No dia 25 de novembro, a Organização Internacional de Polícia Criminal, mais conhecida como Interpol, escolheu, em congresso, os seus dirigentes para o próximo período. Os destaques foram a escolha de um notório torturador, Ahmed Naser Al-Raisi, para presidente, e do brasileiro Valdecy Urquiza, delegado da Polícia Federal, para o cargo de vice-presidente. É a primeira vez que o Brasil ocupa um cargo tão alto na organização.
Ambas as escolhas são muito significativas. A de um torturador para chefiar a Interpol é quase que uma regra. Se, nos Estados Unidos, uma instituição que carrega a palavra “democracia” no nome, como o National Endowment for Democracy (NED), é promotora de golpes de Estado em todo o mundo, o que esperar de uma polícia criminal comandada pelos norte-americanos?
A Interpol é controlada pelo imperialismo norte-americano e é a principal autoridade policial no mundo. É óbvio, portanto, que se trata de um aparato de repressão voltado para perseguir os maiores inimigos do imperialismo. George W. Bush, responsável por iniciar a guerra no Afeganistão, jamais foi procurado pela Interpol. Já o militante italiano Cesare Battisti e o ativista Julian Assange tiveram seus pedidos de prisão expedidos pela organização.
Aqueles que estão politicamente contrários ao domínio do imperialismo, afinal, são as maiores vítimas da Interpol. Se eventualmente a organização colocar algum criminoso comum em sua lista de procurados, trata-se de mera distração ou, como no caso de grandes narcotraficantes, um problema de concorrência econômica e controle político. Com a formação da Interpol, o cerco que o imperialismo e o stalinismo impuseram a Leon Trótski na primeira metade do século XX se torna uma prática institucional, prática e articulada.
Visto minimamente o que é a Interpol, percebe-se de imediato a sua ligação com a Polícia Federal. Tanto ela é ligada institucionalmente com a Interpol, atuando como um braço da organização no Brasil, com colaboração ricamente documentada, como a Interpol acaba servindo como uma via de articulação entre o imperialismo e a polícia investigativa no Brasil.
Já foi exaustivamente comprovado que os agentes da Polícia Federal agiram, durante todo o golpe de Estado de 2016, sob orientação e treinamento da CIA, a agência de inteligência do imperialismo norte-americano, criada para interferir em todos os países do mundo e para espionar o próprio povo norte-americano. A escolha de Valdecy Urquiza, por sua vez, vincula a Polícia Federal duplamente ao imperialismo: os policiais federais fazem parte do sistema de repressão e perseguição mais podre já visto na história, capaz de assassinar e torturar pessoas com o aval dos governos nacionais e de negar direitos fundamentais, como o de asilo político, a vítimas de ditaduras monstruosas.
O fato de que, pela primeira vez na história, um brasileiro foi escolhido para um alto cargo na Interpol cheira muito mal. A economia brasileira foi devastada pela irresponsabilidade e pelo golpismo da Polícia Federal, as eleições sofreram interferência direta de seus agentes e o presidente da República é conhecido por tentar utilizar a polícia investigativa para perseguir seus adversários. Se, justo neste momento, a PF é premiada, é por causa de seus serviços prestados ao imperialismo ao garantir o golpe no Brasil.