Na sua “análise” do discurso de Lula na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, o PSTU afirma que o ex-presidente apontou para a “reedição de uma velha receita”, a “frente ampla com a direita e um governo de colaboração de classes”. A isso, o PSTU opõe a sua própria receita, sua própria versão da frente ampla com a burguesia, sem o PT.
“Unidade de ação”
O PSTU acusa Lula de querer colaborar com a burguesia em um possível governo futuro. Mas é o próprio PSTU quem está defendendo a colaboração com a burguesia no presente, a pretexto de “afastar Bolsonaro e suas ameaças autoritárias”. A diferença não está no tempo verbal, mas no fato de que a hipótese de um terceiro mandato de Lula em colaboração com a burguesia é ainda apenas uma hipótese e a colaboração política com a burguesia na sua “luta” contra Bolsonaro é uma realidade. E é a esta “luta” que o PSTU se entregou de corpo e alma ao se alinhar com a pseudo-esquerda burguesa, a esquerda pequeno-burguesa e a direita golpista na campanha contra Lula.
Para o PSTU, “a primeira tarefa colocada para a classe trabalhadora é botar para fora Bolsonaro, e para isso devemos fazer unidade de ação com todos que estiverem dispostos” e, para não deixar dúvidas de que se trata, acrescenta: “devemos fazer unidade de ação com setores da burguesia para afastar Bolsonaro“.
A “unidade na ação” com a burguesia nesse momento significa aplainar o caminho para que a burguesia volte a governar de maneira mais sólida, com um governo. É a única frente ampla que existe nesse momento. O PSTU ignora que a burguesia golpista que colocou Bolsonaro no governo por falta de opção não está disposta a tirá-lo de lá se não tiver uma alternativa própria. A frente ampla, nesse sentido e na atual conjuntura, é apenas uma aliança para a propaganda contra a candidatura de Lula, em benefício de partidos burgueses falidos como o PSDB, o MDB e o DEM.
A única ação capaz de derrubar Bolsonaro e remover todos os golpistas do poder é a mobilização dos trabalhadores e das massas populares. Nenhuma articulação “por cima”, nenhuma unidade com setores da burguesia que se unificaram para dar o golpe de 2016 pode substituir essa força social. Mas, o PSTU não tem nenhuma palavra a dizer sobre essa mobilização.
O pretexto de combater Bolsonaro deixa o PSTU mais disposto e inclinado a colaborar com a burguesia do que se aliar a Lula, as organizações de massas e a base social que a ele estão ligadas. Para preservar uma aliança pura e principista com os partidos que colocaram Bolsonaro no poder, o PSTU volta as costas à CUT, a milhares de sindicatos e dezenas de milhares de sindicalistas e ativistas, aos trabalhadores sem-terra, às organizações populares e a milhões de pessoas que enxergam em Lula uma liderança na luta contra Bolsonaro e todos os golpistas.
Sem bússola
Enquanto denuncia a “frente ampla do PT”, uma aliança que seria feita em breve, em nome de que o PT já governou com a burguesia no passado, o PSTU adere acriticamente à frente ampla articulada pelo PSDB, MDB e DEM, que derrubaram o PT do governo. O fato de que Dilma Rousseff tenha sido derrubada por um golpe de Estado não significa nada para o PSTU, já que esse partido apoiou o golpe dizendo que se tratava da “vontade” dos trabalhadores.
O PSTU se considera a ala revolucionária do movimento que derrubou Dilma Rousseff em 2016 desprezando o caráter ultrarreacionário deste movimento. Fala contra a política de colaboração de classes dos governos do PT, dos serviços prestados aos banqueiros, ao agronegócio e aos grandes empresários e multinacionais, como se a burguesia estivesse pronta a chamar Lula a governar novamente.
Seguindo seu raciocínio, como não houve golpe em 2016, Lula e o PT poderiam voltar a governar como governaram entre 2003 e 2016. O golpe, no entanto, ocorreu e foi produto de um realinhamento de forças da burguesia, uma articulação do imperialismo para intensificar a expropriação do povo trabalhador pela liquidação dos direitos trabalhistas e conquistas econômicas de décadas de luta. O golpe de 2016 foi dado porque a burguesia e o imperialismo chegaram à conclusão de que não conseguiriam fazer o que fizeram nos governos Temer e Bolsonaro se continuassem tolerando Lula e Dilma. Como, para o PSTU, tudo mudou sem nada mudar, o partido permanece na mesma política: a frente ampla, uma aliança com a direita golpista contra Lula e o PT, é “tarefa número um”, e a oposição a uma frente única contra Bolsonaro e todos golpistas, uma necessidade.