Desde cedo exportando seus futuros jogadores, as seleções de países mais pobres podem estar na iminência de perder sua importância.
O regime capitalista se insere em todos os setores da economia, da cultura e do esporte. Desde o início dos anos 80, com a ampliação do neoliberalismo no mundo, o futebol vem sendo seguidamente privatizado e valorizando mais o capital do que a própria arte. Ou seja, vencem os torneios, copas e campeonatos, lucram-se nesses eventos, aqueles que têm maiores condições financeiras. Os mais ricos vencem até os mais talentosos no futebol, bastam ter condições financeiras e influência com os grandes órgãos do esporte, os quais procurarão de todas as formas manipular e conduzir para que esses grandes capitalistas saiam vitoriosos.
Os magnatas do esporte, protegidos pela Federação Internacional de Futebol (FIFA), estão privatizando o esporte mais popular do planeta ao praticamente expulsar o povo das arquibancadas com os estratosféricos preços dos ingressos. Depois da expulsão do povo da arena, da privatização dos estádios, as seleções nacionais, que deveriam usufruir de seus talentos nativos, poderão ser as próximas vítimas dessa investida capitalista no esporte, que gera bilhões de lucros para os grandes empresários.
As seleções não conseguirão ser prioridade para os jogadores vendidos desde muito cedo para os grandes clubes dos países capitalistas. O caso recente de Lewandowski, que sofreu uma lesão quando defendia sua pátria, a Polônia, deixará o clube alemão Bayern de Munique sem o craque na disputa contra o Paris Saint-Germain nas quartas de final da Champions League. O Bayern foi o campeão da temporada passada da liga, arrecadando 76 milhões de euros. Ao chegar esse ano nessa fase da liga, arrecadou 45 milhões. Se não chegar às semifinais deixará de receber 31 milhões. Diante desse risco financeiro ao ceder um jogador para sua seleção, a tendência desses grandes clubes capitalistas será não mais ceder esses jogadores quando estiverem na iminência de grandes jogos decisivos. As convocações obrigatórias podem acabar. A FIFA, que poderia ajudar a resolver esse problema, não elabora um calendário que possa beneficiar os clubes e seleções, mas na queda de braço ficará com os grandes clubes.
A economia e exclusividade capitalista farão com que grandes talentos fiquem sem defender seu país no esporte. Poderão ser craques apenas dos clubes, sem defender sua seleção de origem. A FIFA permitia até 1962 que jogadores pudessem defender seleções onde residiam. A regra voltou em 2004. A globalização do futebol está criando esse fenômeno chamado “meninos sem pátria”. Muito comum sobretudo nos países mais pobres, que exportam muito cedo sua matéria prima (o jogador), os atletas acabam defendendo a pátria onde estão jogando, perdendo a oportunidade de um dia fazer felizes seus conterrâneos.
Meninos sem pátria, já temos os exemplos de Cicinho, lateral com passagens na Ponte Preta e no Santos, hoje defendendo a Bulgária; Emerson Palmieri e Rafael Tolói, defendo a Itália, e Mário Fernandes, ex-Grêmio, defendendo a Rússia. Muitos deles podem participar de uma Copa defendendo outros países.
Se essa nova onda do regime capitalista continuar, perder a oportunidade de ver grandes craques nas seleções dos seus países de origem se tornará corriqueiro. Desta forma, os países pobres, como o Brasil, serão eternos exportadores de matéria prima também no futebol, exportando muito cedo crianças que perderão em longo prazo os costumes e a paixão pela sua nação. Além desta perda, adiante a uma outra: a privatização dos clubes tradicionais, celeiros de craques, que em crise financeira, e sem apoio do poder público, poderão entregar anos de trabalho e patrimônio a esses grandes capitalistas do futebol. O futebol arte dos países mais pobres, como o Brasil, pode estar na iminência de tornar-se apenas uma lembrança.





