A falta de alimentação adequada entre os jovens na França já não é novidade, mas com o desemprego aumentado pela crise pandêmica do novo coronavírus, a situação se torna ainda mais grave.
Em Paris, vários adolescentes se amontoam em filas atrás de comida em bancos alimentares administrados por estudantes; filas que chegam a contar com até 500 pessoas esperançosas por doações. Jovens, em sua maioria, também estudantes, que perderam o emprego devido à pandemia, tiveram que gastar suas economias e reduzir o número de refeições diárias.
É o caso de Chéreau, estudante universitária de 19 anos, cujo pai a ajuda a pagar as despesas com a mensalidade e o aluguel, porém não pôde mais enviar dinheiro depois que também foi demitido de seu emprego. “É assustador, tudo está acontecendo muito rápido”, diz a adolescente, enquanto outros jovens ao seu redor estavam pegando suas doações.
Organizações humanitárias espalhadas pela Europa alertam para o aumento da insegurança alimentar entre os mais jovens, à medida que a pandemia adentra em seu segundo ano, uma parcela crescente dos mesmos sofreu cortes em seus empregos e demissões na família, o enfrentamento da fome e tensões financeiras aprofunda a desigualdade entre as populações mais vulneráveis.
Segundo a revista Exame, na França, segunda maior economia da Europa, metade dos jovens adultos estão com dificuldades em se alimentar. Um quarto deles está pulando pelo menos uma refeição por dia. A insegurança alimentar desse segmento já era bem comum. Mas o problema aumentou desde que os países europeus impuseram bloqueios nacionais no ano passado para conter o coronavírus. A demanda por ajuda alimentar aumentou 30 por cento em toda Europa, de acordo com a Federação Europeia de Banco de Alimentos.
A pandemia no novo coronavírus tem destruído milhares de postos de trabalhos em setores que antes eram facilmente acessíveis aos jovens, como restaurantes, turismo etc. “Precisamos trabalhar, não conseguimos encontrar emprego”, afirmou Iverson Rozas, 23 anos, estudante de linguística na Universidade Nova Sorbonne, em Paris, cujo seu turno em um restaurante foi reduzido para um terço, deixando-o com apenas 50 euros mensais para gastar com alimentação.
Para aprofundar a crise, demissões na família desses jovens são constantes. Foi o caso de Chéreau, aluna de história e arqueologia na Université Panthéon-Sorbonne, cuja família contribuía com cerca de 500 euros por mês para suas despesas. Quando Chéreau esgotou suas economias ouvira falar dos bancos de alimentos estudantis, e esse agora é seu único recurso alimentício.
“Muita gente simplesmente fica sem comer”, comentou Alan Guillemin, copresidente da associação estudantil da Universidade de Rennes, cidade no noroeste do país, onde as refeições custam um euro e estão atraindo filas com mais de uma hora de duração.
A França de Emmanuel Macron é só um modelo. Esse é o resultado de políticas econômicas neoliberais e imperialistas sob governos de extrema-direita espalhados pelo mundo –, cortes de gastos públicos e diminuição do papel do Estado como motor de políticas sociais. Essa austeridade já promoveu reformas trabalhistas que precarizaram a situação dos trabalhadores e agora promove o caos no controle da crise do coronavírus, protegendo financeiramente àqueles que mais lucram. Em situações extraordinárias, como a da pandemia, o Estado deveria oferecer garantias como moradia, saúde, educação e alimentação para a população, que são direitos básicos de cidadania. A melhoria só vai ser alcançada se nos livrarmos dessa doutrina de austeridade e exploração da grande burguesia mundial. Contradizer que a única solução para a superação da crise é com privatizações e empobrecimento. Lutar por um Estado socialista onde todos possam viver bem, segundo uma melhor distribuição de riquezas nacionais e internacionais.