O advogado e presidente do Instituto para a Reforma das Relações entre Estado e Empresa (IREE), think thank denunciado por este diário, Walfrido Warde, mantém um núcleo de relações que vão desde a extrema-direita, como com o general Sérgio Etchegoyen e Raul Jungmann, ex-ministros do governo golpista de Michel Temer e atualmente diretores do Instituto de Warde, até setores da esquerda que ele agrupa, como Guilherme Boulos, político do PSOL, Juliano Medeiros, presidente do PSOL, dentre outros.
Warde agora está ampliando seu leque de relações na esquerda. Recentemente Bruna Brelaz do PCdoB e presidenta da UNE publicou em suas redes sociais uma foto do encontro com Warde, no qual afirma ter tido ótima conversa sobre política, democracia e projetos a serem desenvolvidos em conjunto. Muitos outros elementos da esquerda identitária fazem parte deste círculo de relações.
No entanto, o que chama a atenção não é o fato de Warde agrupar setores aparentemente antitéticos, mas justamente o que une estes setores, e que dá bons indícios de suas reais intenções. Ambos os setores são favoráveis à frente ampla, isto é, a subordinação da esquerda, notadamente o PT, à direita tradicional na luta por substituir Bolsonaro, política que não foi bem sucedida até o momento. A política da frente ampla seria chantagear a esquerda para que essa apoie o candidato da terceira via em nome de tirar Bolsonaro, renunciando também à sua própria perspectiva de poder.
Outro aspecto fundamental que une os polos aparentemente contrários que Warde atrai ou arregimenta é que ambos foram partidários em maior ou menor grau do que se convencionou chamar de antipetismo. Uns pela direita e outros reverberando a mesma ideologia, ainda que com modificações vocabulares, pela esquerda.
Um dos instrumentos ideológicos utilizados pela burguesia brasileira em aliança com o grande capital internacional para desestabilizar o país e promover o golpe de 2016 foi o chamado antipetismo. Uma campanha sistemática de criminalização e perseguição do partido, de seus dirigentes e do governo feita por toda a imprensa capitalista e por instituições do Estado nacional realizada por anos a fio criou as condições para a formação de uma frente política de todos os setores capitalistas e que envolveu mesmo parte da própria esquerda contra o governo Dilma Rousseff.
O antipetismo, amplamente impulsionado e difundido pela burguesia, consistia, e consiste ainda hoje, não em uma crítica concreta ao partido, seus dirigentes e sua política, mas em vilanizá-lo completamente. A ideologia antipetista da direita, que atribuía ao PT a responsabilidade por todo o mal possível, necessitava, para o impacto desejado, de um complemento, uma face de esquerda que corrobora-se, ainda que com outras palavras, a ideia de que o PT era um mal. Antes do golpe muitos elementos da esquerda, vislumbrados com as possibilidades que a burguesia poderia lhes oferecer caso dissessem as palavras corretas, não resistiram e caíram nas graças da direita.
Contudo, o golpe não foi capaz de destruir o PT e nem o antipetismo manchar demasiadamente a imagem que as massas populares têm deste partido e, sobretudo, de seu principal líder, o ex-presidente Lula. Mas essa ideologia poderá ter um papel importante para a direita nas eleições vindouras, tanto para baixar sua votação de Lula e do PT, como para isolá-la do restante da esquerda e ainda como justificativa de ações mais arbitrárias como a prisão de Lula em 2018. A esquerda que irá reverberar essa campanha maciça parece estar sendo recrutada, o IREE parece ser o seu quartel-general e Warde parece desempenhar a função de general da operação macabra.
