O Comitê Brasileiro de Defensoras e Defensores de Direitos Humanos (CBDDH), composto por 42 organizações e movimentos sociais da cidade e do campo, divulgou na terça-feira passada (2) uma nota de repúdio ao assassinato do trabalhador rural Fernando dos Santos Araújo, sobrevivente da chacina de Pau d’Arco.
Esta, ocorrida em 24 de maio de 2017, foi uma brutal ação realizada pela polícias Civil e Militar do estado com a intenção de dispersar os trabalhadores sem terra que ocupam a Fazenda Santa Lúcia, que, segundo a Liga Camponesa, é uma das maiores da região, propriedade da família do pecuarista e madeireiro Honorato Babinski e ocupa ilegalmente uma extensão de terras públicas griladas. Na ocasião, segundo relatos dos sem-terra, os policiais já entraram atirando e anunciando a morte de todos os acampados enquanto estes se escondiam da chuva dentro das barracas, o que resultou em dez trabalhadores mortos, muitos dos quais, assim como Fernando, atingidos pelas costas.
Além desta chacina, o movimento de luta pela terra tem sofrido as mais diversas tentativas de intimidação em todas as regiões do País. Para citar apenas algumas das diretamente relacionadas ao acampamento no município de Pau d’Arco, as ameaças de morte ao advogado Rivelino Zarpellon em 2018, a soltura da maioria dos policiais que participaram do massacre, a autorização do despejo dos agricultores no início de 2020 – apenas não concretizada por causa do enorme estado de alerta em relação à pandemia – e, já neste ano, a prisão arbitrária do advogado José Vargas Sobrinho Júnior, do MST, e o assassinato de Fernando dos Santos Araújo.
Em particular, as três últimas destas ações para enfraquecer e intimidar o acampamento dão um claro sinal de que novas tentativas de dissolvê-lo violentamente podem estar se avizinhando. Tendo como inimigos de sua causa não apenas os latifundiários e as milícias de jagunços e empresas de segurança a seu serviço, mas todas as corporações policiais, o poder judiciário e os políticos da direita golpista aliados das oligarquias e grandes proprietários locais – que, desde as últimas eleições, ocupam as instituições em uma maioria inédita -, colocam-se como necessidades indispensáveis a luta pelo direito ao armamento – que falta a esta população que, na completa inação do Estado para garantir os direitos constitucionais da população pobre, busca fazer cumprir seus direitos completamente exposta às legiões de mercenários armados a serviço do latifúndio – e a organização independente dos camponeses para promover a sua auto-defesa, em paralelo a organizações análogas dos trabalhadores da cidade.