No final de fevereiro o veículo da imprensa burguesa venezuelana El Universal noticiou que o governo de Joe Biden havia acabado de realizar uma reunião com a direita da Venezuela que se encontrava na capital da Colômbia, Bogotá. Nessa reunião, foram discutidas novas estratégias para um golpe de estado que derrube o governo nacionalista de Nicolás Maduro, já que as tentativas de criar um movimento dentro do país com Juan Gauidó fracassaram completamente.
Dentre as estratégias abordadas está a tentativa de criar algo no sentido do que foi feito com as Ilhas Malvinas na Argentina, na região do Essequibo, disputada desde o século XIX pela Venezuela e pela Guiana.
A região é considerada a segunda maior em petróleo inexplorado em todo o mundo, o que é um prato cheio para as empresas petrolíferas imperialistas. Além disso, o Essequibo conta com uma grande quantidade de outros minérios, como o urânio, e outros recursos naturais.
A origem da disputa pelo território tem início logo após a criação da Grã-Colômbia em 1819, com o processo de independência do que hoje são os países do Equador, Colômbia, Panamá e Venezuela. Na época, o estado fundado pelo libertador Simón Bolívar não teve problemas com a delimitação de seu território, que terminava no Rio Essequibo.
No entanto, a partir de 1835, a Inglaterra passou a usurpar parte do território para além do Rio Essequibo, considerando a parcela de terra pertencente à sua então colônia Guiana. A Venezuela, claro, não aceitou.
Já no final do século, em 1889, a Inglaterra decidiu retirar ainda mais uma parcela do território venezuelano e criou um laudo arbitral fictício, do qual o país caribenho foi impedido de enviar representantes, mas que teve de se submeter ao que foi decidido. Segundo William A. Clavijo Vitto “A comissão arbitral foi conformada por dois ingleses, dois norte-americanos em representação da Venezuela e um representante da Rússia, que, de acordo com a documentação histórica, era amigo íntimo da rainha da Inglaterra”.
Em 1949, um memorando de um dos norte-americanos que participou da comissão, Severo Mallet-Provost, foi publicado. Nele, o processo farsesco foi desmascarado, já que ficava claro que o juiz que havia levado o processo adiante havia coagido seus integrantes a aceitar o laudo proposto.
Isso fez com que a própria Venezuela reclamasse os direitos ao território durante a XVIII Assembléia Geral das Nações Unidas. A ONU reconheceu a nulidade do acordo de 1889, mas a Inglaterra colocou mais um fator na discussão sobre o território, o que postergou a devolução da região à Venezuela: a independência da Guiana.
Fazendo muita demagogia com a questão, a Inglaterra disse que a Guiana, que desejava sua independência (o que só viria a acontecer em 1970), também reclamava a região do Essequibo como sendo sua.
Após esse período a disputa do Essequibo ficou em aberto, mesmo após a independência da Guiana, que foi prontamente reconhecida pela Venezuela, mesmo sem o país abrir mão da disputa territorial.
O imperialismo sempre pendeu para o lado da Guiana, já que, com o controle do território, a Venezuela aumentaria ainda mais suas reservas de petróleo e de outros importantes recursos minerais. No entanto, ao invés de realizar o desenvolvimento da Guiana, o imperialismo sempre preferiu que o território continuasse em disputa, para que fosse mais fácil o controlar no futuro.
É exatamente isso que ocorre agora. Com as nacionalizações dos campos de petróleo venezuelanos em 2007, levadas adiante por Hugo Chavez, as gigantescas petrolíferas imperialistas intensificaram o apoio à Guiana. Isso porque caso a Venezuela tenha controle sobre o território, a chance de que essa parcela dos recursos também seja estatizada é muito grande.
Dessa forma, petrolíferas como a Exxon Mobil, a Shell, a GCX e a Hess começaram a forçar a Guiana em troca de concessões de exploração, tanto no território terrestre, quanto no território marítimo que é determinado pela parcela de terra da região do Essequibo.
Ambas as ações são ilegais do ponto de vista do direito internacional, já que segundo o acordo de Genebra de 1966, acordo do qual Venezuela e Guiana são signatários, os países não podem fazer concessões à exploração de territórios em disputa sem o consentimento da segunda parte envolvida. Além disso, os territórios marítimos não podem ser delimitados sem que os territórios terrestres o sejam.
Por fim, em 2017, passando por cima do direito internacional mais uma vez, o secretário-geral da ONU Antonio Guterrez decidiu acatar o que propunha a Guiana e levou o caso à Corte Internacional de Justiça, enquanto a Venezuela preferia uma negociação direta com o país vizinho. A Aberração jurídica se encontra no fato de que o direito internacional determina que só é possível realizar uma manobra como a de Guterres com o aceite de ambas as partes, além do fato de que nem a Venezuela nem a Guiana se submetem aos estatutos da Corte Internacional de Justiça.
O caso revela como o imperialismo cria crises entre países oprimidos e as utiliza em benefício próprio. A questão do Essequibo deveria dizer respeito somente às partes envolvidas, no caso, Venezuela e Guiana, mas as manobras do imperialismo vão no sentido de garantir a sua exploração pelos monopólios.
O imperialismo não consegue conviver com a soberania de países como a Venezuela. Manipulam informações, pessoas e países de acordo com seus interesses de modo a impedir o desenvolvimento e para a rapina de seus recursos naturais.
A solução para a questão histórica só será de fato resolvida quando os países oprimidos da América-Latina se virem livres da opressão imperialista. Nesse período futuro, é bem provável que os recursos naturais sejam utilizados para o desenvolvimento de ambos os países em conjunto, sem que algum magnata inglês, norte-americano, canadense ou de algum outro país imperialista lucre com isso.