Na última semana, surgiu um conflito muito interessante entre Bolsonaro e a burguesia dita “científica”. Bolsonaro, por um conflito interno de seu governo, tirou o agente direto das petroleiras que estava na Petrobras e colocou um militar por causa do problema do preço do Diesel. Quem estava lá, que havia sido colocado pelo próprio Bolsonaro, era um homem do mercado financeiro, que queria que a população pagasse pela crise. Bolsonaro não gostou porque isso vai de encontro com sua política eleitoral, e a imprensa não gostou, porque o mercado reagiu mal.
Trata-se de um conflito de interesses bastante normal em um governo improvisado como o governo Bolsonaro. Como Bolsonaro não é um agente direto do imperialismo, um homem de confiança dos monopólios internacionais, seu único poder de barganha no interior do regime é a sua base social. E para manter a sua base, Bolsonaro precisa entrar em conflito com a orientação do imperialismo. Aumentar o preço do Diesel é uma política profundamente impopular. Inclusive, os caminhoneiros, que são fortemente atingidos por esse tipo de política, colocaram o governo Temer na beira do abismo em 2018.
Essa contradição no interior do governo, entre a obrigação de Bolsonaro de aplicar a política neoliberal, mas por outro, ter preocupações com sua base de apoio e eleitoral, ficou ainda mais evidente nos últimos dias. O golpista João Doria (PSDB), ecoando o Jornal Nacional e toda a imprensa capitalista, não tardou em criticar o presidente golpista: “um intervencionismo desnecessário e condenável na Petrobras”. E o motivo da crítica é claro: Doria quer que a Petrobras fique nas mãos dos especuladores:
“Queda na credibilidade ainda maior do Brasil, porque diz respeito ao princípio básico que é seguir o mercado. Que as empresas cotadas em mercado sigam regras de mercado, e não regras populistas ou regras de interesse eleitoral ou de ordem política. Lamento muito que o presidente Bolsonaro mais uma vez tenha confrontado o discurso que o elegeu com a prática que ele se mantém no poder”.
O caso bizarro apenas demonstra que a burguesia “científica”, apresentada pela esquerda como a salvação contra o fascismo, se orgulha de ser mais direitista que Bolsonaro. O PSDB e toda a imprensa falam, em alto e bom som: “Bolsonaro destruiu o País foi pouco”! Neste sentido, a defesa da direita nacional contra o bolsonarismo é, na verdade, a defesa do programa do imperialismo para os países atrasados. Uma barbaridade com a qual a esquerda não pode compactuar
Diante disso, fica ainda mais claro que é preciso ter uma uma política independente. Em oposição ao apoio da esquerda aos privatistas e inimigos do povo, é preciso mobilizar os trabalhadores para derrubar o governo com as próprias mãos e defender os direitos políticos do ex-presidente Lula.