Há uma frase de Trótsiy que é assim: Ela virá, a Revolução, e trará ao povo, não só direito ao pão, mas também à poesia. Essa frase tem significado profundo, e certamente Trótski tinha consciência da amplitude do que disse.
No testamento de Trótski, lê-se: A vida é bela. Que as futuras gerações a livrem de todo mal e opressão, e possam desfrutá-la em toda sua plenitude.
E, para terminar esse preâmbulo cheio de frases, cito Lênin: É preciso sonhar, mas com a condição de crer em nosso sonho, de observar com atenção a vida real, de confrontar a observação com nosso sonho, de realizar escrupulosamente nossas fantasias. Sonhos, acredite neles.
Os dois revolucionários russos eram práticos, lideraram a Revolução. Mas ao mesmo tempo foram visionários. Lembrei-me dessas frases assistindo ao programa Análise Política da Semana, com o camarada Rui Costa Pimenta. Respondendo a perguntas, ele comentou que o que move os trabalhadores à Revolução, neste mundo capitalista, é a questão econômica. Mas que numa sociedade socialista isso aos poucos mudaria. Foi um comentário an passant, o Rui não se aprofundou. Afinal, estamos no meio de uma luta, o Brasil vive um desastre humanitário provocado por um governo radicalmente neoliberal, milhões de brasileiros estão passando fome, tomando sopa de ossos e revirando latas de lixo em busca de algo para comer. Outros milhões mal têm renda para escapar da miséria absoluta.
O que significa viver a vida “em toda sua plenitude”? Às vezes é até difícil para nós imaginarmos isso nesse mundo capitalista. O ser humano é dotado de uma consciência que ultrapassou dramaticamente o nível dos outros animais. E, no entanto, ao longo da História, a ampla maioria dos seres humanos tem vivido uma luta pela subsistência, não muito diferente das outras espécies. A dominação do homem pelo homem nos jogou para baixo na evolução.
Quem tem fome não sonha alto, quer apenas um emprego ganhando salário mínimo e um barraco na favela para morar, ou poderíamos dizer se abrigar, pois o verbo morar deveria significar ter moradia digna. Quando eu era criança havia a frase “pobre não mora, se esconde”.
Em Cuba, as pessoas leem uma quantidade enorme de livros por ano (não achei o número exato, pois certas coisas a internet esconde). No Brasil, a média é 2 livros por ano, mas aposto que a ampla maioria não lê livros, pois não tem dinheiro para isso.
O ponto em que quero chegar é que nós, militantes, não podemos perder de vista que lutamos por um sonho, o sonho de que o ser humano conquiste o direito de ser plenamente consciente, produtivo e criativo.
As grandes descobertas e invenções da humanidade foram feitas por pessoas que, de alguma forma, tiveram oportunidades na vida. O materialismo histórico de Marx só chegou até nós porque Engels, o grande amigo de Marx, teve condições de ajudá-lo. Mesmo assim, a vida do grande teórico do socialismo foi muito dura. A obra de Marx poderia ter sido perdida. Quantos gênios há na favela de Heliópolis? Nunca saberemos pois eles estão, neste momento, catando latas de alumínio para conseguir almoçar.
As possibilidades humanas, numa sociedade sem classes sociais, são tão incríveis que nós nem conseguimos imaginar. Nós, militantes revolucionários (eu humildemente me incluo nessa categoria) temos uma missão cuja importância nós mesmos às vezes não percebemos. A missão de transformar um sonho em realidade. O sonho é de um planeta Terra com igualdade, evolução e fraternidade, onde todos tenham direito ao pão e à poesia.
A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a posição deste diário.




