Na semana passada o Senado norte-americano aprovou um projeto de lei denominado “Ato de Competição Estratégica”. Com mais de 270 páginas, o documento é repleto de acusações contra a China e a Rússia em relação à “disseminação de desinformação”, “influências malignas”, “ameaça à ordem internacional”, entre outras dezenas de classificações absurdas e hipócritas.
Dentre os vários ataques, direcionados sobretudo à China, o documento determina que, com o objetivo de “contra-atacar a influência maligna do Partido Comunista Chinês”, 300 milhões de dólares estão autorizados a serem destinados para espalhar informações sobre o “impacto negativo” do projeto chinês do Cinturão e Estrada (projeto que visa construir uma vasta rede de ferrovias e rotas marítimas, ligando 65 países), programas de “influência anti-chinesa”, treinamento de jornalistas para fazerem propaganda contra a China, e mais outros diversos absurdos.
Outros milhões em fundos também foram destinados à “Rádio Ásia Livre” para que essa pudesse expandir sua programação em outras línguas — uma rádio financiada pelo governo norte-americano, a serviço do imperialismo, para promover propagandas contra China e Rússia.
O documento também acusa a China de perseguir interesses que “ameaçam a futura paz, prosperidade e liberdade da comunidade internacional”, o que “colocaria em risco a capacidade dos Estados Unidos de defender seus interesses nacionais”, sendo os interesses da China, portanto, “contrários aos interesses e valores dos Estados Unidos, seus parceiros, e grande parte do resto do mundo”.
Mais a frente é possível ver uma defesa descarada da independência de Taiwan, além dos ataques relacionados às disputas territoriais no Mar do Sul da China. O documento também acusa a China de falta de transparência em relação ao coronavírus.
A China seria um governo extremamente autoritário que tenta espalhar seu “modelo leninista de governança” (palavras do documento) pelo mundo numa tentativa de se tornar o “poder mundial líder”, suprimindo valores e liberdades individuais daqueles que contestarem o país e “reformulando a atual ordem internacional, construída sobre o Estado de Direito e ideais e princípios livres e abertos”, etc.
A hipocrisia apenas na primeira página é tanta que deixa qualquer declaração de Donald Trump “no chinelo”. Com a propaganda de “somos detentores da verdade”, os EUA acusam a China e a Rússia de espalharem desinformação enquanto eles mesmos seriam exemplos de ética e moral a serem seguidos e no qual o mundo todo se espelharia — ordem que estaria sendo ameaçada pelos “malignos russos e chineses”.
As dezenas de calúnias contra os governos de China e Rússia feitas no documento não são uma novidade. É uma reunião das diversas acusações e das políticas imperialistas para avançar contra tudo e todos que questionam seu domínio. Insistem em liberdade enquanto a escalada autoritária e a supressão de direitos individuais nos países ditos “democráticos” só aumentam.
Ao mesmo tempo, os EUA deixam bem claro que tudo o que eles acusam os chineses e russos de fazerem “prejudicam seus interesses”, portanto, “seus interesses estão errados porque prejudicam os meus.” Afirmam que esses países ameaçam a paz mundial e procuram uma escalada autoritária, com direito a interferência nos interesses de outros países, quando as ações do imperialismo e das políticas neoliberais no mundo são conhecidas justamente por seus estragos e interferência nos assuntos de outros países.
O fato de destinarem milhões de dólares para propagandas contra esses países — tanto dentro como fora destes, como afirma o próprio documento — é um mero capricho para “preservar a paz, prosperidade e liberdade mundial”. Já a “paz, prosperidade e liberdade mundial” consiste nas várias guerras instigadas pelos EUA para os próprios interesses políticos e econômicos dos monopólios imperialistas.
Os EUA usam a imprensa no mundo todo como meio de propaganda para seus próprios interesses — algo que acusam China e Rússia de fazerem. Eles acusam os meios de comunicação desses países de “terem parcialidade”, enquanto afirmam que os jornais norte-americanos são “isentos, independentes e puros”. Isso é visto, por exemplo, nas tarjas colocadas em jornais como a Russia Today (RT) nas redes sociais que as colocam como imprensa financiada pelo Estado russo e acabam também por diminuir seu alcance. Essas tarjas, entretanto, não são vistas em nenhum dos jornais imperialistas como Deutsche Welle (Alemanha), France 24 (França) e BBC (Inglaterra).
É visível que a imprensa imperialista está intimamente ligada aos governos imperialistas e suas agências de inteligência, o que implica também numa relação estreita entre os capitalistas donos de jornais e estes mesmos governos e, portanto, nada de “independência, imparcialidade ou pureza” vem da imprensa imperialista, muito menos dos países que a controlam.