Polêmica

A quem serve a política de gado da esquerda sobre o voto impresso

Setores da esquerda como PSOL e PCdoB propagam ilusões na inviolabilidade e segurança das urnas eletrônicas. A política do gado de esquerda fortalece o bolsonarismo.

A esquerda pequeno-burguesa, particularmente o Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e o Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), se posiciona contra a aprovação do voto impresso no Congresso Nacional.

A discussão sobre o voto impresso é apontada como uma tentativa de golpe por parte do presidente fascista Jair Bolsonaro (ex-PSL, sem partido). As urnas são vendidas como seguras, invioláveis e garantidoras da lisura e transparência do processo eleitoral. O argumento de que não há indícios de fraude eleitoral através das urnas eletrônicas é repetido insistentemente. 

Em um vídeo publicado na plataforma Instagram,  a ex-deputada Manuela D’Ávila (PCdoB e Instituto E Se Fosse Você?) defende que a alegação de fraude nas urnas eletrônicas não passa de uma fake news, isto é, não tem base nos fatos. Na sua concepção, não há o que desconfiar em relação ao processo eleitoral, por ser informatizado “de ponta a ponta”. A Justiça Eleitoral – dominada pela direita golpista – teria realizado uma série de testes que garantiriam a segurança. Uma prova disso,  conforme Manuela, é que desde o ano 2000 a Polícia Federal e o Ministério Público jamais encontraram fraudes.

Guilherme Boulos (PSOL) se mantém na mesma linha política de Manuela. No programa Café com Boulos, transmitido em seu canal do Youtube, o político psolista considera que a discussão sobre o voto impresso é uma tentativa de golpe de Bolsonaro e a posição da esquerda deve ser fazer campanha pela rejeição do voto impresso. Tal como Manuela, Boulos afirma que o voto impresso é um passaporte para o passado, para a época do voto aberto e dos currais eleitorais da República Velha,

Os partidos tradicionais da burguesia (MDB, PSDB, MDB, PSD) também se posicionam contra a aprovação do Projeto de Emenda à Constituição (PEC) do voto impresso no Congresso Nacional. O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Roberto Barroso, se posiciona abertamente contra o  voto impresso e, assim como a esquerda pequeno-burguesa, alega que se trata do “retorno” das fraudes eleitorais. Se os partidos da burguesia golpista são declaradamente contra, seria preciso que a esquerda levantasse suspeitas sobre a natureza do sistema eleitoral.

Ao se posicionar contra o voto impresso e a contagem pública dos votos, a esquerda cumpre o papel de fortalecer o bolsonarismo. Bolsonaro se utiliza dessa recusa para afirmar que está sendo preparada uma fraude eleitoral contra ele, uma vez que Lula foi solto e teve seus direitos políticos restituídos, ao menos temporariamente. Bolsonaro busca levantar alegações sobre os motivos políticos de a esquerda cerrar fileiras contra um mecanismo adicional de fiscalização do voto. A impressão que fica é que efetivamente se está preparando uma fraude, o que abre caminho para que ele se apresente como uma vítima disso.

Logicamente que Bolsonaro não está preocupado com a democracia. Em virtude de contradições políticas e sociais, sua posição sobre o sistema eleitoral se choca com a posição tradicional da burguesia. Esta última tem todo o interesse em propagar as concepções de que o sistema eleitoral é democrático e moderno, as urnas eletrônicas são seguras e invioláveis e que não existe qualquer tipo de fraude nas eleições, que são a expressão legítima da vontade popular.  Os piores carrascos da população, que controlam o regime político, se utilizam desde argumentos para se apresentarem como “democraticamente eleitos pela vontade do povo”.

É óbvio que o sistema eleitoral é recheado de manipulações e fraudes, não somente nas urnas eletrônicas. A burguesia tem na democracia e no Estado Constitucional – que são uma ficção no Brasil – seu sistema mais aperfeiçoado de dominação política. O resultado das eleições, que mantém os partidos burgueses no controle do Estado há décadas, tem de aparecer como uma escolha livre do povo. Ou seja, segundo esta lógica, o povo é massacrado porque quer, pois do contrário escolheria melhor seus representantes. Se está ruim, a culpa recai exclusivamente no povo.

O interesse da burguesia em se opor ao voto impresso e à contagem pública dos votos é manter o controle sobre o sistema eleitoral, que corresponde à manutenção dos seus próprios interesses de classe.

É necessário destacar que ao se posicionar de maneira errada, a esquerda somente fortalece Bolsonaro.  Mais uma vez, a esquerda pequeno-burguesa fica a reboque da política da direita tradicional e propaga ilusões na democracia burguesa e seu sistema eleitoral, intrinsecamente fraudulento e em crise. O golpe de Estado de 2016 e a fraude eleitoral de 2018 são as experiências mais recentes que demonstram a ficção da democracia no Brasil. O voto popular, nestes dois episódios, foi abertamente usurpado em prol dos interesses da burguesia.

Os intelectuais da esquerda pequeno-burguesa, com sua habitual arrogância, costumam adjetivar a base social bolsonarista de gado. Contudo, ela age da mesma forma como um verdadeiro gado de esquerda ao se prestar ao papel de propagar ilusões no sistema eleitoral da burguesia e rejeitar medidas que possibilitem o reforço da fiscalização. Os partidos burgueses tradicionais, especialistas em fraudes eleitorais e manipulações políticas há décadas, devem agradecer os serviços prestados por Boulos e Manuela.

Não é muito difícil perceber que a política do gado de esquerda (a esquerda pequeno-burguesa) serve aos interesses da burguesia. Os partidos burgueses PSDB, MDB, DEM, PSDB, SD se unem ao Tribunal Superior Eleitoral e à esquerda pequeno-burguesa para defender o regime fraudulento e antidemocrático organizado contra os interesses populares.

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