Na última terça-feira (16), logo após se apresentar como o mais novo pré-candidato à presidência pela terceira via, o ex-juiz da operação Lava Jato, Sergio Moro, concedeu uma entrevista no programa Conversa com Bial, falando sobre sua filiação ao Podemos, seu “programa” de governo e sua posição como “alternativa” aos “extremos” nas eleições de 2022.
O novo nome da terceira via
Em uma entrevista que visava fazer propaganda de sua pré-candidatura, o apresentador global buscou apresentar Moro, um dos mais conhecidos agentes do imperialismo no país, como um herói e um dos grandes “combatentes contra a corrupção”. A entrevista foi um novo episódio da campanha realizada pela burguesia desde que Moro anunciou sua filiação. Sendo capa da revista Veja, um dos mais importantes órgãos de imprensa do golpe e recebendo cada vez mais espaço nos programas televisivos, a burguesia oficialmente lança Moro para as eleições de 2022, declaradamente uma candidatura “anti-Lula”, muito mais que um opositor de Bolsonaro.
A aparição de Moro, não por coincidência, se dá em meio a uma grande crise instaurada no interior da terceira via. Após o fracasso de consolidar João Doria como uma figura “popular” e à esquerda de Bolsonaro, o principal partido da burguesia e do imperialismo no país se vê em uma profunda crise nas suas prévias eleitorais. No interior do PSDB, João Doria e Eduardo Leite disputam a vaga de candidato oficial do partido. A crise ganhou grandes proporções quando os aliados de Doria passaram a se recusar a participar de uma eleição com voto eletrônico, gerando todo um impasse na votação.
Não sendo capaz de controlar a crise mesmo no interior de seu principal partido, a burguesia brasileira decidiu lançar Sergio Moro, agora consolidado após a entrevista com Pedro Bial (o mesmo que lançou Eduardo Leite como o “candidato gay” do PSDB, e também divulgou a figura de Jones Manoel).
Moro, durante toda a entrevista, afirmou que está lançando um “projeto”, ou seja, independentemente se sua candidatura presencial será levada à frente ou não, ele será uma peça importante no jogo da burguesia, sobretudo contra a candidatura do ex-presidente Lula. Da mesma forma que Moro foi responsável, em uma das maiores operações do golpe de estado, por prender e impedir o ex-presidente de concorrer às eleições de 2018.
Um anti-Lula e aliado da extrema-direita
A todo momento durante a entrevista fez-se questão de enaltecer sua figura como ex-juiz, e uma liderança da extrema-direita. Além disso, Moro também deixou claro sua posição em apoio à política econômica levada a frente pelo golpe afirmando que seu “programa” vai “muito além do combate à corrupção”.
Moro também revelou que Affonso Celso Pastore é seu principal economista. Pastore, que é colunista do Estadão, foi presidente do Banco Central e um dos principais nomes do ramo no período da Ditadura Militar, entre 1983 e 1985. Tal fato deixa clara mais uma vez sua ampla aliança com diversas figuras da extrema-direta.
No mesmo sentido, a imprensa busca voltar a reabilitar sua imagem como um “justiceiro” contra a corrupção. Moro é diferente de Doria, que em toda sua campanha busca se colocar como “identitário” e fez sinalizações à esquerda, se portando com uma alternativa “democrática” a Lula e Bolsonaro. O ex-juiz na realidade se coloca muito mais à direita, como uma alternativa para os eleitores bolsonaristas enrustidos e para o imperialismo ─ de quem é funcionário. A aposta da burguesia é agora em uma candidatura abertamente anti-Lula e contra a esquerda, um “herói” da luta contra a corrupção e chefe da Lava Jato, que prendeu Lula e organizou uma das mais criminosas operações na história brasileira. Um criminoso de lesa-pátria.
Contudo, um dos principais problemas desta candidatura é justamente seu passado recente. Moro, antes aliado dos bolsonaristas, passou a ser tratado como traidor ao se demitir do cargo de ministro no governo Bolsonaro. O ex-juiz está assim queimado tanto com a esquerda como com um importante setor da direita. Dessa maneira, para sustentar seu nome, que foi lançado nas pesquisas como um voto do eleitor bolsonarista, seria preciso colocá-lo como o maior símbolo do antipetismo, um fantoche do imperialismo e um homem camuflado da extrema-direita nacional.
Burguesia lança a campanha: todos contra Lula
Assim, a possível candidatura de Moro como nome da terceira via comprova ainda mais que esta operação na realidade é um apêndice da via de Bolsonaro para impedir, custe o que custar, que Lula torne-se novamente presidente. Esta é uma manobra para impedir sua eleição, mesmo que o resultado final seja a própria eleição de Bolsonaro e não da terceira via.
Fica visível dessa forma o quão a reboque estão da burguesia e do próprio imperialismo todos os setores da esquerda pequeno-burguesa que até hoje se lançam na defesa da política da frente ampla. Estes setores já defenderam a frente ampla com Doria, FHC, todos nomes da chamada terceira via, agora Sérgio Moro, um dos maiores criminosos, um fantoche do imperialismo, aparece com a alternativa aos “extremos” assim como as demais figuras golpistas da burguesia brasileira.
Toda esta campanha ainda surge em um momento que a pressão contra Lula aumenta rapidamente. A imprensa já lançou a fofoca de que Alckmin seria o vice do candidato petista, o que na realidade corresponde um ataque à sua candidatura. É perceptível que, com Moro nas eleições, a campanha de que “Lula é corrupto” e “criminoso”, já feita diversas vezes pela imprensa golpista, será o tom do próximo período, podendo até mesmo servir de base para a volta dos processos contra o ex-presidente e a total perseguição política que o levou preso ainda em 2018.