Serguei Mironovich Kirov, líder destacado da facção bolchevique, há 135 anos, em 1º de dezembro de 1934, foi assassinado pela burocracia stalinista, episódio que marcou o início do que ficou conhecido como o “Grande Expurgo”. Assim, deu-se o extermínio final de todos os opositores de Josef Stálin, o principal expoente da burocracia soviética, que tratou de extinguir grande parte dos remanescentes antigos bolcheviques do governo soviético.
Como muitos outros dirigentes bolcheviques
Kirov nasceu como Serguei Mironovich Kostrikov, em 27 de março de 1886, em uma família pobre de Urjum. Após ter sido abandonado pelo pai, Miron Kostrikov, sua mãe morreu no ano seguinte, tornou-se órfão e passou a viver com a avó até os 7 anos de idade, quando foi morar num orfanato.
Kirov conseguiu ingressar em uma escola industrial em Kazan, em 1901, quando um grupo de ricos benfeitores forneceu uma bolsa para ele. Lá, formou-se em engenharia, mudando-se para Tomsk em seguida. Em 1904, com a grave crise política e social vivida na Rússia, Kirov se tornou marxista e se juntou ao Partido Operário Social-Democrata Russo (POSDR). Participou na Revolução Russa de 1905, chegando a ser preso, ocasião em que se posicionou como bolchevique.
Em 1906, voltou à prisão, onde ficou detido por mais de três anos, desta vez por impressão de literatura ilegal. Após sua libertação, voltou às atividades revolucionárias. Após ser novamente preso por impressão de literatura ilegal, e mais um ano de prisão, afastou-se para o Cáucaso, onde permaneceu até a abdicação do czar Nicolau II.
Durante este período no Cáucaso, adota o nome Kirov, um pseudônimo para escrever, assim como outros líderes revolucionários russos. O nome “Kir” remeteu-lhe a um rei e guerreiro persa. Ainda nessa época, encabeçaria uma administração militar bolchevique em Astracã.
Após a Revolução Russa de 1917, Kirov lutou na Guerra Civil Russa até 1920, em que os bolcheviques (Exército Vermelho) venceriam. Em 1921, liderou a organização do grupo no Azerbaijão. Após a morte de Lênin, apoiou Stálin enquanto líder do Partido Comunista, o que lhe valeu, em 1926, a nomeação para liderar a seção do partido em Leningrado.
Assassinato e expurgo
Por volta de 1930, a popularidade de Kirov era crescente, sendo já considerado como um dos possíveis sucessores de Stálin. Stálin começou a sentir que Kirov ameaçava sua liderança. Por mais que fosse de fato um apoiador, durante os anos 1930 ele demonstrou maior independência em dirigir as atividades na organização de Leningrado e gradualmente assumiu uma posição de poder, beirando a rivalidade com Stálin.
Mais tarde, em 1934, Stálin pediu a Kirov que trabalhasse com ele em Moscou, mas Kirov recusou, preferiu continuar a desempenhar as atividades em Leningrado. Em dezembro, enquanto estava trabalhando em seu gabinete, Kirov pediu para que seus guarda-costas ficassem nas escadarias observando outros oficiais, quando foi surpreendido por Leonid Nikolaev, que atirou pelas costas do dirigente. Leon Trótski, na época, denunciou que a polícia política (NKVD) atuou sob ordens de Stálin, que acabou com o seu suposto concorrente, e que, logo em seguida, sob o pretexto de perseguir e castigar os assassinos, inauguraria agravaria a repressão na União Soviética, perseguindo, prendendo e assassinando grande parte dos comunistas que se opunham ao regime.
Foi um momento crítico da União Soviética, a campanha de Stálin foi de extrema repressão política entre 1936 e 1938, com inúmeros membros do Partido Comunista e oficiais do governo expulsos do País. Estima-se que Stálin tenha eliminado aproximadamente dois terços do Partido Comunista, cerca de 5.000 oficiais do Exército Vermelho, quase todos os generais e incontáveis civis.
As execuções foram algo sem precedentes. Mais de 681.000 soviéticos e estrangeiros foram enquadrados como ameaças por Stálin. Isto causou enorme revolta e medo na população soviética, que viu seus antigos heróis da revolução de 1917 mortos acusados de conspirar contra o regime stalinista.
Muitos dos condenados no Grande Expurgo foram mandados para os gulagues, campos de concentração do regime stalinista. A história dos sobreviventes somente ficou conhecida muito depois, através de condenados que saíram do país e compartilharam suas histórias e terrores vividos.
Os soviéticos, reféns da máquina de propaganda do regime, tiveram acesso apenas a dados limitados, não tinham dimensão do nível que o expurgo atingiu, em geral ficavam sabendo quando algum militar de cargo mais alto era julgado e expulso do País.
O fato é que o assassinato de Serguei Kirov foi utilizado como uma desculpa para a brutal repressão interna na União Soviética. É mais um dos episódios que mostram como a burocracia stalinista prostituiu a revolução russa de 1917, exterminando seus próprios líderes.