A direita que controla o Congresso e o sistema judiciário peruanos está em ofensiva para desestabilizar e derrubar o governo eleito de Pedro Castillo (Peru Livre). O Ministério Público solicitou a prisão preventiva do secretário-geral do partido,Vladimir Cerrón, pelo suposto crime de corrupção.
Vladimir Cerrón disse que é vítima de uma perseguição política e judiciária. Militantes do Peru Livre realizaram uma manifestação na quarta-feira (01), no centro da capital Lima, em apoio ao dirigente partidário.
A acusação refere-se a supostos desvios de recursos públicos quando Cerrón governou o estado de Junín, entre os anos 2011 e 2014. A promotora Mary Huamán pediu pena de prisão de 2 anos e 11 meses e perda dos direitos políticos.
A argumentação contra Cerrón centra-se na indicação de cargos de confiança para a gestão de determinados projetos governamentais. Huamán considera que houve irregularidades no direcionamento de verbas entre diferentes projetos.
No dia 27 de agosto, o Congresso outorgou voto de confiança para o gabinete ministerial de Pedro Castillo. Já no dia seguinte (28), sete sedes regionais do Peru Livre foram revistadas pela polícia, com a justificativa de um mandado de busca e apreensão sobre supostas irregularidades durante a campanha eleitoral.
Acusações de “corrupção” são um dos métodos principais da direita e do imperialismo para esconderem a luta política que visa a derrubada do governo Castillo. Este método foi utilizado em larga escala no continente como forma de acuar os governos nacionalistas burgueses (Brasil, Venezuela, Argentina, Bolívia) e avançar na política de golpes de Estado.
O editorial do jornal El Comercio (01/09) demonstra que a direita tem outras frentes de atuação contra o governo Castillo. Trata-se de levar adiante uma campanha de acusações de “machismo” e “misoginia”. O editorial “Um Governo machista” acusa o menosprezo em relação às mulheres como uma característica do governo.
A terceira vice-presidente do Congresso – instituição dominada pela direita – Patricia Chirinos afirma que as luta por igualdade de gênero e erradicação da violência contra as mulheres são antípodas em relação à atual administração. Acusações de violência verbal são feitas contra membros do partido governante Peru Livre e contra ministros.
Patricia relata no artigo acusações de “machismo” contra os ministros dos Transportes e Comunicações, Meio Ambiente, o presidente do Seguro Social de Saúde do Peru (Essalud) e o atual presidente do Conselho de Ministros. Além disso, ela declara que o governo é machista, porque de uma equipe ministerial de 19 integrantes, somente duas pessoas são mulheres e 76% dos cargos de confiança nomeados são compostos por homens.
O imperialismo mundial (em particular os Estados Unidos) está em ofensiva contra qualquer governo de tipo nacionalista, mesmo que moderado, de forma a garantir o alinhamento com seus interesses nos países latino-americanos. Para levar desestabilizar o regime, é preciso dispor de diversos recursos políticos. A campanha de acusações morais é sempre um meio de agrupar as forças direitistas e angariar apoio de setores das classes médias.
Percebe-se como o identitarismo é uma política reacionária. É, de fato, uma política fabricada pelo imperialismo, que nada tem de progressista. A direita golpista peruana, maior inimiga das mulheres e de todo o povo do Peru, passa-se, através da demagogia identitária, por defensora desses setores que ela mais ataca. No Brasil, vemos a mesma utilização do identitarismo pela direita (João Doria, o BolsoDoria, agora também é identitário!). Na Bolívia, Evo Morales foi acusado de machista durante a campanha golpista da direita, que culminou no golpe militar semifascista de 2019. Na Venezuela, Nicarágua, Cuba, Equador e fora da América Latina o identitarismo também é uma arma do imperialismo contra o nacionalismo burguês, contra os governos de esquerda e os trabalhadores.
A ideia, no Peru, é promover um golpe de Estado contra o governo recém-eleito de esquerda que derrotou a candidata do imperialismo Keiko Fujimori. Inclusive, existe a possibilidade de golpe militar.
O que chama a atenção é que Patrícia Chirinos (partido Avança País), bem como a direita peruana, não se preocupam em investigar a corrupção e a violação dos direitos das mulheres no período da ditadura militar fascista de Alberto Fujmori (1990-2000). Esta época foi marcada pela implacável repressão política à guerrilha Sendero Luminoso e aconteceram estupros de mulheres, assassinatos de camponeses e todos os tipos de atrocidades contra aqueles que apoiassem as ações da guerrilha.
Naturalmente que a direita não se preocupa com a questão das mulheres e tampouco está preocupada com a corrupção. Aliás, a direita é o setor mais corrupto da sociedade e se beneficia da existência de um regime político e econômico baseado na pilhagem e rapina da classe trabalhadora. As acusações de “machismo” e “corrupção” contra Castillo e seus ministros é uma forma de promover a instabilidade, nada além disso.
O imperialismo controla o sistema judiciário e o congresso peruano, em estreita associação com a direita e a extrema-direita. Todos os recursos disponíveis e acusações morais serão utilizados. O governo Pedro Castillo é “machista”, “misógino” e “corrupto”, conforme as acusações da promotora Huamán e da deputada Patrícia Chirinos. Bom mesmo eram os governos da direita neoliberal e da extrema-direita fascista peruana, modelos de ética, honestidade, transparência e equidade de gênero.
A experiência histórica comprovou que vale tudo para aplicar a política de golpes de Estado no continente.