pandemia e no estado mais duramente atingido, aglomerando dezenas de milhares dentre estudantes e fiscais de prova.
A primeira é um recorte de entrevistas realizadas com vestibulandos e seus acompanhantes, destacando belos exemplos de pessoas que viajaram de outros estados para São Paulo para fazer a prova. Da tranquilidade de uma estudante e de sua mãe em relação ao risco de contaminação, da confiança na precária proteção oferecida pelas máscaras e mesmo de táticas dos estudantes para a realização das provas.
A matéria, acompanhando a campanha geral pela reabertura, furta-se a discutir a necessidade deste risco, implicitamente aprovando a realização da prova e mostrando uma situação de normalidade, com vistas a uma vacinação e na qual a iniciativa individual de prevenção seria condição necessária e suficiente para frear a pandemia – a mesma propaganda perversa e demagógica organizada em torno das frases de efeito “Use máscara” e, anteriormente, “Fique em casa”. Por um lado culpa a população pela ameaça e pelo impacto da doença e, por outro, a trata de forma leviana quando o assunto é a defesa dos interesses dos grandes capitalistas.
A segunda, mais objetiva, apresenta detalhes sobre as adaptações do vestibular a esta crise, os tradicionais informes aos estudantes que irão prestar a prova e algumas outras informações. Nos próprios vídeos embutidos na página podem ser observadas quebras aos protocolos de distanciamento social, o que foi divulgado de forma muito mais explícita e em tom de denúncia por usuários de redes sociais. A denúncia que cabe, porém, é da própria campanha pela reabertura, que vem incentivando o relaxamento das medidas preventivas de muitas pessoas, em oposição à campanha terrorista pelo isolamento nos momentos de pico da pandemia.
De forma mais ou menos encoberta, ambas procuram naturalizar a realização da prova, indicando que basta a adoção dos protocolos da dita “nova normalidade” para permitir a gradual retomada de toda e qualquer atividade, o que coloca água no moinho da campanha pela reabertura das escolas, um caminho cujas consequências já são de conhecimento público.
A burguesia e seus representantes políticos brincam com a vida do povo, enquanto se equilibram entre uma revolta popular de grandes dimensões e a própria ruína financeira. O acesso à universidade – longe de ser um simples resultado dos sonhos ou do mérito de cada indivíduo, tem como principal barreira os vestibulares – que restringem este direito, tornando-o privilégio de modo geral, a uma pequena minoria da população. Esta barreira deve ser superada no processo de luta por uma real democratização do acesso ao ensino superior e contra à volta as aulas.