Agostinho dos Santos, cantor e compositor brasileiro, terá sua vida documentada em filme, intitulado Agostinho, previsto para ser lançado ainda este ano. Inovador, eclético e internacional, conhecido por uma voz inigualável, foi um dos precursores da Bossa Nova. Apareceu para o grande público no começo dos anos 50 e, rapidamente, se tornou um dos mais aplaudidos intérpretes brasileiros. Mas teve morte prematura e trágica num acidente de avião, e acabou ficando no esquecimento. O filme resgata o importante trabalho do artista, prestando homenagem a ele e aos seus fãs, além de possibilitar o seu reconhecimento, como grande artista brasileiro, nos dias atuais.
O documentário Agostinho, filmado sob direção de Ney Inácio, traz depoimentos exclusivos de nomes como Marcos Valle, Martinho da Vila, Milton Nascimento, Roberto Menescal, Ruy Castro, Sergio Mendes, Toquinho e Zuza Homem de Mello (1933 – 2020). Inácio reuniu imagens de arquivo – algumas raras, como um especial de Agostinho com Alaíde Costa – e depoimentos que são costurados no roteiro com takes de show documental produzido por Thiago Marques Luiz no Teatro Cacilda Becker, em São Paulo (SP), com as presenças de cantores como Agnaldo Timóteo, Claudette Soares, Edith Veiga, Moacyr Franco e Roberto Luna.
O paulistano Agostinho dos Santos nasceu em 25 de abril de 1932 e foi criado no bairro do Bexiga. Deu início a carreira em 1950, apresentando-se como crooner da orquestra de Osmar Milani. Logo foi contratado pela Rádio América e, em 1953, gravou seu primeiro disco, que trazia como destaque o samba “Rasga teu verso”. Com voz suave, muito bem colocada e de boa potência, o cantor paulista começou gravando – como todos os seus contemporâneos – um repertório eclético. Mas sua veia romântica falou mais alto e gerou sucessos como “Balada Triste”, de Dalton Vogeler e Esdras da Silva. A versão de Agostinho disputou com a de Ângela Maria, a preferência dos ouvintes.
Nos anos 50 e 60 Agostinho ganhou prêmios e atuou como compositor, além de cantor. Participou do Festival de Bossa Nova no Carnegie Hall, em Nova Iorque (1962) com o conjunto de Oscar Castro Neves. Teve também uma rápida passagem pelo rock’n’roll nos anos 50, gravando “Até Logo, Jacaré”, versão de Julio Nagib para “See You Later, Alligator”, de Bill Halley & His Comets.
No dia 11 de julho de 1973, o avião que levava Agostinho dos Santos para a Grécia pegou fogo em pleno ar, matando 134 pessoas a cinco quilômetros do Aeroporto de Orly, em Paris. O cantor viajava para defender em um festival a canção “Paz Sem Cor”, que havia composto em parceria com sua filha Nancy, então com 17 anos.
Agostinho teve a aveludada voz calada precocemente aos 41 anos, nas imediações da cidade de Paris, país onde, há 14 anos, ganhara projeção internacional como intérprete original das músicas Manhã de Carnaval (Luiz Bonfá e Antônio Maria, 1959) e A felicidade (Antônio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1959), gravadas para a trilha sonora original do filme francês Orfeu negro (1959).
Apesar do sucesso, Agostinho não era de fazer concessões comerciais. Por isso, sempre prezou a qualidade de seu repertório, que reuniu algumas das mais representativas canções da música popular brasileira de sua época. Ele gravou mais de 50 discos e algumas de suas principais obras são:
Ave do amor (c/ Chico Feitosa)
Balada do homem sem Deus (c/ Fernando César)
Chuva para molhar o sol (c/ Edson Borges)
Distância é saudade
Forças ocultas (c/ Antônio Brito)
O amor está no ar (c/ Miguel Gustavo)
Prece ao sol
Quem levou Maria (samba-canção)
Remorso
Sambossa (c/ Chico Feitosa)
Sozinho com você (c/ Dirce Moraes e Heitor Canilo)
Vai sofrendo (c/ Vicente Lobo e Osvaldo Morige)