Quem conhece o movimento sindical sabe como são os pelegos. Sem pressionados entre os patrões e os trabalhadores, eles se mantêm tranquilos quando não há movimento real, quando a categoria não está mobilizada. Assim, eles podem, tranquilamente, continuar participando das reuniões nos escritórios refrescados pelo ar-condicionado, assinar acordos patronais e mesmo assim se manter na diretoria do sindicato. E mais importante, com a bajulação dos patrões, podem manter a pose de que são superiores ao resto dos trabalhadores.
Tudo muda quando começa a haver alguma mobilização. Os acordos ficam mais complicados, a cobrança dos trabalhadores aumentam e dependendo do desenvolvimento da coisa, a posição de sindicalista se torna até arriscada. Muitos sucumbem à pressão, perdem a compostura, hostilizam os trabalhadores, não sabem o que fazer, e acabam até saindo de cena.
A tarefa é um pouco mais fácil quando o sindicato é excessivamente burocrático. A burocracia é uma maneira dos sindicalistas pelegos se protegerem da fúria dos trabalhadores, que eles consideram uma verdadeira ralé. Mas não há burocracia no mundo que seja totalmente à prova de uma grande mobilização.
Foi o que aconteceu com o vice-presidente da CTB, Ubiraci Dantas, o Bira. Alistado para falar em nome da organização no ato do dia 2 em São Paulo e defender a frente ampla e a unidade com os golpistas, Bira foi vaiado pelo povo quando começou a ovacionar a presença dos golpistas.
Bira é pelego antigo. Está mais acostumado com as benesses da burocracia do que com o movimento operário, coisa que ele provavelmente não vê há décadas. E aconteceu o que acontece sempre com o pelego quando é pego de surpresa por uma mobilização: Bira perdeu a compostura.
Não sabendo o que falar para defender que os canalhas golpistas deveriam estar no ato, começou a dizer que todo mundo ali era “pequeno-burguês”, o que fez com que as vaias só se intensificassem.
Aí foi só desespero, só restou terminar a fala soltando um belo “fora PCO”. Ele admitiu com isso que a maioria do ato era composta de filiados do PCO, afinal, a esmagadora maioria da manifestação, mesmo os milhares que não estavam vaiando os golpistas, não são a favor dos golpistas nos atos.
Logicamente que isso não é uma realidade. O PCO apenas tem a política da maioria do povo, o PCO apenas representa os interesses da mobilização. Mas para Bira é: “fora PCO, fica golpistas.” Difícil ser popular assim.
Fora dos escritórios fresquinhos dos patrões e das reuniões de cúpula, Bira se viu sozinho. O velho pelego deve estar frustrado por descobrir que ninguém quer saber de sua política direitista. Desaprendeu ou nunca soube o que é um movimento de verdade.