Blog do Esmael
As imagens das ruas no último 1º de maio, Dia do Trabalhador, ainda chocam os progressistas brasileiros que assistiram a extrema direita bolsonaristas mobilizar mais. Na Avenida Paulista, centro de São Paulo, ao menos 15 mil apoiadores do presidente Jair Bolsonaro se manifestavam contra os direitos, negavam a vacina, aglomeravam sem proteção, enfim, defendiam as estultices do inquilino do Palácio do Planalto.
Com exceção do PCO, de Rui Pimenta, que foi às ruas da capital paulista, as demais organizações do mundo do trabalho e partidos de esquerda trocaram o asfalto pelo conforto das lives –as transmissões online cujo alcance é cada vez menor devido aos bloqueios de algoritmos do Facebook e Google.
“A esquerda tem que parar de se esconder debaixo da cama”, espinafrou Rui Pimenta, no dia Primeiro Maio, em um discurso para 2 mil pessoas na Praça da Sé.
No entanto, o “fique em casa” do PT não é consenso no partido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O ativista social e escritor Milton Alves, de Curitiba, pregou a necessidade “voltar às ruas para livrar o país do governo genocida de Bolsonaro”. “É preciso abrir um debate sério no interior da esquerda sobre a necessidade de ocupar as ruas novamente, com uma agenda de manifestações presenciais, seguindo os protocolos sanitários e de autoproteção individual e coletiva”, escreveu em artigo no Blog do Esmael.
Na mesma linha, o presidente nacional do PSOL, Juliano Medeiros, afirma que é hora de voltar às ruas do país. Segundo ele, na Colômbia, o exemplo da população nas ruas afirmou que o presidente [Ivan Duque] é mais perigoso que o vírus, deu o sinal de que é preciso agir aqui no Brasil.
“Uma pesquisa recente demonstrou que nas cidades dos Estados Unidos onde foram realizados protestos do movimento Black Lives Matter, não se verificou um aumento relevante de casos de Covid-19, o que comprova que podemos voltar às ruas, desde que respeitadas as medidas de proteção, como o uso permanente de máscaras, álcool em gel, dentre outras”, disse Medeiros.
O dirigente do PSOL disse, no contexto das quase 500 mil mortes na pandemia e falta de auxílio emergencial, que os brasileiros chegaram ao limite e que a voz das ruas é o que falta para mudar a situação política no país.
Na prática, os aliados estão dizendo ao PT que no mundo inteiro –apesar do vírus– movimentos e partidos políticos estão indo para as ruas e que é preciso sair debaixo da cama, como pediu o PCO.
O diabo é que um setor importante do PT acredita que é preciso poupar energia. Quanto menos se mexer, melhor. Teme-se fragilizar Jair Bolsonaro demais e tirá-lo do segundo turno, em 2022, se houver “tempestades nas ruas”. O último Datafolha mostrou que Bolsonaro segue célere rumo à lona, o que, em tese, possibilitaria a “terceira via” na disputa presidencial.