Cuba

Onde a COVID e o multilateralismo se encontram

Enquanto países imperialistas sabotam vacinação nos países pobres, estes tentam dar um jeito para conseguir as vacinas

(*) Por Márcia Choueri, correspondente em Havana

Cuba está na terceira onda de Covid-19 desde o final do ano passado, e, apesar de todos os esforços, os números diários de positivos não estão diminuindo.

Só pra lembrar: desde o surgimento dos primeiros casos, a estratégia de enfrentamento da Covid-19 em Cuba se apoia no tripé: (1) pesquisa ativa para detecção dos positivos, (2) tratamento hospitalar de todos os casos, (3) isolamento de contatos e dos contatos de contatos.

E isso foi rigorosamente cumprido, apesar do bloqueio econômico, comercial e financeiro dos Estados Unidos, que perversamente se intensificou durante a pandemia.

Nesse período, Cuba multiplicou em 600% o número de laboratórios, começou a produzir seus próprios respiradores mecânicos, recuperou equipamentos médicos com peças fabricadas aqui, substituindo importações.

Então, como se explica essa terceira onda tão persistente? Claro que um pouco pode ser por indisciplina, porém um dado chamou a atenção dos especialistas. Entre março e setembro do ano passado, predominou em Cuba a cepa do Sars-Cov2 que substituiu a original de Wuhan no mundo. Mas, entre o final de dezembro e março deste ano, detectou-se na Ilha um grande aumento de outras variantes, como a da Califórnia e da África do Sul.

O rápido crescimento dessas novas cepas, superando a anterior, indica que elas têm uma vantagem do ponto de vista evolutivo, ou seja, que se disseminam mais rápido. Essa é a causa mais forte da terceira onda na Ilha.

Graças ao desenvolvimento científico e biotecnológico, Cuba tem 5 candidatos vacinais próprios, dois já na fase 3 de ensaios clínicos e com estudos de intervenção. A perspectiva é de vacinar toda a população do país, antes do final do ano.

Porque ninguém duvida de que a melhor chance de uma solução definitiva para essa emergência sanitária é a vacinação. Mas o rápido aparecimento de novas cepas mostra que, ademais, é preciso vacinar todo mundo e rápido.

Ontem, o diretor-geral da OMS fez uma declaração confirmando tudo isso. Ele disse que a pandemia está longe de acabar, mas que a situação pode ser controlada com medidas de saúde pública. E que, em muitos países, as UTIs estão transbordando, e pessoas estão morrendo, por razões evitáveis. Muitas e muitas vezes, a verdadeira causa é a negligência e a falta de investimento no sistema de saúde.

Um dado muto importante que ele informou: até agora, foram administradas 780 milhões de doses de vacina no mundo, para uma população global de 7,7 bilhões de pessoas. Ou seja, a quantidade de doses corresponde a 10% da população, mas sabemos que uma dose não é suficiente. Então, com muito otimismo, pode ser que 5% da população esteja imunizada.

O outro lado dessa informação é que os países ricos, ou, no caso do Brasil, as pessoas ricas, estão se apropriando das vacinas existentes, e deixando os demais à míngua. Então, essas doses estão sendo dirigidas a um pequeno grupo. Eles parecem não entender que isso não vai impedir que apareçam novas variantes do vírus, e que algumas podem até ser resistentes às vacinas que já existem.

Vacinar todo mundo é a única solução segura para todos. Vou deixar o assunto aqui, porque é demasiado óbvio: vacinas não devem ser negócio.

Coincidentemente, 17 países acabam de formar uma coalizão a favor do multilateralismo. São eles: China, Rússia, Coreia do Norte, Irã, Argélia, Angola, Bielorrússia, Bolívia, Camboja, Cuba, Eritreia, Laos, Nicarágua, Palestina, São Vicente e Granadinas, Síria e Venezuela. Sua proposta é defender a Carta da ONU e refutar a política de sanções unilaterais.

Multilateralismo é a posição que afirma que as relações internacionais devem ter em conta as diferentes visões dos países e respeitar suas decisões. O unilateralismo seria uma visão única das relações, imposta por um pequeno grupo de países, encabeçado pelos Estados Unidos.

Uma nota da nova coalizão denuncia que o multilateralismo está sob um ataque sem precedentes, e que isso representa uma ameaça à paz e à segurança mundiais. E que está havendo um crescimento do unilateralismo, marcado por ações isolacionistas e arbitrárias, incluída a imposição de medidas coercitivas unilaterais (leia-se embargos e bloqueios) ou o rompimento de acordos e instituições multilaterais históricas (p. ex., a saída dos Estados Unidos da OMS e do Acordo de Paris para as mudanças climáticas), bem como por tentativas de sabotar os esforços para lidar com desafios comuns e globais, como é o caso da pandemia.

É muito bom que vozes respeitadas e poderosas se levantem. A situação mundial exige trabalho conjunto, concertado. E o primeiro passo deve ser garantir VACINAS PARA TODOS JÁ!

(*) A opinião da autora não representa, necessariamente, a opinião deste diário.

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