A vacinação brasileira anda a passos lentos, com apenas 28% das pessoas vacinadas com as duas doses da vacina. Esse número é contrastado pelos 53% de vacinação completa na França. A despeito disso, o país viveu recentemente um grande levante popular contra a medida da vacinação obrigatória que estabelecia o passaporte da vacina. Agora, momento em que a medida é discutida no Brasil, deve-se esperar uma reação ainda pior.
Em primeiro lugar, é preciso dizer que as punições contra pessoas que não tomaram a vacina não faz sentido em um país cuja imunização atrasada impede por si só a vacinação individual. Quer dizer, muito longe de haver uma rejeição popular aos imunizantes, a população em sua maioria aguarda ansiosamente a sua vez de se vacinar.
Essa situação é diferente nos EUA, por exemplo, local em que a taxa de vacinação se estagnou nos 51,7% de pessoas vacinadas com as duas doses e apenas 73,4% de pessoas com no mínimo uma dose (valor inferior ao Brasil, com 79,28%). No país, apesar da alta rejeição à vacina levada principalmente pelos negros e pardos, não há discussão sobre a obrigatoriedade da vacina. Pelo contrário, a propaganda para a população se vacinar inclui, inclusive, sorteios de prêmios em dinheiro para os vacinados. Nesse país, a desconfiança em relação ao Estado é muito grande, principalmente entre os pobres, que já sofreram com a testagem de medicamentos pelas forças estatais em tempos passados. Agora, por que o país não obriga sua população a se vacinar? Exatamente pelo mesmo fato que levou a convulsão social na França, a força do repúdio popular.
Quer dizer, em países com mais condições de vacinação, há uma enorme oposição à obrigatoriedade da vacina. Em países como o Brasil, então, essa oposição deve se multiplicar pelo número de dias de atraso nos calendários de imunização. A punição, no caso brasileiro, será uma verdadeira segregação social. Isso porque é comprovado o maior índice de vacinação entre as pessoas das classes A e B, em relação às da classe C e D. É preciso, nesse sentido, se contrapor a essa proposta, defendendo a vacinação facultativa mediante uma intensa campanha favorável para a população. É preciso convencer o povo, não obrigá-lo.




