O Banco Itaú apresentou, no último dia 22 de dezembro, à Comissão de Organização dos Empregados (COE) a proposta do programa de remuneração variável. Como não poderia ser diferente, o banco tenta aprofundar os ataques através desse sistema, que é um golpe na política de remuneração salarial da categoria, como forma de aumentar a exploração dos seus funcionários.
Conforme informações do COE, “para a diretora do Sindicato e integrante da COE, Izabel Menezes, houve pequenos avanços em relação à forma atualmente em vigor para o cálculo do valor a ser pago, mas ainda precisa avançar muito. ‘Até aqui, só recebiam algum valor aqueles que atingissem 1 mil pontos de uma meta desumana e inalcançável a cada mês. O banco fez duas mudanças: uma ruim, que foi passar o pagamento mensal para trimestral, mas considerando a média destes três meses para ao cálculo, compensando um mês que fosse de menor desempenho’”, e continua, ‘“a COE defende que todos recebam mensalmente e que o valor seja proporcional a este desempenho. O coordenador da Comissão, Jair Alves, explicou que muitos trabalhadores já programam suas contas contando com este dinheiro dentro do mês. ‘Nós queremos a manutenção do pagamento mensal. Para a remuneração semestral, as alterações são o fim da curva forçada (Ranking entre gerentes), o fim da elegibilidade e a inclusão de indicadores de produção (créditos e produtos).’” (Site bancariosrio 23/12/2021)
Nos últimos anos, as campanhas salarias da categoria bancária tem deixado os salários dos trabalhadores praticamente congelados. Os “reajustes” dados pelos banqueiros, e seus governos, nas últimas duas décadas, quando não foi 0%, como na famigerada era FHC, com a política de abono, sempre foram muito abaixo dos índices calculados pelas organizações de luta dos bancários, como por exemplo nos últimos 4 anos, onde os banqueiros vêm reajustando os salários com índices que variam entre 0,5% a 1,5%.
O salário de ingresso de um bancário hoje é de míseros R$ 2.223,60. Se em 1995 o salário inicial de um bancário equivalia a 7,32 salários mínimos, hoje vale apenas 2 salários. Ou seja, o salário de ingresso dos bancários, que hoje não deveria ser menos do que 8 mil reais, nesses últimos 26 anos teve uma perda no poder aquisitivo de 360%.
Para manter os salários congelados e evitar o aumento real na categoria, os patrões se utilizam de instrumentos do tipo Participação nos Lucros e Resultados (PLR) e da tal remuneração variável que, além de evitar o aumento tem, também, a finalidade de dividir dos trabalhadores.
Ao contrário do que apregoa os banqueiros, tanto a PLR, quanto a remuneração variável, serve como um meio de evitar aumentos salariais, mantendo os salários congelados e, portanto, desvalorizando o poder de compra dos mesmos na medida em que aumenta a inflação. É também, um instrumento de barganha do patrão na hora que a categoria for discutir o aumento salarial. A empresa, manipulando as dificuldades econômicas dos trabalhadores criados pela sua política de arrocho salarial, desvia a reivindicação salarial para que os trabalhadores se contentem com esta espécie de abono, que não incide na folha de pagamento, não é incorporada nos salários, nem nos seus benefícios e direitos (FGTS, férias, décimo terceiro, etc.).
Esse artifício também é utilizado para desviar a atenção dos trabalhadores, opondo-a a qualquer luta por aumento salarial. Ou seja, pode ser como uma válvula de uma panela de pressão. Todas as vezes que os trabalhadores quiseram ir à luta contra o arrocho salarial, os patrões podem lançar mão da PLR ou da remuneração variável para convencer a parcela mais atrasada da categoria a aceitar um ganho imediato e ilusório, abrindo mão da luta pelos salários.
Além disso, esses tipos de abonos, travestidos de PLR ou remuneração variável é um instrumento político dos patrão e tem como natureza dividir os trabalhadores que, estimulados pela perspectiva de uma migalha a mais em seus orçamentos do mês, se colocarão à disposição das metas exigidas pelo patrão; e essas metas que sempre envolvem uma maior produtividade tendem a criar uma acirrada competição entre os trabalhadores, que trabalharão mais intensamente para poderem aumentar sua parte nos “lucros”. Tal ferramenta dos patões divide os trabalhadores em torno da busca de uma melhor colocação na empresa e consequentemente o crescimento da dominação patronal sobre o setor mais atrasado da categoria e o abandono da luta unitária dos trabalhadores contra os patrões. Nesse sentido é uma arma ideológica dos patrões contra a unidade dos trabalhadores. Na consciência do trabalhador, a unidade deles contra os patrões, ou seja, contra a exploração capitalista e, portanto, contra o lucro capitalista, é substituída pela luta em defesa do lucro da empresa porque, deste modo, ao aumentar o lucro aumenta também a fantasiosa “participação” do trabalhador sobre o setor mais atrasado da categoria e o abandono da luta unitária dos trabalhadores contra os patrões.
Ao aceitar esses mecanismos de exploração da classe trabalhadora, os sindicatos estão estimulando a divisão entre os trabalhadores na luta contra o capital e impulsionando uma falsa unidade entre os trabalhadores e os patrões na defesa do lucro capitalista.
Nesse sentido a luta dos trabalhadores passa necessariamente pela a reposição de todas as perdas salarias. As mesas de negociações entre patrões e empregados devem ser dar nessa perspectiva, primeiramente. A luta por “alteração” na forma de pagamento da PLR ou remuneração variável é um aspecto secundário do movimento de luta da categoria bancária.