O governo João Doria (PSDB) reconheceu que ficará sem doses da Coronavac no mês de junho. Com o “apagão” das vacinas, acontece o travamento das próximas etapas do processo de imunização previsto no Plano Estadual de Imunizações (PEI). Segundo autoridades sanitárias do governo paulista, não é possível estimar quando será possível começar a vacinação de pessoas com 59 anos ou menos, após o término da vacinação dos grupos prioritários (60 anos de idade ou mais) e com comorbidades.
Há problemas no fornecimento dos dois principais imunizantes utilizados no Brasil, a Coronavac, produzida pelo laboratório chinês Sinovac em parceria com o Instituto Butantã, e a AstraZeneca/Oxford. Com relação ao fornecimento de insumos da China, verifica-se o problema no atraso da entrega de 46 milhões de doses da primeira dose do fármaco.
O laboratório Sinovac avisou que os 6.000 litros do insumo estão prontos para o embarque. Entretanto, o governo da China permitirá a remessa de um terço do total. Cinco milhões de doses que estão em processamento no Butantã acabam na próxima semana.
As autoridades paulistas disseram que, no mês de abril, faltaram 500 mil doses da vacina. A previsão de 1,5 milhão de entregas também sequer foi atingida. No Palácio dos Bandeirantes, sede do governo estadual, há um clima de pessimismo em relação ao andamento da campanha de vacinação.
Em 17 de janeiro, João Doria realizou um evento de lançamento da Coronavac e anunciou uma ampla campanha de vacinação. O tucano prometeu a vacinação massiva em São Paulo. Passados quatro meses, isto não aconteceu e não há previsão de que vá ocorrer.
Desde o início da pandemia, SP registra 3 milhões de casos e mais de 100 mil mortes por COVID-19, conforme os dados oficiais, subnotificados e manipulados. O governador tucano, preocupado em alavancar sua possível candidatura presidencial para 2022 e antagonizar eleitoralmente com o presidente Jair Bolsonaro (ex-PSL, sem partido), lançou uma campanha farsesca de vacinação, que jamais teve condições de cumprir e sequer se esforçou para isso.
Com a finalidade de encobrir a farsa da vacinação em São Paulo, Doria articula uma manobra diversionista, no sentido de desviar o foco e dizer que os problemas na imunização são decorrentes das declarações de Jair Bolsonaro em relação à China. Isto é, para Doria, se Bolsonaro não fizesse declarações estapafúrdias, como as de que o vírus teria sido produzido em laboratório para uma suposta guerra bacteriológica, estaria correndo tudo bem e todos estariam vacinados, o que é obviamente uma farsa.
O Brasil tem condições tecnológicas de produzir uma vacina própria. Um dos passos fundamentais é quebrar as patentes, pois os grandes monopólios farmacêuticos querem manter o controle sobre os medicamentos e, com isso, lucrar bilhões em meio à crise e ao morticínio. Torna-se cada vez mais claro que os laboratórios disputam o controle do mercado mundial, o que explica o motivo das pressões sobre o governo brasileiro por parte dos Estados Unidos, que resultaram na negação do registro pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) da vacina russa Sputnik V.
Em relação à vacinação, o que se observa é um apartheid mundial. Os países imperialistas, Estados Unidos e União Europeia, monopolizam o acesso às vacinas e são responsáveis pelo financiamento das pesquisas e produção dos fármacos. Já os países da África, Ásia e América Latina são relegados ao abandono e seus povos não têm perspectivas de se imunizar.
A situação do Brasil não é diferente dos demais países da América Latina atingidos pela doença. A propaganda da imprensa capitalista responsabiliza somente Jair Bolsonaro pelos problemas da vacinação, o que é uma manobra para jogar luz sobre um aspecto e esconder outras faces do problema.
Naturalmente que Bolsonaro tem grande responsabilidade pelo fracasso da vacinação. Não obstante, os governadores e prefeitos da direita golpista (MDB, PSDB, DEM, PSD, PTB, Progressistas, Republicanos, PSL) e os deputados e senadores no Congresso Nacional também não fizeram nada de efetivo para organizar o povo e enfrentar a doença.
A campanha da imprensa acaba por direcionar a percepção da esquerda, que entra no jogo de responsabilizar exclusivamente Bolsonaro, o que acaba por ocultar os demais responsáveis pela situação catastrófica. O genocídio do povo brasileiro é uma política de toda a burguesia golpista, planejada e executado por toda a direita golpista. A falta de vacinação acontece por causa da política de austeridade fiscal, que foi violentamente intensificada após o golpe de Estado de 2016. O teto de gastos e congelamento dos investimentos públicos por 20 anos (2016-2036) impedem que sejam feitos os investimentos necessários na produção de vacinas pelas universidades e institutos de pesquisa. Para amparar os doentes, o Sistema Único de Saúde (SUS) necessita de investimentos, que são vedados pela austeridade fiscal.
Os bancos, grandes capitalistas e os partidos burgueses que promoveram o golpe de Estado e colocaram Jair Bolsonaro na presidência da República não querem que sejam investidos recursos públicos para socorrer o povo. Tanto o presidente fascista quanto a direita “opositora” são, portanto, os promotores do genocídio.