Em medida desesperada e demagógica, por meio do decreto 20.331 de 23 de março de 2021, o governador da Bahia, Rui Costa (PT), determinou a suspensão do serviço de transporte coletivo intermunicipal durante a semana santa, com início na quinta-feira (01/04) até terça-feira (06/04), às 5h. O serviço de ferro bote também será suspenso de sexta-feira (02/04) até segunda-feira (05/04).
O decreto, que pode ser acessado na íntegra aqui, limita a suspensão apenas para o transporte coletivo intermunicipal rodoviário e hidroviário, sejam públicos ou privados. Ou seja, transportes que majoritariamente servem à classe trabalhadora. Nessas novas medidas desesperadas o governo não inclui o transporte privado (que segundo ele cabe à consciência de cada um não viajar em seus carros).
Em entrevista para um portal de notícias, o governador externou sua sincera preocupação com o combate à pandemia com frases mais que manjadas da política demagógica burguesa. Segundo ele “(…) Dificultar que as pessoas se aglomerem em viagens ao interior. Há desigualdade muito grande em número de casos e em algumas cidades as pessoas se aplicaram muito e conseguiram reduzir os casos. Já outras têm muito. Se a gente permitir que haja o transporte intermunicipal em um feriado prolongado que tem tradição de as pessoas viajarem, vai criar ambiente para o aumento de casos. A ideia é interromper para não impulsionar a circulação do vírus”.
E seguiu com mais essa pérola “Se deixarmos as pessoas circularem vai jogar fora o esforço que fizemos”. Afinal, qual seria todo o esforço que o governo estadual da Bahia teria feito para reduzir o número de contaminados e de mortos?
Segundo as estatísticas oficiais, até o dia 25 de março o estado da Bahia já contava com 88% de taxa de ocupação de UTI e 228 pessoas na fila de espera. No momento que essa matéria foi redigida (26/03), a última atualização do boletim divulgado pela Secretaria Estadual de Saúde (Sesab) data de quinta-feira (25/03), com registro de 4237 novos casos e 139 mortes nas 24h que antecederam esse boletim. E esse mesmo dia 25 foi o terceiro consecutivo com mais de 130 mortes.
E nada melhor que a realidade para mostrar a demagogia e truculência com que o governador Rui Costa trata a população da Bahia. O estado está desde o dia 26 de fevereiro sob Toque de recolher das 20h às 5h, prorrogado até o dia 5 de abril. Quais foram os efeitos práticos dessa medida repressiva e inócua? Resposta: o mês de março é o mês mais mortal da pandemia no estado da Bahia. Foram 2280 mortes registradas até o dia 25, ultrapassando o que foi registrado em agosto de 2020, quando pouco mais de 1900 pessoas vieram a óbito.
A única política que o governo tem a oferecer para a população é a repressão e proibição de direitos básicos. Se o trabalhador, sem alternativa para pôr em prática qualquer tipo de isolamento, expõe-se diariamente ao vírus nos ônibus lotados e no trabalho, porque seu direito ao lazer é cerceado? E para o setor que não vai parar de trabalhar ou, ainda, aproveita dos feriados para tentar ganhar alguns trocados, o abuso fica ainda mais evidente, pois a população termina sem o seu principal meio de transporte.
Num estado com 19,8% de índice de desemprego em 2020, o maior do país, as pessoas seguem circulando diariamente na busca de sua sobrevivência e não é a suspensão de transporte coletivo num feriado que pode conter a disseminação do vírus. Sem uma política de vacinação em massa, auxílio econômico, ampliação de leitos e assistência médica massiva à população, o estado pode chegar a ter mais de 3 mil mortos somente até o final do mês.