Com os salários congelados há dois anos – quando o custo de vida já subiu mais de 10%, segundo os índices oficiais, com alta da cesta básica de até 33% somente em 2020 – e com, pelo menos, 26 de trabalhadores da categoria mortos pela covid e centenas de infectados, os metroviários de São Paulo entraram em greve desde a madrugada dessa quarta (19).
Além de negar a recomposição das perdas salariais, a direção do Metrô e o governo tucano de São Paulo querem retirar dos metroviários direitos conquistados como parte de muitas lutas dos trabalhadores em toda a sua existência.
A categoria reivindica reajuste com base na inflação, bem como o pagamento da participação de resultados (PR) dos últimos dois anos, que não foram efetuados pelo Metrô.
Vai e vem da greve
A paralisação foi parcial nesse primeiro dia e acontece depois de uma série de recuos da direção sindical que aceitou proposta de intermediação do reacionário Ministério Público do Trabalho (MPT) diante da negativa de negociação do Metrô e do governo João Doria. Com isso, o governo não fez outra coisa senão ganhar tempo e procurar conter a tendência de luta da categoria, que tem data base em 1º de maio.
Ajudando o governo a ganhar tempo, o Ministério Público do Trabalho (MPT) formulou uma proposta alternativa, que não foi aceita pelo governo, que – entre outras coisas – previa o mísero reajuste de 9,7% (correspondente à inflação oficial) fosse parcelado em três vezes, começando em maio deste ano, janeiro e maio de 2022; quando já deveria ser fixado outro reajuste, correspondente – pelo menos – à inflação dos próximos 12 meses.
Antes de aprovar a greve, os metroviários rejeitaram proposta da direção da Companhia do Metrô que quer impor o reajuste de 2,61% a partir de janeiro de 2022, que nem mesmo seria retroativo a 1º de maio. Este índice raquítico seria também aplicado também para os vales refeição e alimentação, fazendo com que os cerca de 9 mil trabalhadores da categoria acumulassem novas perdas.
A política de enrolação da empresa também prevê que o pagamento da participação de resultados (PR) ocorreria apenas em 31 de janeiro do ano que vem,isso mesmo: em 2022! Além disso, os tucanos querem retirar ou reduzir diversos itens do acordo coletivo, como a gratificação por tempo de serviço e de férias, além do adicional noturno.
Greve prá valer?
Além da política criminosa do governo do PSDB contra os trabalhadores, que atinge todas as estais e o serviço público paulista em geral, a poderosa categoria dos metroviários da maior cidade do País é claramente vítima da vacilação política de suas direções que, pressionadas pela política direitista do “fique em casa” e não lute à qual se submeteu a imensa maioria dos sindicalistas que abriram mão de usar a força da mobilização dos trabalhadores por conta da suposta “guerra contra a pandemia” que, de fato, nunca houve da parte de governos reacionários de João Doria e Jair Bolsonaro, que nada fizeram – além de encenação – para livrar os trabalhadores das consequências da pandemia.
Os setores da esquerda que dirigem o Sindicato dos Metroviários defenderam essa política mesmo com os metroviários (bem como a maioria da classe trabalhadora) saindo todos os dias de casa e se expondo ao risco elevado de contaminação no transporte coletivo, maior centro de aglomeração do País, o que quase sempre é ocultado pela direita golpista e por sua venal imprensa golpista.
Agora mesmo é notória a vacilação que, mais uma vez, ameaça a continuidade e o necessário fortalecimento da greve, com a paralisação total das atividades do Metrô, com declarações de coordenadores do Sindicato da categoria de que se pronunciaram a favor de um possível recuo em troca apenas da não retirada de direitos e da lastimável aceitação do parcelamento do reajuste.
Generalizar: comandos de base e parar tudo
A greve dos metroviários é mais um claro sintoma da fermentação das tendências de luta que se desenvolvem na classe operária, sendo uma das primeiras categorias operárias que, neste ano, desenvolvem uma greve e mobilizações presenciais, como algumas assembleias por eles realizadas.
É preciso ampliar essa tendência que se expressou de forma mais consciente e organizada no ato de 1º de Maio de Luta, na Praça da Sé, nas mobilizações do dia 13 passado, contra o massacre de Jacarezinho e na aprovação do Dia Nacional de Luta, aprovado pela 3ª Plenária Nacional de Organização das Lutas Populares, com quase 500 participantes, que terá atos de rua em todo o País no próximo dia 29; além do ato convocado para a frente do Congresso Nacional,no dia 26/5.
Embora a direção da categoria tente enquadrar a greve – como foi feito em outras categoria – como uma “greve sanitária”, com mobilização limitada, ausência de assembleias massivas, passeatas etc., a greve é parte da pressão dos trabalhadores por uma mobilização real, cm greve, nas ruas, única forma de impor uma derrota efetiva à direita e sua ofensiva contra os trabalhadores.