Em editorial de ontem (19), intitulado “Atentado contra a democracia”, o jornal reacionário O Estado de S.Paulo defende a tese de que aqueles que pedem o voto impresso nas eleições estariam atacando sua lisura e desrespeitando o voto e o regime democrático.
Denunciando a determinação do presidente da Câmara, Artur Lira, de criar uma comissão especial para discutir a PEC do voto impresso, o Estadão afirma: “a tentativa de dar ao voto impresso um caráter de prioridade nacional, como se a lisura das eleições estivesse em risco por causa das urnas eletrônicas, é um atentado contra a democracia”.
O presidente fascista Jair Bolsonaro, embora seja um político abjeto e antidemocrático, defende – por interesses próprios – a posição democrática do direito ao voto impresso. Esse é um dos muitos motivos pelos quais a burguesia tenta substituí-lo por alguém de maior confiança, da direita “civilizada”. Assim, o jornal chama Bolsonaro de “negacionista” também por defender o voto impresso.
Negacionismo, no entanto, é não reconhecer que o sistema eleitoral é facilmente fraudável através da urna eletrônica. A informática simplesmente não permite esse tipo de controle do voto secreto e uno pela urna eletrônica que a burguesia tanto propaga. A urna eletrônica por si só questiona a tão sagrada lisura do sistema eleitoral brasileiro.
Tanto é assim que, no mundo inteiro, apenas 15 países (incluindo o Brasil) utilizam urna eletrônica em suas eleições, segundo reportagem de 2020 da AFP. E, de acordo com um especialista entrevistado pela agência de notícias, somente o Brasil e alguns locais dos EUA, França e Namíbia rejeitam o comprovante em papel.
O voto impresso dificulta a fraude eleitoral. Os eleitores precisam de garantias de que o processo é justo, e o papel é a única forma de assegurar uma verdadeira lisura nas eleições.
Negacionismo é afirmar que a urna eletrônica é inviolável. Os serviços eletrônicos, até hoje, não encontraram um meio para não serem invadidos de algum modo. Tanto é assim que o serviço de inteligência alemão já levantou a hipótese de voltar a utilizar a máquina de escrever ao invés de computadores para impedir a espionagem norte-americana. Os alemães, assim como todos nós, sabem que os Estados Unidos são os mestres da espionagem mundial – espionam todo o mundo. E também dos golpes e fraudes eleitorais: é para facilitar a manipulação do imperialismo, a fim de eleger seus candidatos de confiança, que se impôs ao Brasil a urna eletrônica.
Ademais, a utilização da urna eletrônica também viola o voto secreto, uma vez que é extremamente fácil cruzar os dados do eleitor no momento em que se inscreve para votar com a sequência de votos depositados na urna.
Nos últimos anos, temos visto uma série de arbitrariedades por parte do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para suprimir o direito ao voto. Desde a implementação da biometria até o cancelamento de milhões de títulos de eleitor, passando pela anulação da obrigatoriedade da impressão do voto prevista pela reforma eleitoral de 2015.
A ditadura golpista, da qual tanto o judiciário como a imprensa são pilares de sustentação, busca dificultar até finalmente proibir o direito ao voto dos cidadãos. Daí todas as novas regras e os antigos ataques à ideia do voto impresso.
Ao invés disso, para que haja um sistema minimamente digno de se reivindicar democrático, o direito ao voto deveria ser total e irrestrito. Ou seja, votar deveria ser um ato o mais simples possível. Com qualquer documento, em qualquer local, no momento em que quiser durante as eleições, o eleitor deveria poder exercer o seu direito ao voto, um dos mais básicos e fundamentais de qualquer regime democrático.