O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) deu a seguinte declaração, em uma conferência virtual do Credit Suisse, ocorrida na última quarta-feira (27): “Se ficar PT e Bolsonaro, a chance de Bolsonaro ganhar é grande. Atribui-se muita coisa errada ao PT” . O tucano se refere, naturalmente, às eleições presidenciais de 2022. Também presente na conferência estava o ex-presidente golpista Michel Temer (MDB), que afirmou que seria “importante encontrar alguém que saiba sensibilizar a vontade popular” , um cinismo absurdo vindo de alguém que só se tornou presidente graças a um golpe de estado.
O principal, no entanto, é compreender o que está por trás da declaração do líder do PSDB. É uma sinalização clara de que o apoio de seu grupo político, que representa um dos principais setores da burguesia, irá diretamente para Bolsonaro no caso de uma disputa dele contra o PT. Enquanto um setor da esquerda está articulando o apoio ao provável candidato tucano, João Doria, o PSDB já prepara o apoio a Bolsonaro. O cenário ideal para a burguesia é que algum candidato de sua confiança, como o próprio Doria, chegue ao segundo turno contra Bolsonaro, para que possam se utilizar da jogada do “Biden brasileiro” e eleger o tucano com o apoio da esquerda pequeno-burguesa.
No entanto, o cenário de Doria, ou algum outro candidato da direita tradicional, chegando ao segundo turno, se mostra cada vez mais difícil. Isso ficou claro com as últimas pesquisas realizadas com relação às eleições de 2022. Em todas elas, Bolsonaro aparece liderando e os candidatos da direita tradicional com pontuações muito baixas. Uma delas é a pesquisa do Instituto Paraná, que mostra Bolsonaro com 31% das intenções de voto e João Doria com 5,3%. Essas pesquisas não são nada confiáveis, naturalmente. Haja visto que, nessa do Instituto Paraná por exemplo, Lula aparece com menor intenção de votos do que Bolsonaro (17,3%), o que constitui uma flagrante falsificação. Mas, no que diz respeito aos candidatos da direita, que de um modo geral são favorecidos pelas pesquisas, evidencia-se a grande dificuldade de Doria de se mostrar competitivo em um cenário eleitoral.
Neste momento, isso é particularmente preocupante para a burguesia, considerando a gigantesca propaganda feita com a questão da vacina em São Paulo, com João Doria sendo retratado como grande herói da luta contra a pandemia e Bolsonaro como o terrível negacionista genocida. A dificuldade da burguesia de “vender” seu candidato é um demonstrativo do tamanho da crise em que se encontra a política dessa ala mais tradicional da direita, também conhecida como “centrão”.
Outra prova da disposição que o centrão tem em apoiar Bolsonaro é o que ocorreu na eleição para a presidência da Câmara dos Deputados. A princípio, todos os partidos que compõem o centro (e até partidos de esquerda, como PT, PSOL e PC do B) iriam apoiar Baleia Rossi, do MDB, e candidato do atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM). No entanto, Bolsonaro conseguiu convencer alguns setores do DEM para apoiar o seu candidato, Arthur Lira, através de propinas cargos e coisas do tipo, e a debandada se deu nos outros partidos também. No PSDB, por exemplo, foi necessária a intervenção dos caciques do partido, como Doria e FHC, para tentar convencer os deputados a manterem o compromisso e apoiarem Baleia Rossi. Não se sabe como se portarão os deputados tucanos, mas já é um demonstrativo de que não há nenhum problema para eles em apoiar Bolsonaro.
Esse fato deve servir de aviso à esquerda que embarca de forma inconsequente na frente ampla com o centrão acreditando que eles são anti-fascistas e querem combater Bolsonaro. Um de seus principais líderes está afirmando, mesmo que de forma disfarçada, que o apoio deles será a Bolsonaro. Será o mesmo que fizeram em 2018. Já naquele período se sabia que Bolsonaro era um fascista com aspirações a genocida, no entanto, Fernando Henrique e o resto da direita não tiveram problema nenhum em votar nele para presidente. Não há, da parte desses setores, nenhuma consciência “civilizatória” ou “democrática” que os impeça de apoiar o fascismo.
Nesse sentido, é preciso ter clareza de que o “fora Bolsonaro” da burguesia é apenas uma manobra para procurar desgastá-lo até as eleições e que, se esse desgaste não for suficiente para que um candidato como Doria se consolide, o apoio da burguesia será para o próprio Bolsonaro, contra o PT. Trata-se do velho bloco golpista, que derrubou Dilma em 2016 e não quer a volta do PT ao poder de jeito nenhum. A única forma de combater esses golpistas é lutando pela candidatura de Lula em 2022. Lula é a principal liderança da classe operária atualmente é o único que pode impulsionar uma mobilização das massas em torno da sua eleição. Essa mobilização é a principal arma dos setores populares e de esquerda contra os golpistas, que dominaram o cenário político de 2016 para cá. A luta já deve começar agora, com a exigência da restituição dos direitos políticos de Lula e, posteriormente, para que sua candidatura seja aceita em 2022 e para que seja apoiada por toda a população.