No dia 14 de novembro foram realizadas na Argentina as eleições legislativas que substituem um terço do Senado e metade da Câmara dos Deputados, além de servirem como um termômetro para as próximas eleições presidenciais.
Assim como indicaram as eleições primárias, abertas, simultâneas e obrigatórias (conhecidas pela sigla PASO), o peronismo viu sua derrota se concretizando. A Frente de Todos, afiliada ao governo de Alberto Fernandez, ficou com cerca de 33,5% dos pontos, enquanto a oposição, o Juntos por el Cambio, contou com 42% — o grupo opositor direitista não só ficou na frente da Frente de Todos, como foi o mais votado em todo país.
O Juntos por El Cambio é a coligação do ex-presidente neoliberal Mauricio Macri, e viu sua quantidade de votos crescer em conjunto com a queda da Frente de Todos — é a primeira vez em 38 anos que o peronismo não tem maioria no Senado.
O cenário político na Argentina é instável. A crise se acentua a cada dia e os efeitos da política neoliberal no país são muito agressivos, assim como a polarização que, por sua vez, expressa-se pela cada vez maior radicalização da população. Apesar desse fator, a esquerda argentina não parece atender aos anseios do povo, capitulando frente às suas reivindicações e fazendo com que qualquer resquício de uma política de esquerda seja desintegrado.
O que mais evidencia esse fato é a política de Alberto Fernández. Eleito pela popularidade de sua vice, Cristina Kirchner, Fernández, apesar de ser caracterizado como esquerda, tem feito inúmeros acordos com a direita e provou que realmente não é uma figura popular, mas sim um fantoche dos banqueiros. Isso ficou especialmente claro com a crise aberta durante as PASO, na qual Kirchner denunciou a inércia do governo em atender as reivindicações da população. O presidente inclusive chegou a anunciar que está iniciando a segunda fase de seu governo e que irá tentar aproximação com a oposição e em breve começará a resolver as questões pendentes com o Fundo Monetário Internacional (FMI).
A crise aberta nas PASO em setembro poderia ter sido aproveitada por Kirchner para finalmente se livrar de Fernández e aproveitar a radicalização das massas, garantindo assim uma mudança de rumo um pouco mais à esquerda e nas mãos do povo. Pouco tempo depois, entretanto, apesar de suas inúmeras considerações em relação ao governo Fernández, Kirchner voltou a trabalhar normalmente e o presidente continua aplicando sua política, cada vez mais à direita.
Tudo isso culminaria no resultado dessas eleições. Como dito anteriormente, elas também refletem um possível resultado para eleições gerais e, considerando a situação do governo Fernández, não é difícil que o cenário fique ainda pior para a Frente de Todos, não só com o crescimento das forças neoliberais aliadas com o ex-presidente Macri, mas também com o possível crescimento da extrema-direita.
“Reverter o declínio socioeconômico argentino é possível se os peronistas rejeitarem seus membros radicais e se os eleitores rejeitarem outro mandato peronista em 2023”, diz um editorial do golpista Estadão. A direita golpista e o imperialismo incentivam a política de Fernández e ambos tentam dar continuidade a mais um de seus golpes nos governo latino-americanos
É importante ressaltar que, por mais que o peronismo tenha capitulado e traído as massas diversas vezes e não tenha uma política revolucionária, sua ala esquerda é também a única que efetivamente tem algum lastro na população, o que acentua a polarização e incentiva a mobilização popular.
Todos esses resultados só indicam um domínio cada vez maior da direita, que precisa ser revertido com urgência. A esquerda argentina precisa ouvir a população e mobilizá-la, levando suas reivindicações para as ruas e demonstrando da maneira mais efetiva que a direita e o imperialismo não são bem-vindos.