A crise no governo Bolsonaro já não é mais novidade. De acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (ou seja, em números oficiais), a inflação do país em 1 ano atingiu 8,06%. Arroz, carne, gasolina, gás de cozinha — tudo está aumentando em uma velocidade altíssima e a conta de energia elétrica não está fora desta tendência.
A energia elétrica foi o item de maior peso na última lista publicada sobre a inflação no país, tendo tido um aumento de 5,37%. Em conjunto a isso, a partir deste mês as contas de luz irão adotar a bandeira tarifária vermelha de patamar 2, que aumenta R$ 6,243 a cada 100 kWh (Quilowatt-hora) consumidos e representa o nível de cobrança máxima aos consumidores. O diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), André Pepitone, ainda afirma que o valor do patamar 2 será rediscutido e a tarifa extra deverá aumentar em torno de 20%, passando dos 7 reais — um verdadeiro roubo da população.
A tarifa já havia sido aumentada em maio, quando foi anunciado a utilização da bandeira tarifária vermelha de patamar 1, que adiciona R$ 4,169 a cada 100 kWh consumidos durante o mês. A justificativa mais usada para explicar o aumento constante é a crise hídrica no país: o período de seca pelo qual passa a América Latina devido ao aquecimento global, ao desmatamento na Amazônia e ao fenômeno climático La Niña. Isso faz com que as usinas termelétricas sejam utilizadas com maior frequência e, por serem mais caras, o preço adicional pesa no bolso da população.
O resultado de toda essa política é que, entre crise, inflação e taxas adicionais, a conta de luz pode aumentar entre 7% e 7,5% ainda este ano, com um adicional de pelo menos mais 5% em 2022.
Existe no momento o projeto de uma Medida Provisória que viabiliza uma situação de racionamento de energia, incluindo a possibilidade de criação de um comitê de crise que poderá estabelecer medidas como um limite de consumo de energia e a contratação emergencial de termelétricas. O grupo ainda poderá aplicar tais medidas sem o aval de outros órgãos ou de Estados e municípios — apesar de todos estes fatores, o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, nega a necessidade de racionamento e descarta a possibilidade de um apagão.
A última vez que a política de racionamento de energia foi implantada foi entre 1° de julho de 2001 e 19 de fevereiro de 2002, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso. Com o objetivo de prevenir um apagão (que mesmo assim acabou acontecendo), o governo carniceiro do PSDB estabeleceu que aqueles que não cumprissem o limite estabelecido deveriam pagar um valor adicional na conta de luz que poderia chegar a 200% do valor inicial, podendo inclusive ter sua energia elétrica cortada.
Era necessário que desta experiência tivessem sido retiradas soluções para o problema da crise hídrica, afinal, a cada ano que se passa, esta parece ser um problema mais recorrente, seja em escala regional ou nacional. Em vez disso, é sabido que o governo FHC foi um recordista na questão das privatizações, política continuada pelo governo Temer e, no momento, pelo governo Bolsonaro. O sucateamento das empresas estatais pode ser observado em todos esses períodos, resultando na piora das condições de vida da população, que precisa aturar todo o tipo de política para encher os bolsos dos capitalistas.
O fato é que não existe perspectiva de diminuição da conta de luz. A tendência, independentemente da causa do problema, é de aumento constante. A política neoliberal de Bolsonaro e sua equipe e a destruição das empresas estatais — inclusive da Eletrobras, cada vez mais próxima de ser privatizada — indicam que os trabalhadores brasileiros irão sentir o peso da crise em suas cabeças de modo cada vez mais esmagador, tudo isso em conjunto com as altas taxas de desemprego, os baixos salários e pandemia do coronavírus. Para seguir a justificativa do governo e da imprensa burguesa, não existe perspectiva para um período de chuvas, dando a certeza de que, de um jeito ou de outro, a conta da energia elétrica irá aumentar.
Todos os problemas relacionados à crise hídrica poderiam ter sido contornados caso os desmontes não fossem efetivados. A destruição de empresas estatais e sua privatização resultaram no sucateamento das empresas, que não funcionam mais pelo bem da população, mas sim trabalham apenas para o lucro capitalista. Assim, todo aumento, seja por crise ou parasitismo capitalista, é jogado nas costas do trabalhador.
O aumento da conta de energia elétrica, assim como o de vários outros produtos e serviços, está relacionado à política neoliberal implantada desde o golpe de Estado de 2016 e que vem sendo levada atualmente por Bolsonaro e sua equipe. É preciso organizar uma grande mobilização da população contra o governo Bolsonaro, contra as privatizações e contra todos os ataques da burguesia aos trabalhadores.





