Contrariando uma série de preceitos, quase dogmas da sociedade burguesa, a rede social Parler foi definitivamente desativada na última segunda-feira (11). O cancelamento se deu após uma verdadeira operação de morte por asfixia contra a rede social, o que foi feito pelos principais monopólios da internet: Google, Amazon e Apple.
Rede social usada por muitos apoiadores do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a Parler foi criada sob o lema da “liberdade de expressão”. Em função disso, a rede não possuía moderação no conteúdo de seus usuários, o que permitia difusão de mensagens extremistas, razão alegada pelos monopólios para sufocar a rede.
Alvo da censura do imperialismo durante a verdadeira campanha de guerra que marcou as eleições presidenciais americanas, o jornalista americano radicado no Brasil, Gleen Greenwald, comentou o caso em seu perfil no Twitter:
“Você sabe quantas das pessoas presas em conexão com a invasão do Capitólio eram usuários ativos de Parler? Zero. O planejamento foi feito em grande parte no Facebook. Tudo isso é um pretexto estúpido para silenciar os concorrentes por motivos ideológicos: apenas o começo”, escreveu o jornalista.
Greenwald usou o caso para lembrar que a acusação padrão adotada pelos monopólios, de que a rede usada pelos seguidores de Trump deve adotar moderação contra postagens que incitam a violência, é mero pretexto para “silenciar os concorrentes por motivos ideológicos”.
“Aproximações sucessivas”
Obviamente, é fácil ter um desprezo profundo, até nojo pelo conteúdo produzido pela extrema-direita. Contudo, diante da natureza do conflito em questão, os sentimentos despertados pela extrema-direita acabam tendo um papel secundário, especialmente dado a verdadeira ameaça que se manifesta: a censura.
O esquematismo usado para medir forças como as representadas por Trump não podem ser aplicadas no caso, sob pena de a população acabar submetida ao silêncio forçoso sobre tudo o que atente contra a política burguesa.
Não custa lembrar que no Brasil -e em muitos países-, a censura começou a se restabelecer em torno dos difusos “crimes contra a honra”, de modo a criminalizar falas consideradas difamatórias. Atingindo elementos descartáveis da direita -geralmente extremistas- recentemente tivemos no País o caso do jornalista Amaury Ribeiro Jr., autor do livro “A pirataria tucana”, condenado pela 4ª Vara Federal de São Paulo à pena de sete anos e dez meses de reclusão.
Da mesma forma, o imperialismo vem fazendo uso de Donald Trump, e da extrema-direita americana, para aprimorar ainda mais a censura. Primeiro com notificações nas redes sociais, depois com censura explícita a determinados conteúdos até o banimento virtual realizado recentemente, que apagou perfis das redes monopolistas e segue impedindo este público de se organizar em redes sociais independentes.
Na mira da censura, longe do que as aparências indicam, não está Trump ou a extrema direita, mas as vozes discordantes do regime político decadente, que ficam por meio destas medidas autoritárias, impedidas de manifestar sua insatisfação livremente.
O mito da livre concorrência
Como lembrado por Gleen Greenwald, o caso traz também o problema da livre-concorrência. Um dos dogmas mais usados pelos defensores do capitalismo, segundo a mitologia difundida pela direita, qualquer um poderia empreender e criar algo melhor do que o padrão encontrado no mercado, ganhando assim sua porção na riqueza.
Obviamente, esta é uma etapa histórica superada pela ascensão do imperialismo, que consistiu exatamente na superação da livre concorrência pela implementação do controle de conglomerados monopolistas sobre os mercados antes disputados. Exatamente que o caso Parler nos lembra.
Além dos interesses políticos, os interesses comerciais explicam a asfixia dos grandes monopólios da internet sobre possíveis concorrentes, como a rede apoiada por Trump fatalmente seria.
A desculpa, naturalmente, é a melhor possível para confundir incautos mas não muda o fato de que os monopólios, Google, Apple e Amazon, conseguiram impedir o surgimento de um concorrente de peso.
Independência
Divulgado como a vitória da democracia contra a intolerância, o caso Parler lembra um dos problemas mais contundentes enfrentados pela classe trabalhadora: a crise das direções. Não se trata de um problema novo mas ganha contornos mais definidos quando a política do imperialismo e a das direções burocráticas da esquerda se confundem.
Afinal, a liberdade de expressão constitui um dos grandes avanços da humanidade na luta contra o absolutismo, expressão política dos regimes pré-capitalistas. Parte integrante do regime de terror que submetia os povos destas sociedades, é natural -de uma certa forma- que o imperialismo busque a mesma política para sustentar a sua própria versão de terror. A loucura é a esquerda apoiar tais arbitrariedades.
No Brasil, tivemos o exemplo relativamente recente da Ditadura Militar, regime de terror implementado após o Golpe de 1964 e que terminou submetendo o País a uma censura brutal, dedicada a atacar o desenvolvimento cultural da população pela proibição da livre circulação de ideias.
Com o exemplo histórico recente esquecido, fica claro que existe uma subordinação da pequena burguesia à direita, o que constitui um grave problema político à classe trabalhadora. Os trabalhadores devem superar a crise de suas direções, confusas a ponto de apoiarem um retrocesso político como a censura, o que longe de trazer algum benefício às massas, trará derrotas enormes. A história é clara neste ponto.