Sem que tenham qualquer preocupação de resolver a situação da população diante de mais de 400 mil mortes (sendo 200 mil entre 07 de janeiro a 29 de abril de 2021), nas quais o governo Federal, governos estaduais e municipais, bem como o congresso e o judiciário estão todos estão envolvidos, na última terça-feira (27) foi instaurada a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19, cujo principal objetivo não é nada mais do que o desgaste de Bolsonaro visando as eleições de 2022.
Às vésperas das eleições gerais no país, o que está previsto para ocorrer em 2022, o bloco do centro – diga-se, a direita – está utilizando sua grande e última cartada fundamental para esvaziar a candidatura de Bolsonaro, ou seja, um verdadeiro palanque contra o presidente fascista, para lançar outro candidato da política neoliberal. Os mesmos que deram o golpe contra Dilma Rousseff e a derrubaram através do impeachment, que prenderam por 580 dias o ex-presidente Lula com o objetivo de tirá-lo das eleições de 2018, mas que na época, por não conseguirem emplacar outro candidato, em uma fraude escancarada, colocaram o próprio Bolsonaro.
Onde se quer chegar
Conforme disse no programa Café da Manhã do DCM de ontem (29) o companheiro Rui Costa Pimenta, a CPI não quer derrubar Bolsonaro, não vai resolver o problema da pandemia no Brasil. O que estão fazendo é um palanque eleitoral. Desta forma, dezenas e até centenas de milhares vão continuar morrendo, porque as instituições públicas não tomam nenhuma atitude.
No ponto de vista da esquerda, não deixa de ter um aspecto positivo. A expectativa é de que a sujeira escape por todos os lados, não só do lado de Bolsonaro. Não há como não iluminar esses acontecimentos. Bolsonaro deve reagir e já está reagindo.
Não será como no processo que derrubou Dilma Rousseff, quando o PT ficou pasmo, apanhando e olhando. Bolsonaro vai reagir bastante e vai espirrar sujeira de tudo quanto é lado, mais ainda para o lado de Bolsonaro, sem dúvida nenhuma, mas pela configuração da CPI, inclusive o nome da Comissão Parlamentar de Inquérito deveria se chamar: “A CPI para encontrar um candidato para o grande capital e o imperialismo para 2022″.
Qual o caminho para a esquerda
A esquerda teria que ter uma política mais esclarecida em relação à CPI, não entrar como ator coadjuvante do bloco da direita, mas não há uma expectativa disso. A esquerda vai entrar sim como ator coadjuvante, como um segundo violino, como alguém que vai jogar a favor da criação de um candidato que seria anti-Lula.
O problema é que Bolsonaro tem um núcleo de apoiadores fundamental, que a direita tradicional não vai conseguir quebrar, que está no aparato repressivo, a polícia militar, forças armadas, evangélicos, etc.. Esse setor consegue polarizar um segmento de classe média, que é fundamental para a eleição no Brasil.
No entanto, eles pretendem erodir, fazer entrar em colapso esse setor de classe média, abrindo caminho para outro candidato direitista qualquer. Um dos “cavaleiros do apocalipse” do tipo de Mandetta, Eduardo Leite, Doria, Huck, Ciro Gomes, etc.. Se eles conseguirem quebrar a vinculação do núcleo duro do bolsonarismo com os setores de classe média e isolar Bolsonaro, quer dizer, reduzindo-o a um eleitorado pequeno… 15%, 20%, eles teriam condições de lançar um candidato anti-Lula que iria para o segundo turno contra Lula. Toda operação política consiste nisso.
Não se pode acreditar que um Renan Calheiros, um cangaceiro do congresso nacional, líder de Fernando Collor de Mello – quando foi presidente da República de 90 a 92 quando sofreu o impeachment no congresso – vai trabalhar agora em função da esquerda e da democracia, seria uma ingenuidade total. Eles estão com seus próprios jogos.
Mostrar para que veio
É preciso utilizar a CPI para denunciar tamanha manobra. Até porque essa mesma direita que comanda a CPI é, ela mesma, responsável junto com Bolsonaro pela situação de desastre que o país vive. A esquerda, ao invés de apoiar acriticamente essa CPI, deveria – já que dela participa – utilizá-la para denunciar e desmascarar toda a direita de conjunto.
É preciso entender que a CPI é uma arma da burguesia e que a esquerda, endossando integralmente as manobras que virão, estará fortalecendo a direita golpista e sua campanha eleitoral antecipada. Caso deem certo os planos da burguesia, de ganhar força eleitoral ao mesmo tempo em que mina as forças de Bolsonaro, a esquerda estaria, portanto, corroborando a manobra eleitoral da direita, que seria sua principal inimiga nas eleições.
Participando da CPI, a esquerda deveria utilizá-la a seu favor, explicando à população que essa comissão, em si, não é uma solução para o desastre da pandemia e procurando desmascarar não só Bolsonaro, mas também seus ditos “opositores” da direita.