No início de 2021, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), lançou a vacina contra o COVID-19 Coronavac, produzida pelo laboratório chinês Sinovac em parceria com o Instituto Butantan da Universidade de São Paulo (USP). Em um primeiro momento, tentou fazer uma propaganda em torno de si mesmo, como o primeiro a conseguir uma vacina no País, com o verdadeiro objetivo de viabilizar sua candidatura para concorrer às eleições presidenciais de 2022.
Para aumentar a repercussão do lançamento da vacina, Doria prometeu uma vacinação massiva da população paulista. Naquele momento, o governador tentava antagonizar politicamente com o presidente Jair Bolsonaro (ex-PSL, sem partido) e ganhar dividendos políticos em torno do desgaste de seu adversário político. Para atribuir a si mesmo uma fachada democrática, Doria se apresentava como “científico”, “racional”, “anti-negacionista” e “contra o autoritarismo”.
Em pouco tempo, a vacinação de Doria demonstrou-se uma farsa. Na sequência, a farsa transformou-se em tragédia. Para se ter uma noção, São Paulo está quase no 4º mês de vacinação. Nesta segunda-feira (15), as autoridades estaduais anunciaram que idosos acima de 70 anos de idade serão vacinados a partir de 29 de março nos postos de saúde e drive-thru. Idosos acima de 75 anos sequer foram vacinados.
Somente os profissionais da saúde com menos de 73 anos foram vacinados. Ainda assim, os próprios médicos e enfermeiros denunciaram os critérios obscuros do governo na distribuição das vacinas. O Sindicato dos Médicos publicou uma nota em que questionava a política de vacinação em São Paulo e denunciava suas contradições.
Desde 17 de janeiro, data do início da vacinação, até esta segunda-feira (15), o estado de São Paulo aplicou 3.915.150 doses da Coronavac. Deste total, 2.829.771 pessoas tomaram a primeira dose e 1.085.379 a segunda dose. Para atingir os cerca de 50% de eficácia, a Coronavac necessita da aplicação das duas doses. O governo Doria manipula os dados para passar uma impressão de que a vacinação está avançando.
O Partido da Social-Democracia Brasileira (PSDB) governa o estado de São Paulo há 30 anos consecutivos. Desde o início da pandemia, São Paulo rapidamente se tornou um dos epicentros nacionais da doença, posição que mantém até hoje. Os órgãos sanitários registram 2,2 milhões de infecções confirmadas e 64.123 óbitos.
Os tucanos foram os primeiros a desmontar as parcas estruturas de enfrentamento ao COVID-19, como os hospitais de campanha. Doria reabriu a economia rapidamente e jamais tomou qualquer medida real contra a doença. Os transportes públicos em São Paulo e sua região metropolitana permaneceram superlotados. Sequer os equipamentos de proteção individual foram distribuídos para a população. Nenhum programa de auxílio econômico para o povo desempregado foi implementado pelo governo estadual.
Segundo o secretário estadual de Saúde, Jean Gorinchteyn, a taxa de ocupação dos leitos de UTI está em 88,4%. Na Grande São Paulo, a taxa é de 90%. Ao todo, são 10.244 pacientes em unidades de UTI e 13.382 em unidades de enfermaria. A média de novas internações diárias é de 180.
A rede pública de saúde caminha em direção ao colapso. São Paulo está na fase mais restritiva do Plano São Paulo. Em 1º de fevereiro, Doria e Rossieli Soares forçaram a reabertura das escolas estaduais e municipais da capital, o que as transformaram em vetores de expansão da doença. A política genocida de Doria custou a vida de dezenas de professores, funcionários da educação e alunos. Os dados reais das contaminações nas escolas estaduais são escondidos pela Secretaria da Educação, sob as ordens de Doria.
A política de vacinação de Doria jamais passou de um golpe de propaganda, ou melhor, de marketing político-eleitoral pessoal. Nunca se tratou de utilizar o aparelho de Estado no sentido de organizar o povo e prover as condições materiais necessárias para enfrentar a doença e “salvar vidas”. Em absoluto, João Doria não se preocupa com “salvar vidas”. Seu único objetivo, desde o começo, era se projetar nacionalmente para viabilizar sua candidatura presencial.
A vacinação era um passaporte para o governador subir em sua carreira política. Acontece que esta se comprovou um completo desastre. O estado de São Paulo tem uma população de 46 milhões de pessoas. Do total de vacinados, somente 1.085.379 receberam a segunda dose.