No começo de 2019, meses após tomar posse no governo federal, o presidente fascista Jair Bolsonaro (ex-PSL, sem partido) rompeu as relações diplomáticas com a Venezuela. Um documento elaborado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), intitulado “Brasil-Venezuela: evolução das relações bilaterais e implicações da crise venezuelana para a inserção regional brasileira, 1990-2021”, divulgado nesta sexta-feira (26), revela os impactos negativos dessa medida.
O texto alerta para os prejuízos econômicos que resultaram da ruptura das relações com a nação vizinha. Este país deve cerca de US$800 milhões por empréstimos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Nos próximos anos, a falta de pagamento pode alcançar a cifra de US$2 bilhões. A ruptura das relações coloca em suspensão os pagamentos, uma vez que não há relacionamento entre os dois governos. Por sua vez, o Brasil fechou suas embaixadas em Caracas.
O estado de Roraima, localizado numa região fronteiriça, foi particularmente afetado. O fim da importação da energia elétrica da Venezuela, em março de 2019, obrigou o estado a gastar cerca de US$ 275 milhões por ano para acionar as usinas termelétricas a diesel, sendo que elas são mais caras e poluentes. Antes do rompimento, Roraima gastava US$ 50 milhões anuais em importação de energia.
Chile, Equador e Uruguai têm governos que não manifestam simpatias pelo regime político chavista de Nicolás Maduro (PSUV). Entretanto, estas nações mantêm atividade diplomática, com consulados e embaixadas abertos em Caracas.
É importante destacar que um fator que aprofundou o desgaste e o rompimento das relações entre os dois países foi o reconhecimento de Juan Guaidó como presidente interino da Venezuela por parte do governo brasileiro. A política externa do Brasil se direciona ativamente à desestabilização do vizinho desde o golpe de Estado de 2016. O governo Bolsonaro forneceu apoio logístico a uma tentativa de invasão da Venezuela já no seu primeiro ano. Inclusive, cogitou-se uma invasão militar da Colômbia com apoio das forças armadas brasileiras.
O governo Bolsonaro é um capacho do imperialismo mundial, em particular dos Estados Unidos, na América do Sul. Houve denúncias de participação de autoridades brasileiras na organização e execução do golpe de Estado de 2019 na Bolívia.
O governo chavista é vítima de uma política de desestabilização através da imprensa capitalista, cerco diplomático e bloqueio econômico e comercial por parte do imperialismo. Em diversas ocasiões, o regime bolivariano teve de colocar o País – forças armadas bolivarianas, milícias populares e o conjunto do povo – de prontidão para uma possibilidade de invasão militar dos Estados Unidos. Provocações foram feitas nesse sentido, inclusive com a aproximação de forças navais americanas da costa venezuelana.
A questão central do imperialismo em relação à Venezuela é a tomada de suas reservas de petróleo. Os discursos do imperialismo e seus lacaios sobre a necessidade de “restabelecer a democracia” são uma fachada para esconder os verdadeiros interesses políticos e econômicos. A política de golpe de Estado, destinada a forçar uma mudança de regime, só pode ter como consequência a instauração de uma ditadura pró-imperialista contra o povo e a entrega das riquezas naturais, privatizações, retirada de direitos sociais e trabalhistas e destruição das conquistas dos governo bolivarianos.
É fundamental a mobilização das massas por um governo dos trabalhadores no Brasil, que coloque fim à política de desestabilização da Venezuela implementada pela direita golpista e continuada pelo bolsonarismo. A única política exterior que gere benefícios aos dois países é a integração política, econômica e cultural e a união em função da luta contra as ingerências do imperialismo e em defesa da soberania nacional.
O imperialismo tem de intensificar a ofensiva contra os países atrasados no contexto de crise capitalista. No caso em tela, a questão central é o petróleo. A Venezuela detém uma das maiores – senão a maior – reservas de petróleo do mundo. Isso lhe confere uma importância estratégica nas relações internacionais e na economia.
O golpe de Estado de 2016 e a fraude eleitoral de 2018 procuraram desmontar os mecanismos de integração política e econômica entre os dois países. Exemplos destes mecanismos foram a criação da União das Nações Sul-Americanas (Unasul) e da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC) pelos governos nacionalistas. O governo Bolsonaro rompeu com a política de defesa da soberania nacional e alinhou a política externa do País com os interesses do imperialismo norte-americano.