Irrompe, nesta terça-feira, dia 5, na África do Sul, uma greve de prazo indefinido, na qual se exige um aumento salarial condigno, entre outras demandas. A ação é a do Sindicato Nacional dos Metalúrgicos da África do Sul (NUMSA, em sua sigla em inglês), o maior do país, com cerca de 155.000 membros. Os trabalhadores prometem que a greve perdurará até que todas as demandas sejam atendidas.
O estopim se dá diante da proposta do empregador de um aumento salarial de 4%, contrária à exigência do sindicato, que é a de 8%.
Irvin Jim, Secretário Geral da NUMSA, afirmou: “Não aceitaremos que o governo e as empresas se escondam atrás da COVID-19 para continuar com essa atitude, adotada constantemente, de recusar dar aos trabalhadores os aumentos salariais que merecem e os privam de seu sustento remuneração. É importante notar que, como as empresas e o governo, os trabalhadores carregam o mesmo fardo quando enfrentam condições socioeconômicas difíceis. Os trabalhadores sustentam suas famílias e, em uma economia estagnada, isso corroí ainda mais seu próprio poder de compra.”
Só na história da atuação dos metalúrgicos sul-africanos, registrou-se em, 2014, uma greve que durou quatro semanas. A indústria metalúrgica é um setor importante para a economia sul-africana, respondendo por quase 2% da produção econômica do país. Por tanto, não é de hoje que trabalhadores vêm levantando diversas ações, até a presente greve. Temos a questão dos aumentos salariais como também uma ação contra a reforma trabalhista que desde Cyril Ramaphosa, presidente da África do Sul (um empresário que antes de ser presidente era conhecido no país por ter a franquia do Mc Donald’s no país), pretendeu empurrar goela abaixo da classe operária (de modo idêntico ao que acontece no Brasil). Em 2018 mesmo, por este motivo de retirada de direitos da classe trabalhadora, também houve uma greve geral de muitos sindicatos, com protestos na Cidade do Cabo, Joanesburgo, Pretória e várias outras cidades.
Note-se que a economia daquele país desabou 7% em 2020, que teve com consequência um significativo aumento da massa de desempregados, sendo que 34,4% no segundo trimestre deste ano, afetando principalmente a juventude. Pessoas jovens, até 34 anos, sofrem com 46,3 % fora do mercado de trabalho, ou seja, um em cada dois jovens ficou na rua da amargura. Não é mais de se alegar que a deterioração na vida do país tem a ver somente com a questão racial, já que grande parte da população está submetida a uma péssima qualidade de vida, sob o chicote da exploração da burguesia local e estrangeira. “De acordo com dados do Banco Mundial, o país apresenta o coeficiente Gini – usado para medir desigualdade social – mais alto do mundo, 0,63; e 50,5%” (de acordo com Jornal da Causa Operária, B4, de 26/07/2021). É por isso que os trabalhadores atuam ativamente por suas causas, travando lutas encarniçadas por suas reivindicações.
Outro ponto de inflexão, que potencializa os acontecimentos atuais na África do Sul, é um fio condutor que vem desde a prisão do ex-presidente Jacob Zuma, em julho deste ano, numa operação muito parecida com a Lava-jato, no Brasil, que fez o presidente Lula amargar 580 dias na prisão. O que aconteceu foi que parte da população ficou a seu lado, a grande massa insatisfeita com a situção crescente de miséira. Protestos contra a prisão de Zuma eclodiram por todo país, aos quais se seguiram saques em grande escala, motivado pela fome de grande parte do povo. Não tardou aí a repressão com a organização de milícias amarmadas, deixando quase três centenas de mortos.
Então, diante das brutais contradições sociais da sociedade sul-africana atual, o que se verifica é um claro impulso de combate pelo povo, da classe operária, que tende a se unir a um objetivo único, qual seja, fazer valer e impor suas reivindicações, na luta contra a crise capitalista, contra a exploração, contra a miséria sem precedentes. Tal movimentação cresce em todos os setores na sociedade.



