A imprensa progressista tem indisfarçável apreço por Guilherme Boulos, pois ele parece ser o figurino acabado do bom-moço, sempre disposto a abraçar as causas do bem. Há quem jure de pés juntos que, além de ser defensor dos sem-teto, dos LGBT, dos negros, das mulheres e dos indígenas, ele é “amigo pessoal” do Lula e do Haddad. Boulos é uma espécie de príncipe encantado da esquerda pompom.
Curiosamente, o príncipe entra em dissonância com boa parte dos jornalistas dessa mesma imprensa que, embora se apresente como alternativa aos jornais e TVs da burguesia, segue à risca as suas pautas. A infeliz ideia de fazer de Geraldo Alckmin o vice de Lula é tema diuturno nos canais progressistas, nos quais grassa uma espécie de torcida por essa união esdrúxula entre os adversários de longa data para supostamente combater o mal maior, que estaria personificado no Bolsonaro.
A ideia é absurda e nem deveria ser levada tão a sério, sobretudo por quem diz apoiar a candidatura de Lula. À parte isso, chama a atenção o esquerdismo de conveniência do PSOL e do Boulos, que agora acabam de encontrar o pretexto para minar o apoio ao Lula, confundindo o eleitorado. Até outro dia, o príncipe condicionava seu apoio ao Lula à retirada da candidatura do Haddad ao governo do estado de São Paulo. Agora, o motivo é o Alckmin, que seria um “mau sinal”. Faltou explicar por que, até outro dia, o PSOL estava tão empenhado em levar às manifestações populares da esquerda o PSDB do BolsoDoria, o Kim Kataguiri, o Ciro Gomes e outros tipos execráveis.
Precisam explicar o que mudou. Até anteontem, o PSDB era boa companhia na luta antifascista, todos juntos contra o Bolsonaro vestidos de verde e amarelo e fazendo tremular as bandeiras azuis numa ciranda colorida; agora o Alckmin, figura anódina do mesmo PSDB, é o vilão. O Lula é o favorito nas eleições, tem a preferência do povo, mas, infelizmente, além dos inimigos da direita golpista – tanto a fascista como a limpinha –, tem de enfrentar o oportunismo à esquerda. Fica difícil entender o PSOL. Quem perde, se o Lula não sair vitorioso, é o povo.
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