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Perda para a cultura popular

Carnaval de Brasília perde Joka Pavaroti

“Nada melhor do que fazer nosso discurso na contramão”, colocava o cantor

Na última 6ª feira, dia 4 de junho, morreu em Brasília o cantor e compositor José Antônio Filho, conhecido como Joka Pavarotti, um dos fundadores do bloco carnavalesco Pacotão. O músico não resistiu a uma cirurgia para retirar um câncer no intestino, e faleceu aos 70 anos de idade.

O bloco, inaugurado em 1978, período da ditadura militar, se encaminhava de modo a ser sempre crítico aos governos através de suas letras, mas também a contornar a repressão do período enquanto questionando-o na medida em que se fizesse possível. Em entrevistas passadas, em 2020 e 2014, Pavarotti chegou a dizer que o objetivo do bloco era “fustigar os poderosos”. “Nada melhor do que fazer nosso discurso na contramão” colocou o cantor, além de colocar como meta do bloco combater o racismo e a homofobia através da conscientização.

O Pacotão é composto por jornalistas e aberto também a todas as pessoas que queiram participar. Em 2020, último carnaval ocorrido no país, a organização do bloco colocou que teria todos os tipos de foliões, que não é um bloco elitista, e que, portanto, seria “sem explicação”, “qualquer coisa”.

Os conhecidos, amigos e colegas de bloco, lamentaram a perda, e Joka como sendo uma pessoa alegre seja durante o trabalho ou a contestação política, com suas piadas e músicas: “Sempre brincalhão. A mesma coisa que era no bloco era com os amigos.”

O carnaval, como importante forma de manifestação popular e espírito de irreverência, perde mais uma figura em meio a ataques por parte dos governos em vários níveis: federal, estadual e municipal. A principal festa popular do país, pela grande concentração de pessoas nas ruas Brasil adentro, coloca sempre uma possibilidade e uma efetiva manifestação e questionamento dos poderes instituídos, das instituições e da própria democracia burguesa.

A desqualificação, liberada pela própria tradição carnavalesca, de elementos de autoridade que oprimem o povo, é vista como ameaça por aqueles que buscam sempre pisar sobre a população trabalhadora. Ainda que em clima de festa, toda grande concentração popular é possível manifestação do poder do conjunto da população e, logo, ameaça à toda forma de exploração. Nesse sentido, a repressão ao carnaval, que se dá de diversas formas, desde o subfinanciamento, até a proibição de blocos e até as próprias forças da repressão sendo empregadas contra pessoas em momento de festividade, visam fazer retroceder a manifestação popular.

É importante colocar, o carnaval é necessariamente político, e tende a refletir o clima da sociedade. No último carnaval, em 2020, vimos ecoar o Fora Bolsonaro, mesmo que represado, até mesmo censurado, por todas as direções da esquerda pequeno-burguesa. É isso que é considerado inaceitável pela burguesia, a manifestação livre dos desejos e anseios da população é uma ameaça real, ainda que para muitos pareça inócua durante o carnaval. Para evitar essa potência a direita busca atacá-lo, e é por isso que cabe ao conjunto da esquerda defendê-lo.

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