Os acontecimentos envolvendo a manifestação do último dia 2 de outubro demonstraram, principalmente em São Paulo, o principal ato do país, que está em marcha uma operação de sequestro do movimento em favor da terceira via. Esta manobra, visível na presença acobertada pela esquerda frente-amplista de diversos membros da direita golpista, tornou-se a política de momento de todo um setor da esquerda pequeno-burguesa, sobretudo do PSOL e PCdoB, como também do principal setor da burguesia brasileira, expresso pelo jornal Folha de S.Paulo.
Na manifestação, ganhou grande notoriedade a forte rejeição por parte da base do movimento dos trabalhadores à presença da direita nas manifestações. Ciro Gomes foi vaiado e expulso à força do ato por militantes do PT e da CUT que, irritados com a presença do golpista, partiram para cima do mesmo e de toda sua corja. A ação expressa a revolta da classe trabalhadora contra a política da frente ampla, e pelo outro lado revela a intensa operação que vai do PSOL à Folha de S.Paulo, de ataques contra o PT e a CUT, assim como à candidatura do ex-presidente Lula.
Logo após a manifestação, as ditas “centrais” não cutistas, como as controladas pelo PSOL (Intersindical) e PCdoB (CTB), se uniram às “centrais” pelegas e publicaram uma carta assinada contra os militantes do PT e da CUT, em defesa de Ciro Gomes. Na carta, republicada pelo portal Vermelho do PCdoB, ficou claro que a política central dos defensores da frente ampla é defender a todo custo a direita nas manifestações, e centrar fogo no Partido dos Trabalhadores e na Central Única dos Trabalhadores, as duas principais organizações da esquerda brasileira.
Na carta, a defesa é em nome da unidade, a unidade com a direita golpista, a mesma – assim como Ciro Gomes – que desferiu o golpe contra Dilma Rousseff e organizou a prisão de Lula. Acompanhando esta campanha, o jornal “democrático” da burguesia golpista, a Folha de S.Paulo, minimizou o ocorrido tentando mostrar que Ciro, um dos nomes da frente ampla, não seria tão impopular como de fato comprova a realidade. Além disso, cedendo espaço ao jornalista Ricardo Melo, outro pseudo-esquerdista do jornal, garantiu novos ataques também à figura de Lula.
Segundo a matéria em questão, o fato de Lula não ter participado dos atos configuraria quase que uma traição aos trabalhadores. A crítica, que à primeira vista aparenta possuir um viés esquerdista, falando da derrubada de Dilma e da necessidade de não se aliar com setores da burguesia, logo revela seu caráter cínico, colocando Lula como um alguém desconectado do desejo do movimento pelo Fora Bolsonaro (mesmo que 78% dos manifestantes fossem lulistas), e também saindo em defesa de Ciro Gomes, o qual o articulista afirma ter sido atacado pelos “skinheads do Partido da Causa Operária” ─ uma calúnia extremamente baixa.
Ainda na matéria da Folha, o problema central torna-se atacar Lula e defender a “unidade” com os golpistas. Fica assim visível que toda a “unidade” proposta é na realidade da esquerda pequeno-burguesa como PSOL e PCdoB, com a direita golpista contra o PT, contra a CUT, e ainda mais contra a candidatura de Lula. Em defesa da terceira via, isto é, da vitória da direita golpista ─ representada principalmente por Doria e o PSDB ─ nas eleições de 2022, sendo a única possibilidade de a burguesia tentar derrotar Bolsonaro.





