Diante das denúncias apresentadas neste Diário relacionando Guilherme Boulos com o empresário e advogado Walfrido Warde, dono do Instituto IREE, apoiadores do Psolista, em vez de responder e argumentar sobre os fatos colocados na reportagem, partiram para a tática que podemos chamar de “argumentação coxinha”: “e a Dilma? E o PT?”
Segundo artigo da revista Carta Capital de 8 de novembro: “Não bastasse, houve quem estranhasse o fato de o jornal do PCO, tão minucioso ao descrever as relações de Warde no mundo político, ter se esquecido de citar a proximidade do advogado com petistas célebres, entre eles a ex-presidente Dilma Rousseff”. A lógica “coxinho-bolsonarista” de atacar o PT para justificar alguma acusação é bem interessante. A insinuação é a de que o PCO só se lembrou de mostrar as relações de Boulos com Warde porque teria interesses eleitorais “inconfessos”, ou seja, o PCO teria interesse em ajudar na eleição petista em São Paulo.
Logicamente a acusação é ridícula. O PCO nunca escondeu seu desprezo pela propaganda da imprensa de que Boulos é o grande nome da esquerda como foi feito em 2020, portanto a posição do partido nunca foi ocultada de ninguém. Mas o PCO também nunca escondeu que não tem nenhum interesse em apoiar Haddad, o suposto beneficiado com as denúncias, assim como nunca deixou de criticar o petista.
Mas e daí? E se o PCO tivesse interesses eleitorais com a denúncia? Para qualquer pessoa minimamente crítica isso não mudaria nada. Os fatos estão ali e deveriam ser explicados, coisa que nem Boulos, nem os defensores “confessos” de suas relações com Walfrido Warde fizeram até agora. Preferem usar o jargão bolsonarista: “mas e a Dilma?”
Já que eles insistem, é preciso explicar a diferença por demais óbvia entre a relação de Dilma com Warde e a relação de Boulos com Warde.
O que o PCO mostra na reportagem é o suspeito fato de que Boulos, um político que procura se apresentar como esquerdista, radical, à esquerda do PT etc, é um assalariado de Warde. Mais ainda, que Warde, a quem Boulos presta serviços, é um homem que através de seu instituto, o IREE, tem relações estreitas com elementos do golpe de Estado e do imperialismo. É desse homem que Boulos recebe para prestar serviços, o que para qualquer pessoa minimamente crítica já seria mais que suficiente para desqualificar Boulos como um esquerdista radical. Esse é o ponto central. Boulos acha normal ser um assalariado de Warde, mas não explica o significado político disso.
E a Dilma? A proximidade de Dilma com Warde, como afirma a matéria da Carta Capital, é um contrata para que o advogado a defendesse no caso de Pasadena. Deu para notar a diferença? Claro, a não ser que a pessoa esteja imbuída em defender Boulos – ou passar um pano como se diz popularmente – custe o que custar.
A “proximidade”, embora exista, é de outra natureza. Até onde se sabe, Dilma não é funcionária do IREE. Mas se fosse, isso não mudaria os fatos sobre Boulos. Um exemplo é o petista Jorge Vianna do Acre, que também é parte do IREE. Isso também não muda os fatos. Para mostrar as relações de Boulos com Warde não é preciso mostrar as relações de Vianna ou de qualquer outro com Warde, a não ser que se prove que as coisas estão relacionadas.
E é preciso dizer que Jorge Vianna é um membro secundário no PT, inclusive, um elemento da direita petista, com relações com latifundiários no Acre. E ademais, diferente de Vianna, Boulos é o garoto-propaganda do IREE. Ele estampa as capas dos jornais burgueses, propagandas na GloboNews e no Metrô de São Paulo.
Como fica claro, as relações de Dilma e de Warde são completamente diferentes. Mas mesmo que fossem iguais, isso não mudaria o teor político do que foi apresentado na reportagem, que Boulos continua se recusando a explicar.