Na noite de domingo, me deparei com a seguinte matéria do jornal golpista O Globo: “Covid-19 já matou mais pessoas neste ano no Brasil do que no ano passado inteiro”. O título me assustou de início. Resolvi ler a matéria. O dado é esse mesmo: em 113 dias deste ano foram registrados 195.949 mortes por Covid-19, ultrapassamos os 194.976 de 2021. Me lembrei das promessas feitas no início da pandemia; tudo estará acabado até setembro de 2020. Aos poucos esse prazo foi sendo estendido até que, no meio do segundo semestre, todos já estavam descontentes de que isso tudo acabaria antes do ano terminar. Quando 2021 começou, todos entenderam que não temos prazo para sair dessa, muito menos quando se mora no Brasil.
Em 2020, a “campanha” contra a pandemia foi lentamente regredindo ao passo que ficava cada vez mais óbvio que a burguesia não moveria uma palha para mudar a situação. O “fique em casa” agressivo da pequena-burguesia, que, babando de raiva, pulava no pescoço de qualquer um que “descumprisse” o sagrado mandamento, evoluiu para “use máscara” depois que ficou evidente que poucos brasileiros poderiam trabalhar de casa. O pedreiro infelizmente não pode fazer home office e muito menos o ambulante. Para ser mais preciso, apenas 10% dos brasileiros trabalham de casa. Dos brasileiros que têm apenas ensino médio, ou ensino médio incompleto (a esmagadora maioria da população), 0,9% pode, de fato, trabalhar de casa, segundo uma matéria do UOL/Folha de S. Paulo. A coisa foi tão patética que sequer houve paralisação dos serviços não essenciais de maneira organizada no Brasil. Alguns lockdowns foram feitos, mas sempre em bateladas, e claro! aqueles que não puderam ficar em casa contaram com os míseros 600 reais que vieram em 3 parcelas. R$1200 para aguentar 13 meses de pandemia….
Nosso partido afirmou desde o início: “ficar em casa” é para quem pode. Era preciso, e ainda é, um plano organizado de emergência para conter a COVID-19. Hospitais de campanha, vacinas, produção de equipamentos hospitalares, mobilização de todos os profissionais de saúde, liberação dos presos e por aí vai. Mas quem garantiria que o governo faria tudo isso, o mesmo governo que quer vender todos os recursos do Brasil e economizar até o último centavo para ter certeza que os banqueiros não passarão fome? O povo, é claro, a única entidade capaz de pressionar a burguesia a agir contra a própria vontade. Mas como mobilizar o povo contra a burguesia? Quem está apto a realizar tão nobre tarefa? Bem… a resposta deveria ser : os sindicatos, partidos de esquerda, organizações de bairro, movimento estudantil, etc. etc. etc.. O leitor que se esforçar muito terá dificuldade de achar uma única iniciativa da esquerda para mobilizar o povo — eleições à parte.
A esquerda durante esses três meses limitou-se a repetir o mantra “fique em casa” sem explicar como o trabalhador realizaria tal façanha. Para pedir para que o trabalhador fique em casa é preciso garantir a ele que ele receberá seu salário, do contrário ele ficará eternamente em casa, pois vai morrer de fome em sua moradia apenas maior que um caixão.
Bom o resultado nós o temos diante dos nossos olhos. Quase 400 mil mortes mais tarde — em número severamente subnotificados — estamos sem perspectiva de sair dessa fossa.
Se a esquerda tivesse saído às ruas, paralisado as fábricas, ocupado as prefeituras e os palácios dos governadores. Se tivesse saído de casa para obrigar a burguesia a tomar as providências cabíveis, ou para tomar a situação em mãos, eliminando de vez essa classe parasita e genocida, a situação estaria bem diferente. Países com menos recursos que o Brasil, Cuba, Venezuela e Vietnã, tiveram um número de mortes muito inferior ao nosso, respectivamente 591, 2047 e 35. A situação brasileiro é de responsabilidade da burguesia que não quis gastar recursos com a população, e a esquerda ficou sentada esperando os trabalhadores morrerem ao milhares.
Ainda é possível fazer alguma coisa, o 1º de maio está logo ali, é uma excelente oportunidade para mobilizar os trabalhadores para enfrentar a burguesia genocida. 400 mil pessoas mortas provaram que esperar a pandemia passar não vai resolver. Devemos sair às ruas imediatamente ou mais 400 mil mortes estão pela frente.