Um fato comum na esquerda é a acusação contra os eleitores de Jair Bolsonaro ao chamá-los de “gado”, que significaria que o pessoal é burro, que segue uma ordem sem pensar nada, que a direita, os golpistas, os tratam como bicho, como boi, como um rebanho de gado. Se a direita aponta para um lado, o “gado” seguiria essa orientação.
Ocorre que é preciso dizer que o tratamento da esquerda, das suas lideranças, contra os manifestantes, simpatizantes e ativistas da luta contra o golpe não é diferente. A esquerda tenta tratar o povo justamente como gado.
Isso ficou claro quando tentaram injetar o PSDB dentro das manifestações da esquerda, contra o golpe, contra Bolsonaro. Sem nenhuma consulta prévia às bases, sem nenhum debate, permitiram a presença do PSDB na manifestação. Como não tem debate, o caso acabou terminando em briga.
Não satisfeitos, as direções da esquerda fizeram o papelão absurdo de levar Ciro Gomes para os atos do fora Bolsonaro. Além dele, o presidente do PSDB municipal, herdeiros de banqueiros e outros abutres golpistas também foram convocados pela esquerda para se juntarem aos atos contra o golpe. Chamaram os golpistas para a luta contra o golpe.
Outra vez, sem qualquer discussão, apenas uma imposição contra os militantes, contra os ativistas que, por algum motivo (gado?) teriam que aceitar essa imposição. Obviamente, como ninguém é gado, o resultado foi um ato que tiveram mais vaias que palmas, algo incomum em manifestações, mais um feito que a esquerda conseguiu realizar. Ciro Gomes, além de vaiado, saiu corrido da manifestação, perseguido por sindicalistas que não aceitam a presença de um golpista clássico em manifestações da esquerda.
O novo debate, dentro desse mesmo tema, é a possibilidade da chapa Lula/Alckmin, para disputar as eleições de 2022 contra a direita, na pessoa de Jair Bolsonaro. Outro adversário seria o candidato da 3ª via, mas a burguesia ainda não bateu o martelo sobre este nome.
Como raio em céu azul, surgiu o nome de Geraldo Alckmin para compor a chapa com Lula em 2022. Um nome que simplesmente deixou qualquer morador de São Paulo de cabelos em pé.
Geraldo Alckmin, ou “Jason” Alckmin, como ficou conhecido entre os servidores, foi um dos maiores inimigos do povo paulista, dos direitos do trabalhador e da juventude. Foi o responsável pela repressão contra os manifestantes de junho de 2013, dentre outras atrocidades, como os ataques contra os sem teto (massacre do Pinheirinho), contra moradores de rua, contra o povo em geral. Ele e o PSDB são os inimigos públicos número 1 do povo.
Diante disso, cabe a todos os manifestantes, filiados e militantes do PT, de outros partidos da esquerda, dos ativistas… todos teriam que simplesmente aceitar o que for decidido. Se uma pessoa se manifesta contra isso, ela é atacada por gente interessada em colocar Lula e um qualquer como vice. Nesse ataque, não está em questão a luta contra o golpe, mas a luta por algum lugar ao sol dentro de um possível regime petista. Nesse sentido, qualquer vice vale.
Oras, isso é justamente tentar tratar o povo como gado. Não abrir uma discussão democrática, em primeiro lugar com os militantes do PT, sobre o nome que seria vice, é justamente tratar o povo como gado.
Como candidatura que representaria os interesses do povo, esse mesmo povo tem todo o direito democrático de se manifestar e se colocar duramente contra o nome de Geraldo Alckmin como vice na chapa de Lula. E mais: exigir que o vice seja uma pessoa ligada às lutas operárias e populares, pois se for assim, colocar qualquer nome na chapa, teremos um novo Michel Temer, um novo vice que vai conspirar contra o titular.
Ninguém é gado. Todo mundo tem o direito de se manifestar, de colocar sua posição, e, no caso, de protestar veementemente contra um nome macabro como Alckmin para a composição da chapa de Lula.