Assim como Getúlio Vargas no Brasil, Juan Domingo Perón (1895-1974) materializou as contradições e as vitórias do nacionalismo burguês da América Latina, entrou pra história da Argentina, e da própria América Latina, sendo uma figura bastante complexa e, em certo sentido, contraditória.
Com carreira militar, assim como Vargas, Perón teve três décadas de serviço, tendo inclusive abandonado a patente de Tenente-General para seguir a carreira política e se tornou um personagem crucial na história argentina como instrumento do nacionalismo burguês, um projeto de desenvolvimento nacional e de ruptura com setores oligarcas que comandavam a Argentina.
O Peronismo, como todo nacionalismo burguês foi o resultado de uma mobilização de massas que desestabilizou o regime político. E isso foi feito com uma base fundamental nos sindicatos. É nessa época, por exemplo, que a CGT (Confederação Geral do Trabalho da República Argentina) se consolida nas mãos dos peronistas.
Este governo argentino, do período que se manteve neutro na Segunda Guerra Mundial e foi simpático com Alemanha nazista, a Itália fascista, ao Franquismo, etc. acabou tomando um golpe de Estado em 1945, sendo derrubado por outros militares. O alvo principal do golpe era o próprio Perón, cujo poder perante a classe operária já estava bem evidente diante do imperialismo.
Foi um golpe totalmente orquestrado pelo imperialismo norte-americano. Um fato histórico é que o articulador do golpe foi Spruille Braden, um americano embaixador da Argentina com relações com a família Rockefeller, um cidadão articulador de diversos golpes da América Latina, como também Nicarágua e Guatemala.
Os golpistas são tomados de surpresa, porque, embora o movimento sindical não estava preparado para dar uma resposta ao golpe, eles emitiram um chamado por Greve Geral. Quando o rádio anunciou que o golpe aconteceu e Perón foi deposto – justo o homem das leis trabalhistas e sociais – a classe operária começou a sair das cidades do entorno de Buenos Aires e se dirigiram ao Palácio do Governo.
Foram cerca 50 mil operários na manifestação que lotaram completamente A Praça de Maio, um local que fica em frente a Casa Rosada, o palácio do governo. O local sendo tomado totalmente, ocupado pelos operários industriais, colocou o golpe em cheque. Eles decidiram que não iam sair de lá, criando um impasse total e exigiam a volta de Perón, ficando até a madrugada. Só abandonando o local após o próprio Perón, libertado de sua prisão, aparecer na sacada da Casa Rosada e proferir um discurso anunciando que havia sido anunciado um pacto para realizar eleições democráticas no ano seguinte, em 1946.
O imperialismo vai se unificar totalmente contra a candidatura de Perón nas eleições. Ele cria um partido chamado Partido Laborista (Partido Trabalhista). A eleição vai se transformar numa verdadeira guerra civil, com o imperialismo atacando o Perón abertamente. O embaixador Braden, emissário dos Norte-Americanos chegou a publicar um livro chamado ”O livro branco dos crimes de Perón”.
Num dos grandes comícios eleitorais de Perón, ele destacou: ”É Braden ou Perón!”, querendo dizer que era a escolha entre os Estados Unidos e a nação Argentina. E foi assim que a eleição se polarizou concretamente com Perón, vencendo a guerra da eleição e governando o país por três mandatos – de 1946 a 1952, de 1952 a 1955 e de 1973 a 1974.