Não existe civilização sem um ideal superior que a defina e singularize. O ideal de País do Futuro, elaborado pelo renomado escritor austríaco Stefan Zweig em seu livro “Brasil, País do Futuro” (1941), no contexto da Era Vargas, foi o mote da construção da Civilização Brasileira ao longo do século XX. Até os anos 2000, era comum referirmo-nos dessa forma a nós mesmos, porém, ultimamente, essa ideia está cada vez mais esquecida, e, quando lembrada, quase sempre é de forma cínica e autodepreciativa. As crises e dificuldades do presente sempre são usadas de munição para abater esse sentimento, ignorando-se o seu real significado.
Com efeito, quando se diz que o Brasil é o país do futuro, propõe-se que o Brasil, em razão da sua natureza e das suas dimensões superlativas, deva pensar-se, projetar-se, sonhar-se e querer-se no longo prazo. A tarefa mastodôntica de construir uma Nação do nosso porte, de abrir os gigantescos portais do futuro que nos aguarda, exige uma vontade contundente, iluminada por uma direção coerente e sistematizada em uma organização consistente. Ou seja, exige o planejamento, o contrário do laissez-faire liberal. Tal empreitada não pode ser concluída no período de alguns anos ou mesmo décadas, pois o tamanho dos nossos desafios e oportunidades – e não existe desafio sem oportunidade, tampouco oportunidade sem desafio – nos impele ao longo prazo. Mesmo países muito menores, como Inglaterra e Alemanha, apenas realizaram a plenitude de suas potencialidades após séculos de políticas nacionalistas e desenvolvimentistas. O Brasil, país gigante por sua própria natureza, está, assim, vocacionado para a grandeza, e, portanto, para o futuro, pois tanta grandeza não é passível de ser equacionada em pouco tempo.
Para fazer jus à sua própria essência superlativa, o Brasil deve, então, ajustar-se cognitiva, institucional e politicamente à escala que nos é intrínseca. O Brasil, país faraônico, não tem opção fora da grandeza. Tudo nosso deve ser faraônico: nossas ambições, nossos projetos, nosso Estado, nossa economia, nossos valores, nossos empreendimentos. O Brasil ou será faraônico ou não será nada. Mas, para quem é tudo, o nada não é uma possibilidade. O Brasil é e será faraônico, e como tal, capaz de alçar-se ao plano universal, irradiando novas e melhores formas de conceber o ser humano, a sociedade e a eternidade.
Não há, portanto, motivo para o pessimismo. Os pessimistas, ao se conformarem com o pior e optarem pelo imobilismo estéril, eximem-se de atuação e protagonismo históricos, renunciando indevidamente à sua própria existência social. Os problemas pelos quais o Brasil passa são etapas necessárias para o amadurecimento coletivo, pois não há uma grande missão sem quaisquer dificuldades. O Brasil tem todas as condições para dar a volta por cima e sair ainda maior e melhor do que antes, pronto para uma arrancada rumo ao infinito. Naturalmente, isso não se dará sem contrariar poderosos interesses contrários à nossa grandeza, que, na atual quadra histórica, encontram-se no comando do país. Mas, por definição, o maior prevalece sobre o menor, e o egoísmo, a ganância e a mesquinharia das elites apátridas e especuladoras tendem a ser varridos pela força das circunstâncias. Num país cuja realidade é ser um continente habitado por mais de 212 milhões de habitantes e entremeado por dinâmicas materiais e sociais muito concretas e intensas, a pequenez dos “faria limers”, cuja visão não vai além do próprio sapatênis, não tem condição de vingar. Querer impor o privatismo e o entreguismo ao Brasil é como querer vestir um elefante com um baby-doll.
O Brasil, para infelicidade dos apátridas e dos pessimistas, está predestinado à grandeza. Nenhum outro país no mundo reúne tantas possibilidades e potencialidades quanto o Brasil, país que, por mais que tenha feito em mais de 500 anos, ainda tem tudo por fazer – basta sairmos alguns quilômetros dos centros metropolitanos para nos apercebermos disso. O Brasil está grávido de futuro, enquanto o Atlântico Norte, saturado de passado, nada tem a informar sobre o porvir, razão pela qual mergulha cada vez mais no caos e no irracionalismo. A crescente multipolaridade, que pulveriza o centro mundial em vários centros regionais, abre espaços inéditos para a movimentação soberana de países como o Brasil, privilegiado por ser a maior, mais rica e mais fértil das atuais potências. O futuro nos pertence. Somos o país do futuro.
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