Diante de recentes acontecimentos políticos é preciso relembrar quem são e do que se trata o Movimento Brasil Livre (MBL) que um setor da esquerda defendeu levar para os atos Fora Bolsonaro. O movimento de fachada foi um instrumento de propaganda que serviu para dar ar de legitimidade à derrubada da presidenta Dilma Rousseff, o processo fraudulento tinha como objetivo final atacar os direitos dos trabalhadores e de toda a população do País. Agora, esses golpistas buscam se apresentar como oposição ao governo Bolsonaro que ajudaram a eleger.
A crise atual do regime se expressa na polarização política, que resultou do esvaziamento das bases da direita tradicional que se radicalizaram e migraram para a extrema-direita devido principalmente à campanha da imprensa golpista. Neste sentido, o MBL e políticos direitistas do PSDB e outros buscam recuperar o terreno perdido para o bolsonarismo usando a luta pelo Fora Bolsonaro como se viu no chamado “super pedido de impeachment“.
A tentativa frustrada de se infiltrar nos atos convocados e organizados pela esquerda se trata de uma manobra semelhante à de 2013 para sequestrar a mobilização, desta vez para reciclar os partidos do “centrão” e apresentar uma terceira via para as eleições de 2022, a candidatura mais provável seria a de João Doria (PSDB) que também impulsionou e se beneficiou do bolsonarismo. Lançar a terceira via não se trata de combater Bolsonaro, mas de evitar a chegada do ex-presidente Lula ao segundo turno, assim, a frente ampla entre a direita e a esquerda pequeno-burguesa cumpriria o papel de eleger o candidato da burguesia.
O MBL não se arriscou a participar da manifestação na avenida Paulista no último 3 de julho principalmente devido aos avisos do Partido da Causa Operária (PCO), uma decisão acertada tendo em vista que foi o dia que ficou marcado pela expulsão dos tucanos (PSDB) do ato. Assim, o MBL e o Vem Pra Rua (VPR) – outra organização golpista – buscaram organizar atos “Nem Bolsonaro, nem Lula” por todo o País com os partidos da direita (PSDB, Novo, Cidadania, etc.), a mobilização foi um verdadeiro fracasso como reconheceu o deputado do MBL em SP, Arthur do Val (Mamãe Falei). Na última manifestação do dia 2 de outubro, a justificativa da ausência por motivos bastante óbvios foi de que não fariam propaganda para Lula Presidente em 2022.
Quem são os MBL?
O MBL tem sua origem no Movimento Renovação Liberal, que surge a princípio em Vinhedo-SP (Renova Vinhedo) e que depois avança nesta região do interior do estado com Renova Valinhos e Renova Itatiba. Inicialmente, os idealizadores do MBL pretendiam ganhar dinheiro inovando as propagandas eleitorais, o primeiro cliente do grupo foi o candidato a deputado estadual Paulo Batista do PRP (Partido Republicano Progressista), em vídeo de péssima qualidade o mesmo aparece supostamente como herói cujo poder era voar e combater os comunistas com seu raio privatizador apareceu até mesmo no The New YorK Times e também na HBO tamanha bizarrice.
A ideia do projeto foi de Mário Jorge Ferreira dos Santos, a execução ficou por conta de seus filhos, Alexandre Henrique Ferreira dos Santos e Renan Antônio Ferreira dos Santos, uma família de golpistas que acumulam dezenas de processos trabalhistas com dívida na ordem de milhões de reais. Entre os fundadores está o publicitário e músico Pedro Augusto Ferreira Deiro ou, simplesmente, Pedro D’Eyrot, que diversas vezes teve seus trabalhos promovidos nas páginas da imprensa capitalista. E também seus maiores inventos políticos os ex-youtubers Kim Kataguiri e Fernando Holiday, atualmente deputados federal e vereador por SP, nesta respectiva ordem.
Em suas primeiras aparições, em 2013, o MBL saiu em defesa das instituições do Estado burguês e contra a PEC 37, que tinha como objetivo reduzir o poder do MP (Ministério Público) de comandar investigações como foi no processo do “Mensalão”, uma farsa jurídica que serviu para perseguir principalmente políticos do PT como José Dirceu. Depois, o MBL saiu em defesa das supostas investigações na Petrobrás e também da operação farsesca da Lava-jato comandada pelo juiz Sérgio Moro (PSDB) a mando dos Estados Unidos, seu objetivo era impulsionar a campanha que serviu para derrubar a presidenta Dilma Rousseff.
A organização de extrema-direita recebeu financiamento da “Students for Liberty”, uma instituição que atuou contra o chavismo na Venezuela em favor dos interesses econômicos dos grandes capitalistas norte-americanos do petróleo como a família Koch, ou seja, se trata de um instrumento de intervenção externa na política institucional de países atrasados com governos nacionalistas como aconteceu no Brasil. À medida que a crise aumentou e se tornou inviável manter o governo petista no poder, o MBL também passou a ser financiado pelos partidos golpistas reunidos no “comitê do impeachment”, representados por Mendonça Filho (DEM), Darcísio Perondi (PMDB), Carlos Sampaio (PSDB), Cristiane Brasil (PTB) e Rubens Bueno (PPS).
A política do MBL
Os ditos neoliberais econômicos e conservadores nos costumes são defensores fim dos direitos trabalhistas e da previdência social, da terceirização dos serviços públicos, da privatização do sistema de saúde pública, da entrega das empresas públicas (Petrobrás, Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil, Correios, Eletrobrás) para os capitalistas e da livre regulamentação da economia, incluso são contra o programa Bolsa Família que retirou milhões de brasileiros da miséria. Além disso, defendem o projeto “Escola Sem Partido” que busca amordaçar e perseguir professores em sala de aula, a censura “moral” da arte como aconteceu na exposição Queermuseu, também são contra o aborto e a causa LGTB, e ainda são favoráveis a redução da maioridade penal.
Ideologicamente anticomunistas perseguem as organizações dos trabalhadores como na defesa do fim do imposto sindical, buscam combater a todo custo os partidos de esquerda da América Latina e a organização que os congrega, o “Foro de São Paulo”. Também defendem os principais inimigos desses partidos como Leopoldo Lopez, para o qual pedem asilo político, o líder-antichavista foi preso na Venezuela por promover atentados que ficaram conhecidos como Guarimbas, os quais deixaram 43 pessoas mortas e uma centena de feridos. A organização de cunho fascista persegue até mesmo médicos vindo de Cuba para o Brasil, bem como, o Programa “Mais Médicos” lançado nos governos petistas para suprir o déficit de profissionais no país.
O MBL se juntou com o que há de pior na política nacional como as bancadas evangélica e ruralista durante o golpe de estado de 2016. A organização de extrema-direita esteve ligada aos maiores vigaristas políticos do país, seus congressos tiveram a participação do ministro do STF, Gilmar Mendes, do deputado federal, Marco Feliciano (PSC), do ex-presidente golpista, Michel Temer, do então economista, Paulo Guedes, do presidente da Riachuelo, Flávio Rocha, do secretário da Fazenda de São Paulo, Henrique Meireles, do senador, Álvaro Dias, e, entre outros tucanos, do então prefeito de São Paulo, João Doria.
A principal propositora do pedido fraudulento de impeachment, autora da peça encomendada pelo PSDB por R$ 45 mil e atual deputada estadual em São Paulo, Janaína Paschoal esteve ligada diretamente ao MBL, na USP foi professora de Renan Santos, o qual a recrutou. Outro propositor foi Miguel Reale Junior, oriundo de família historicamente golpista e ex-orientador de Janaina Paschoal, esteve ligado à também organização de extrema-direita, o VPR.
Principais quadros do MBL
Kim Patroca Kataguiri, o mais promissor dos MBL, se tornou o mais jovem deputado federal aos 23 anos pelo DEM, o partido da ditadura militar. O ativista que se dizia apartidário, ex-colunista do jornal fascista Folha S.Paulo foi apontado pela Time como um dos jovens mais influentes do mundo, sua trajetória guarda similaridade com a de Guilherme Boulos, que também serviu aos interesses do Golpe de Estado contra Dilma.
Inimigo dos trabalhadores, votou pelo criminoso fim da previdência social, que condenou milhões de pessoas a uma exploração brutal e a morte sem direito a aposentadoria. É defensor da PEC 32, que destruirá as condições de vida de 12 milhões de servidores públicos, bem como, os serviços prestados à população. E também defendeu a MP 1045, que implicaria o aumento da jornada de trabalho de diversos setores e também redução do valor da hora extra.
Fernando Silva Bispo ou Fernando Holiday, foi o vereador mais jovem eleito na maior capital do país aos 20 anos pelo DEM, tendo recebido apoio de Ronaldo Caiado, atual governador de Goiás e ligado à organização sanguinária UDR. Foi eleito pela sigla Patriotas para o segundo mandato e, depois de ser expulso por criticar Bolsonaro, se filiou ao Novo.
Assim como outros capitães-do-mato como Sérgio Camargo, Holiday ataca as políticas públicas de reparação histórica para o povo negro e considera vitimismo a luta contra o racismo, como defensor da meritocracia é contrário a política como cotas nas universidades e também promove investidas contra a cultura dos negros de periferia. O negro racista atualmente busca se promover através da política identitária LGBT.
O principal legado de sua política foi a destruição da previdência dos servidores públicos do município, que terão que trabalhar mais e também pagar mais para poder gozar do direito da aposentadoria. Além de chamar os grevistas de vagabundos, o inimigo debochou dos servidores públicos enquanto eram reprimidos violentamente com bombas de gás lacrimogênio por protestar contra a destruição de suas condições de vida e do serviço público à população.