O governo militar de Jair Bolsonaro e o governo estadual, do bolsonarista Marcos Rocha, usam mais uma vez do assassinato e da repressão contra a Liga dos Camponeses Pobres em Rondônia. De acordo com as denúncias realizadas pelo site “De Olho nos Ruralistas – observatório do agronegócio”, através da matéria “Governo de Rondônia confirma presença de atirador em helicóptero, contra camponeses”, mesmo com decisão judicial dada pelo STF, que declarou ilegal a reintegração de posse, ocorrida há dez dias, militares continuam na área gerando tensões e ameaçando os sem terra.
Desde agosto, cinco trabalhadores sem terra, ligados à Liga dos Camponeses Pobres (LCP), acampados, morreram em operações de guerra determinadas pelo governo estadual. Através de disparos efetuados por atiradores de elite aéreos em helicópteros do governo do Estado. Com os assassinatos seguindo em grande escala, pressionada pelas denúncias de violações a direitos humanos na reintegração de posse do Acampamento Tiago dos Santos, em Nova Mutum Paraná, distrito de Porto Velho, a Ouvidoria da Secretaria de Segurança Pública de Rondônia enviou denúncias de violações a direitos humanos às Polícias Civil e Militar, instituições que não ligam a mínima para os trabalhadores sem terra. A Polícia Militar a serviço dos grandes fazendeiros restringiu o acesso a alimentos, destruiu muitas casas e roças e coagiu até mesmo crianças.
Os PMs juntamente com a Força Nacional de Segurança Pública (FNSP) tem participado das operações contra os camponeses, há também inúmeros jagunços e capangas dos fazendeiros, organizados em milícias altamente armadas, todo este aparato é o principal responsável por todas essas violações. De acordo com depoimentos de diversos camponeses, mais abusos foram cometidos ao longo da reintegração de posse, suspensa por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF), como apreensões de veículos e objetos de trabalho sem qualquer justificativa e ameaças e a entrada sem autorização em reuniões da comunidade.
Mesmo depois de suspensa a reintegração de posse e da determinação que autorizava o retorno das famílias para a área, dada pelo Supremo Tribunal Federal, a Polícia Militar de Rondônia continua a cercar a região do acampamento. Com táticas fascistas, a Polícia Militar é acusada de realizar a contaminação de poços de água com combustível. Trabalhadores sem terra foram expulsos de suas casas, que passaram a ser usadas como base e moradia dos policiais. Os PMs também são acusados de terem matado animais de criação dos moradores para se alimentar.
O site Observatório do Agronegócio fez quatro perguntas à Polícia Militar, com base nos depoimentos dos camponeses: sobre a restrição à entrada de alimento para os acampados, que tiveram suas roças destruídas; a destruição de casas e o uso de outras como centro de operações policiais; a divulgação de fotos de crianças e adolescentes da ocupação em redes sociais com objetivo de constranger as famílias; interrogatórios ilegais de crianças e adolescentes feitos por PMs. Como de costume, a PM não respondeu à nenhuma.
Mostrando que está determinada a defender os capitalistas rondonienses do agronegócio, a Secretaria de Segurança Pública confirmou que usou três helicópteros, um deles com atiradores em sua guarnição, durante as operações contra o acampamento. Foram estes helicópteros que, segundo os advogados da Abrapo, mataram os cinco camponeses.
Gedeon José Duque e Rafael Gasparini Tedesco foram mortos a tiros. Dois meses antes, Amarildo Aparecido Rodrigues, 49 anos, seu filho Amaral José Stoco Rodrigues, 17 anos, e Kevin Fernando Holanda de Souza, de 21 anos, foram assassinados pela PM dentro do acampamento Tiago dos Santos. Segundo sete testemunhas que não foram atingidas pelos disparos, ouvidas pelos advogados, dois helicópteros foram utilizados no ataque.
Todo o morticínio capitalista na região está a serviço da reintegração de posse da área que foi pedida pela Leme Empreendimentos. A empresa pertence ao fazendeiro Antônio Martins dos Santos, conhecido como Galo Velho e considerado o maior grileiro da Amazônia Ocidental; e a seu irmão, o advogado Sebastião Martins dos Santos.
Os dois são alvo, desde o ano passado, de uma operação do Ministério Público Federal que investiga a grilagem de terras. Entre os investigados no caso estão um juiz e um servidor federal. A quadrilha teria faturado pelo menos R$ 330 milhões com crimes agrários entre 2011 e 2015, em Rondônia. Em razão desta investigação, o registro da fazenda alvo da reintegração de posse está bloqueado. Galo Velho é citado como grileiro desde o Livro Branco da Grilagem, publicado no fim dos anos 90.
No entanto, a LCP resiste organizadamente e bravamente, a própria secretaria de Segurança admitiu que a organização dos camponeses dificultou a ação policial. Como exemplo, citou a “ponte de madeiras do Rio Jacu, na linha 29b Km 60, que foi queimada”. Os trabalhadores, de acordo com a reportagem do site, também organizam linhas de defesa.