Manaus, a capital do estado do Amazonas, vive novamente um inferno em meio a pandemia. Após ter sido um dos locais mais afetados na chamada “primeira onda”, a situação dramática não fora resolvida, mas sim, se aprofundou após a nova onda de fortes contágios da pandemia.
Os dados são alarmantes, a escalada de novos casos de coronavírus na cidade, fez com que o número de pessoas mortas em suas próprias casas cresce consideravelmente. No mês de dezembro, pelo menos 213 pessoas morreram em domicílio, direta ou indiretamente devido ao coronavírus, sendo que aquelas de maneira indireta, devem-se ao fato de não terem conseguido atendido hospitalar.
Hospitais? SAMU? Não há
Justamente a superlotação é um dos principais problemas que afligem a população. Segundo dados oficiais do governo local, a capital do Amazonas está com a rede privada de saúde saturada, com ocupação de 94% dos leitos destinados ao atendimento de pacientes com coronavírus. Além disso, há uma grande fila de pacientes aguardando vagas nos leitos de UTI dos hospitais da rede pública, da qual já está com 92% de seus leitos ocupados. No total, sete dos onze hospitais particulares do município anunciaram estar em lotação máxima.
Diante da superlotação e do grande número de casos, as autoridades de saúde de Manaus passaram a orientar que as pessoas deixem de chamar o SAMU em caso não emergencial, tal situação deve-se ao fato de que o serviço não está mais conseguindo atender as demandas diárias.
O próprio diretor do SAMU – Manaus, Ruy Abrahim declarou que os hospitais e prontos-socorros só conseguem receber pacientes se retiveram os equipamentos da própria ambulância, deixando o SAMU sem equipamentos para novos atendimentos.
A falta de equipamentos nos hospitais é inclusive extremamente perceptível. Nos hospitais da capital, filas de macas se amontoam nos corredores e muitos ficam na fila a espera de um atendimento.
Para o diretor do SAMU “já estamos em um cenário igual ou ainda mais sério do que foi registrado nos meses de abril e maio”. Situação esta explicita inclusive em dados oficiais. Manaus, conforme divulgado no boletim da Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS-AM), ultrapassou a marca de 30 óbitos por dia, o maior número computado desde o dia 20 de maio, no que era considerado o “pico da pandemia”.
O único “investimento” da burguesia é na abertura de covas
Em paralelo, se as mortes aumentam os sepultamentos também. A prefeitura de Manaus informou, que no mesmo dia onde a marca de 30 óbitos por dia foi batida, 91 sepultamentos foram feitos na cidade. Uma questão importante é que destes, 36 foram oficialmente declarados como portadores de coronavírus, contudo, os cemitérios da cidade são conhecidos por fazer uma distinção entre “mortos por covid” e “suspeitos de morte por covid”, graças ao fato que grande parte das pessoas morrem sem sequer serem diagnosticadas, mesmo tendo todos os sintomas.
O número de enterros realizados na cidade nos cinco primeiros dias de 2021 aumentaram 84% se comparado ao início do mês de dezembro. No total, em dezembro foram 197 sepultamentos realizados em Manaus, em uma média de 39,4 por dia. Contudo, o mês de janeiro iniciou com 363 enterros realizados, uma média de 72.6 enterros por dia, tendo como ápice o dia cinco, do qual registrou 91 sepultamentos.
Espera-se na capital um novo pico de casos e internações entre os dias 13 e 15 de janeiros, devido a rápida proliferação da pandemia, que está cada vez mais perto de ultrapassar a catástrofe sofrida pela população no primeiro semestre de 2020.
O caos é gigantesco, o prefeito da cidade, David Almeida (Avante), declarou que Manaus tem covas suficientes para “2 ou 3 meses”. Em entrevista recente, o bolsonarista declarou que pretende construir 22 mil covas na capital, que hoje já ultrapassa os 85 mil casos de coronavírus. O mesmo ainda decretou situação de emergência pelo período de 180 dias, no Diário Oficial do Município.
Esta política de desespero não é inesperada. O inferno que Manaus passou nos primeiros meses de 2020 foi gerado graças a total destruição que a política neoliberal causou a rede de saúde, com a falta de investimento, a privatização e o sucateamento dos hospitais, nem mesmo em períodos “normais” tal estrutura seria suficiente para garantir as necessidades da população.
Contudo, agora com a pandemia o drama aumentou exponencialmente. O povo morre em casa por não ter hospital para ir. No mesmo sentido se deu agora a nova onda da pandemia na cidade.
A burguesia teve quase um ano para recuperar-se e investir em peso na saúde pública para garantir a sobrevivência da população. No entanto, nada foi feito, e a única política que se manteve foi o “investimento” na criação de novas covas.
O neoliberalismo é assim duplamente culpado por este genocídio. O prefeito do partido bolsonarista Avante, e os governos golpistas, não moveram um único passo no sentido de promover uma campanha real de combate a pandemia. Dessa maneira, com a mutação do vírus, que tem taxa de transmissão até 70% maior que o vírus que assolou o país em 2020, a catástrofe será apenas maior.