A prefeitura de Araraquara, sob administração de Edinho Silva (PT), determinou o retorno presencial às aulas nos ensinos infantil e fundamental no dia 12 de abril. O Sindicato dos Servidores Municipais de Araraquara (SISMAR) e a Associação dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), sindicatos de defesa dos servidores e professores, se posicionaram de forma contrária ao retorno presencial às aulas em meio à pandemia do coronavírus.
Os servidores da área da educação entraram em greve sanitária para defender a vida dos trabalhadores. O prefeito, por sua vez, se utilizou de todos os métodos típicos da direita tucana para tentar sufocar o movimento grevista. A burocracia do governo tentou desmobilizar com pressões, ameaças e perseguições contra os que aderissem à greve. Ele próprio e o conjunto de seus altos funcionários no governo partiram para acusações contra os grevistas, dizendo que os professores são “corporativos”.
O que chama a atenção é a incoerência de Edinho Silva. Ele é um dos expoentes da política do “fica em casa”, embora tenha sido um dos primeiros prefeitos a reabrir a economia e propagar a volta às aulas em aliança com João Doria (PSDB). Recentemente, Edinho entrou na Justiça para proibir manifestações políticas na cidade de Araraquara, em primeiro lugar contra as medidas ditatoriais de lockdown sem contrapartida, que mais se pareceram com um Estado de Sítio. Quando militantes de esquerda realizaram um ato contra o golpe militar de 1964, no dia 31 de março, Edinho editou decretos que proibiam a manifestação, entrou na Justiça e prometeu processo criminal e cadeia para aqueles que foram às ruas repudiar as comemorações oficiais de Jair Bolsonaro e das Forças Armadas da ditadura militar de 1964. Tudo em nome de impedir aglomerações na pandemia. Na sequência, Edinho decretou a volta às aulas, que é um dos maiores causadores de aglomeração e, por consequência, de contágio do vírus.
A política direitista do prefeito petista é um resultado de sua aliança com os partidos burgueses na cidade (MDB, PSDB, PP). Para atender aos interesses de seus aliados de direita, profundamente hostis ao povo, Edinho aplica uma política reacionária. No caso da volta às aulas, ele procedeu ao desconto salarial dos grevistas, ainda que sequer a greve tenha sido julgada como “ilegal” ou “abusiva” pela Justiça do Trabalho, segundo denunciou uma dirigente do SISMAR. Para o prefeito que vem ficando cada vez mais à direita dentro do PT, a resistência dos servidores e professores à política genocida de volta às aulas sem vacina deve ser dobrada pela imposição da fome a eles e suas famílias.
A volta às aulas sem vacina é um ataque frontal do prefeito Edinho Silva aos professores, funcionários, estudantes e pais e mães. Trata-se de uma adesão à política genocida da direita e extrema-direita bolsonarista. A servidora Queli Fernanda Geraldo Fernandez, de 45 anos, foi a primeira vítima por infecção dentro da escola municipal CER “Professor Doutor José Alfredo Amaral Gurgel”. Três escolas municipais, EMEF Henrique Scabello, CER José Alfredo Amaral Gurgel e CER Eloá do Valle Quadros foram interditadas em decorrência de surto de coronavírus após a retomada das aulas presenciais. Na quarta-feira (6), uma merendeira e um agente educacional testaram positivo no CER Cyro Guedes Ramos
O método de pressão sobre os grevistas, a difusão de mentiras sobre os trabalhadores da educação na imprensa, perseguição e corte de salários é a marca registrada dos governos do PSDB em todas as mobilizações e greves de professores. Os governadores José Serra, Geraldo Alckmin e João Doria lidam com os servidores públicos da mesma forma que Edinho Silva.
Com essa política, Edinho torna-se um político do PSDB dentro do PT. Sua política reacionária nada tem a ver com os interesses e reivindicações da base de seu partido, que quer políticas de benefício dos trabalhadores e não de corte de salários, multas, prisão e morte nas escolas, como o que está sendo promovido pela administração direitista do prefeito.
O SISMAR, que lidera o movimento grevista, solicitou reuniões com o prefeito Edinho para discutir a questão. Este último nega as reuniões com a direção sindical e exige que os grevistas encerrem o movimento e voltem às escolas para contrair o coronavírus. Exatamente como sempre fez João Doria. Exatamente!
Uma política de frente ampla e direitização da esquerda
A frente ampla significa o atrelamento dos partidos de esquerda à política da direita golpista. O governo Edinho Silva é um modelo do que é a frente ampla na prática. Trata-se de um governo de um partido de esquerda que implementa a política da direita, repressiva e antipopular, aliado aos partidos da direita tradicional na cidade. Edinho tenta encobrir sua política reacionária com propaganda dos supostos êxitos de sua política, recorrendo à manipulação grosseira das estatísticas, como faz qualquer governo do MDB, PSDB, DEM, PDT etc.
No período do lockdown, o prefeito do PT deu poderes extraordinários à Polícia Militar, Guarda Civil Municipal e Agentes de Trânsito para multar indiscriminadamente a população que simplesmente andasse nas ruas ou saísse de carro sem “justificada necessidade”. Inclusive, o 13º Regimento de Cavalaria Mecanizada se deslocou de Pirassununga até Araraquara e se posicionou para, se necessário, reprimir a população. Neste período, até mesmo os supermercados foram fechados, o que gerou uma situação de caos social e aprofundou a miséria e o desemprego na cidade, uma vez que não houve contrapartida financeira para a população, como auxílio emergencial de um salário mínimo ou congelamento dos preços ou suspensão dos cortes de energia e água. Edinho lançou uma parcela da classe média, os pequenos empresários e comerciantes, no colo da demagogia bolsonarista que busca se apresentar como “defensora dos empregos e das liberdades individuais”.
Os sindicatos de professores e servidores públicos, os partidos de esquerda e as entidades estudantis devem se mobilizar contra a política reacionária de Edinho Silva, que é a mesma que vem sendo denunciada por seu próprio partido a nível nacional, ou seja, a volta às aulas, repressão, militarização e impedimento de benefícios econômicos para o povo.