No momento em que completa 38 anos de sua fundação (28/8/1983), a Central Única dos Trabalhadores (CUT) está realizando encontros regionais preparatórios para a Plenária Nacional da entidade que acontece em outubro.
É o caso da 16° Plenária Estatutária da CUT-SP ‘João Felício’ que ocorreu nos dias 27 e 28 passados, cujo nome (da mesma forma que o evento nacional), homenageia o ex-presidente da CUT e da APEOESP, João Felício, morto no ano passado.
Muito aquém da realidade
Evidenciando o descompasso do movimento sindical e da direção da sua principal entidade em relação à situação politica na qual centenas de milhares de pessoas saíram às ruas desde maio passado em grandes protestos contra o governo Bolsonaro e por suas reivindicações e também em relação ao cotidiano dos trabalhadores que – em sua esmagadora maioria – são forçados a saírem de casa para trabalhar ou procurar emprego e quando na cidade de São Paulo já se impôs a reabertura de praticamente tudo (comércio, igreja etc.), a Plenária realizou-se, pela primeira vez, no formato de videoconferência, com a “participação” de mais de 200 dos 312 delegados inscritos, em sua quase totalidade dirigentes sindicais. Uma sub-representação, uma vez que a CUT-SP tem cerca de 300 sindicatos filiados no Estado e havia sindicatos com mais de 70 delegados inscritos (APEOESP), o que significa que dezenas de sindicatos não tinham delegado algum e que os delegados de base (que não integram as diretorias, com os da Corrente Sindical Nacional Causa Operária), eram uma raridade na Central criada, justamente, como parte da luta contra a ditadura e contra a burocracia sindical que bloqueava o avanço da luta da classe operária na década de 80 do século passado.
Com esse formato, a Plenária ficou muito longe de se constituir em um verdadeiro fórum de debate e de organização da luta dos trabalhadores da parte da maior e mais importante organização dos explorados do País, no momento em que se aprofunda a crise e os ataques contra os trabalhadores por parte do regime golpista e quando, mais do que nunca, é preciso enfrentar a direita golpista por meio da mobilização, nas ruas, dos trabalhadores.
Mobilizar contra a ditadura de Doria e Bolsonaro
Na abertura do encontro paulista da CUT, falaram além de dirigentes sindicais e movimentos sociais, o ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, e o ex-presidente da República, fundador da CUT e a maior liderança popular do País, Luiz Inácio Lula da Silva que destacou a importância da CUT, assinalando que “a CUT é uma peça extraordinária nesta máquina de transformação social que é o povo brasileiro”.
O principal aspecto positivo do encontro é que o mesmo, de modo unitário, reafirmou a decisão adotada no decorrer da semana de realizar o ato por Fora Bolsonaro/Grito dos Excluídos, do dia 7 de setembro, no Vale do Anhangabaú, no centro da capital paulista, a partir das 14h, contra a decisão do governador tucano, João Doria (PSDB), que anunciou sua proibição, buscando entregar a cidade para que o presidente ilegítimo Jair Bolsonaro – com quem Doria fez “dobradinha” nas eleições de 2018, como “BolsoDoria”- desfile com seus apoiadores na defesa do aprofundamento do regime golpista, de uma ditadura, que Dória e os setores mais poderosos da burguesia golpista gostariam de ver comandada por uma candidato da “terceira via”, preferencialmente, o próprio governador.
De um modo geral, e de forma contraditória, as direções cutistas apontam no caminho da mobilização mas criam obstáculos para uma participação das bases dos sindicatos até mesmo nos fóruns da Central. Uma situação que, obviamente cria barreiras ao desenvolvimento de um amplo processo de luta no qual a CUT pode e deveria ter um papel de liderança.
Como destacou o presidente Nacional da CUT, Sérgio Nobre, “se a gente não quer mais viver esta tragédia que o Brasil e os brasileiros e brasileiras estão vivendo, este governo tem que acabar!”. Mas, sem dúvida, para isso é preciso organizar e mobilizar centenas de milhares e milhões de pessoas, o que não será feito com os que se pretendem como dirigentes da luta dos trabalhadores mantendo-se distante das mobilizações, no mobilizando nos locais de trabalho, criando obstáculos à participação de um amplo ativismo, fundamental na luta para acabar com o governo.
Superar a burocracia e mobilizar
Em seus pronunciamentos, a direção da CUT “reforça a convocação para os atos do dia 7 de setembro em todo o Brasil, ressaltando também as bandeiras prioritárias de luta que serão levadas às ruas neste dia, como salário digno, emprego e trabalho decente; combate à carestia, ao aumento da inflação e à fome; e contra a reforma Trabalhista de Bolsonaro (MP 1045) que destruirá ainda mais os direitos conquistados pelos trabalhadores ao longo de anos de luta“.
É preciso ir além das palavras.
Em SP e em todo o País, é preciso que a CUT assuma seu papel de liderança no Movimento Fora Bolsonaro. Contra a tentativa de Doria de bloquear a mobilização, a CUT deveria aprovar uma mobilização massiva, realizar uma intensa atividade de agitação nas fábricas e demais locais de trabalho, nos bairros operários e locais de grande concentração; que cada sindicato filiado coloque, pelo menos, um ônibus de trabalhadores para lotar o Vale do Anhangabaú, no dia 7/9, e dar um salto à frente na mobilização do setor mais combativo dos explorados brasileiros, a classe operária e suas organizações de luta.