Xiomara Castro, candidata do Partido Liberdade e Refundação (Libre), declarou: “revertemos o autoritarismo e o ‘continuísmo'”. “Ganhamos!”, disse, em sua primeira declaração à imprensa, autoproclamando vitória nas eleições presidente de Honduras, na noite desse domingo (28).
Conforme o Conselho Eleitoral do país, Castro tem ─ até a última edição desta reportagem ─ 53,53% dos votos, contra 34,02% do candidato da direita, o prefeito da capital Tegucigalpa, Nasry Asfura (Partido Nacional), com 30% das urnas apuradas.
“Vamos por uma democracia direta, vamos por uma democracia participativa”, afirmou Xiomara, que fez uma campanha baseada na mobilização popular. Ela logicamente aposta também na conciliação de classes, como é natural da esquerda nacionalista latino-americana. Porém, a situação política no país ─ como em todo o continente ─ é de uma polarização que torna difícil a conciliação com a burguesia e o imperialismo, como demonstrou a mobilização das massas populares hondurenhas nesses 12 anos desde o golpe de Estado contra Manuel Zelaya, em 2009.
Xiomara (esposa de Zelaya) não só denunciou o golpe de estado durante o período de campanha eleitoral, mas também prometeu um programa popular contra a ingerência imperialista no país e chamou a população a sair às ruas como forma desmontar o esquema eleitoral que mantém no governo o mesmo partido golpista, o Partido Nacional de Honduras.
Sua candidatura também reflete os esforços da própria esquerda nacional, que, após 2009, organizou um partido nacionalista de esquerda, o Libre, encabeçado pelo próprio Zelaya em seu giro à esquerda.
Dentre seu programa de luta, Xiomara fala em um “socialismo democrático” e prometeu legalizar o aborto no país. Além disso, prometeu voltar a estabelecer um comércio com a China, o que vai completamente na contramão do que é imposto pelo imperialismo, em especial os EUA, no país. Após a promessa de estreitar relações com o país asiático, o governo de Taiwan (governo fantoche do imperialismo) soltou notas dizendo que “a China não cumpre com suas promessas”, nada além do que palavras vazias de sentido real, mas ditas pelo imperialismo.
O tema é importante, pois, após o golpe de estado, Honduras se tornou um dos únicos 15 países no mundo a ter relações diplomáticas com a Ilha Formosa (Taiwan). A eleição de Xiomara se transformaria em um duro golpe contra o imperialismo.
A campanha mobilizou uma ampla parcela da população, se tornando uma das mais acirradas de todos os tempos no país e levando, inclusive, a enfrentamentos físicos e assassinatos (31 pessoas foram mortas nesse período por motivos políticos).
O clima é de extrema tensão e muitos são os indícios de que, mesmo após a vitória, o clima não irá esfriar, com a possibilidade de que haja um clima de guerra civil pelo país, com muitas pessoas tendo estocado alimentos em casa nos últimos dias.
A preocupação do imperialismo é tamanha que os EUA enviaram seu chefe da diplomacia para a América Latina, Brian Nichols, ao país para assegurar que nada saia de seu controle.
A campanha de Xiomara, portanto, se transformou em um exemplo de que não há como a esquerda governar nenhum país da América Latina sem se confrontar fortemente com o imperialismo. É necessário ver o exemplo e segui-lo aqui no Brasil, mobilizando a população contra o golpe de estado e lutando pela candidatura de Lula em 2022.